São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2008

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Máquina partidária fecha com McCain

Mas delegados e eleitores republicanos se mostram mais radicais que seu candidato, mostra pesquisa

DO ENVIADO A ST. PAUL

Se a estrutura do Partido Republicano fizer alguma diferença até o dia da eleição presidencial dos EUA, em novembro, John McCain começa para valer a disputa pela Casa Branca com uma leve vantagem sobre o democrata Barack Obama.
Pesquisas encomendadas pelo jornal "The New York Times" e pela rede de TV CBS mostram 86% dos delegados republicanos aprovando a indicação de McCain. No caso de Obama, oficializado na semana passada, 82% declararam-se satisfeitos.
Para além dos números, entretanto, os republicanos mostram um grande poder de unificação em torno de McCain, que não enfrentou problemas como Obama. O democrata ainda luta para atrair simpatizantes de Hillary Clinton. Três de cada dez delegados democratas pró-Hillary dizem apoiar Obama apenas porque ele é candidato oficial, mas não o vêem ainda com muito entusiasmo.
Outro fato descoberto pelas pesquisas é que os republicanos se mostram, em geral, mais conservadores do que o seu candidato. Mas entendem ser necessário na atual conjuntura alguém com o perfil de John McCain para tentar manter a cadeira de presidente.
Por exemplo, embora McCain tenha sempre se declarado a favor de deixar a regulamentação de casamentos entre pessoas do mesmo sexo para os Estados, 43% dos delegados republicanos acham que esse tipo de união deve ser ilegal. Outros 38% aceitam apenas um tipo de união civil, mas não casamento. E só 9% se dizem favoráveis a casamentos gays.

Darwinismo político
Esse tipo de descompasso se repete em vários outros temas, de ambiente a aborto. Mas o relevante é que o apoio a McCain dentro da máquina republicana não é reduzido por causa dessas opiniões divergentes. Numa espécie de darwinismo político, os caciques do partido optaram pelo caminho que pode eventualmente render mais quatro anos de poder.
A pesquisa também ajuda a explicitar as diferenças clássicas entre republicanos e democratas. Enquanto 57% dos delegados do partido de McCain acreditam que a economia do país está em condição boa ou razoável, o percentual cai para 2% quando os entrevistados são os delegados democratas.
Quando o assunto é criar um sistema de saúde mais amplo em troca de um aumento de impostos, os delegados republicanos se opõem, com apenas 7% dizendo-se favoráveis a essa mudança. No caso dos democratas, o percentual é de 94%.
Esse tipo de resultado reduz um pouco a impressão de que republicanos e democratas sejam quase iguais, análise sempre propagada em parte da mídia durante períodos eleitorais. O que existe, de fato, é uma clara diferença entre os apoiadores desses dois partidos no nível dos delegados que comparecem às convenções nacionais.
O mito da similaridade entre as duas principais agremiações partidárias norte-americanos decorre da forma como é organizada a política no país. E também da dificuldade de um presidente, por força de vontade, fazer grandes alterações na estrutura nacional quando toma posse, não importando se é democrata ou republicano.
Para ficar no exemplo mais evidente, uma emenda constitucional nos EUA precisa de quórum qualificado (dois terços) dentro do Congresso para ser aprovada. Mas a dificuldade maior vem depois: pelo menos três quartos de todas as Assembléias Legislativas nos 50 Estados também precisam votar e ratificar o que deputados e senadores aprovaram. Não é por acaso que a Constituição dos EUA tem 221 anos de idade e apenas 27 emendas. Já a brasileira completa 20 anos no mês que vem e já sofreu 62 emendas nesse curto período. (FERNANDO RODRIGUES)


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