São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2008

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UE põe acordo com a Rússia na geladeira

Diálogo sobre renovação de tratado de cooperação só será retomado quando país cumprir todos os pontos de cessar-fogo

Decisão foi tomada em cúpula extraordinária do bloco; dependência de energia russa é obstáculo a sanções mais drásticas

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS

A União Européia decidiu ontem congelar o diálogo em torno de um novo tratado de cooperação com a Rússia até que Moscou retire suas tropas da Geórgia, mantidas desde os confrontos travados no mês passado. O anúncio foi feito na conclusão da reunião de emergência realizada em Bruxelas para discutir a crise no Cáucaso, na qual mais uma vez o bloco europeu mostrou divisões em matéria de política externa.
Na declaração final, os líderes europeus evitaram falar em sanções ou estabelecer prazos para que a Rússia cumpra o acordo de cessar-fogo mediado pela UE, mas advertiram que as relações com Moscou estão em uma "encruzilhada". Classificaram de "inaceitável" o reconhecimento por Moscou da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, que consideram uma violação da integridade territorial da Geórgia.
Preocupados em não isolar a Rússia e com as repercussões econômicas de um possível rompimento, países como a França, que ocupa atualmente a presidência da UE, a Itália e a Alemanha, defenderam a manutenção do diálogo com o Kremlin, enquanto o Reino Unido e países da antiga esfera comunista preferiam dar um recado mais duro.
Ficou decidido que uma missão européia encabeçada pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, irá a Moscou na próxima segunda-feira. O objetivo é discutir o cumprimento do plano de seis pontos negociado por Sarkozy no mês passado para colocar um fim aos confrontos entre Rússia e Geórgia.
"A UE deseja uma parceria real com a Rússia, mas é necessária cooperação de ambos os lados", disse Sarkozy. Segundo ele, as ações do Kremlin levaram a UE a "reexaminar" as relações com a Rússia.
"O comportamento da Rússia nas últimas semanas, sua reação desproporcional e o reconhecimento das duas entidades que declararam independência causaram considerável preocupação na Europa." A Rússia invadiu a Geórgia em 8 de agosto, um dia após tropas georgianas iniciarem uma ofensiva para recuperar o controle da região separatista da Ossétia do Sul.

Sem isolamento
Para a chanceler (premiê) da Alemanha, Angela Merkel, era importante enviar a mensagem de que o diálogo continua aberto e evitar o isolamento da Rússia. "Esperamos a aplicação completa do plano negociado pela UE", disse Merkel. "Por isso adiamos, não suspendemos, as reuniões para a obtenção do acordo. Elas serão retomadas quando o plano for aplicado."
O Acordo de Parceria e Cooperação (PCA, na sigla em inglês), que entrou em vigor em 1997, tinha como objetivo aproximar a Rússia e a UE através da intensificação de laços políticos e comerciais e de princípios como direitos humanos. Expirou no fim do ano passado, e agora está sujeito a novas negociações para ser renovado.
Não é a primeira vez que o PCA esbarra em divergências políticas. Chegou a ser suspenso durante a Guerra da Tchetchênia, e o início das negociações para sua renovação foi adiado durante meses por objeção da Polônia e da Lituânia.
Sarkozy afirmou que a cúpula de ontem, a primeira reunião extraordinária do Conselho Europeu desde fevereiro de 2003, véspera da Guerra do Iraque, não foi direcionada contra a Rússia, mas teve o objetivo de manifestar apoio à Geórgia. Mas mandou um recado às autoridades russas. "Acabou a era das áreas de influência", disse.
O presidente francês disse que a UE vai reforçar os laços com a Geórgia, com o fortalecimento do comércio e a facilitação de vistos de entrada na UE. Afirmou ainda que é preciso reavaliar a dependência energética da UE em relação à Rússia, que fornece 40% do petróleo e gás consumidos na Europa. "Precisamos repensar essa dependência não só do ponto de vista geográfico, mas em termos de fontes alternativas."


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