São Paulo, terça-feira, 02 de outubro de 2001

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Ataque dos EUA deve ter 2 estágios

KIM SENGUPTA
DO "THE INDEPENDENT"

Ao longo das noites do final de semana passado, os céus sobre as bases da Força Aérea britânica em Mildenhall (Suffolk) e Fairford (Gloucestershire) trovejavam com o barulho de gigantescos aviões de transporte carregando armas para a guerra iminente.
Os C-130 Hercules e C-141 Starlifters estão carregando mísseis Cruise e bombas orientadas por satélite para bases aéreas avançadas, como parte da maior movimentação de aviões e munições nos EUA e no Reino Unido desde a Guerra do Golfo (91). O porta-aviões Kitty Hawk deixou ontem sua base no Japão para se unir aos outros quatro porta-aviões já posicionados para a batalha.
Todas as indicações que vêm de Londres e Washington são que dentro de alguns dias acontecerão os primeiros ataques em uma guerra de atrito que promete ser longa e dolorosa.
Parece cada vez mais provável que a operação aconteça em dois estágios, com um ataque inicial com mísseis, bombas e a participação limitada de forças de terra especiais contra as forças do Taleban e a rede terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden. A seguir, depois de uma pausa, o conflito se ampliará com a orquestração de serviços de informação, forças especiais e poderio aéreo de base terrestre e marítima.
Boa parte das informações necessárias já foram obtidas, de fontes tanto previsíveis quanto surpreendentes. Os russos forneceram detalhes sobre as antigas fortificações dos mujahidin agora em uso pelo Taleban e pela Al Qaeda, entre as quais um bem defendido centro de comando na cordilheira de Haruti.
Também surgiram informações vindas do Paquistão, da Índia e de países árabes amigos. O "The Independent" descobriu, no entanto, que algumas informações vitais foram fornecidas pela Síria, um "Estado que apóia o terrorismo" de acordo com funcionários do Pentágono.
Depois de semanas de sinais confusos e muitas vezes conflitantes de comandantes políticos e militares, de disputas entre as alas belicosa e cautelosa dentro do governo dos EUA e de especulações infundadas, está surgindo uma espécie de padrão discernível quanto à forma da campanha.
O raciocínio que explica o ataque em dois estágios o define como tentativa de garantir que as forças do Taleban sejam "desestimuladas" a ajudar a Al Qaeda quando começar o ataque direto contra suas bases. Neutralizar o Taleban será também de grande ajuda para a Aliança do Norte, que o Ocidente se apressa a patrocinar, apesar das dúvidas sobre sua capacidade política e militar.
Os blindados e os aviões do Taleban provavelmente serão os primeiros alvos do ataque. Os blindados consistem de alguns poucos tanques soviéticos, abandonados ou capturados, e de carros blindados. Eles dispõem também de cerca de 130 lançadores múltiplos de foguetes e de mais ou menos 20 mísseis terra-terra Scud e Frog. As defesas antiaéreas são formadas por mísseis portáteis Stinger -fornecidos pelos EUA nos dias em que as milícias afegãs eram "combatentes da liberdade"- e mísseis soviéticos.
A "força aérea" do Taleban consiste de 19 velhos MiGs e helicópteros soviéticos, ainda que alguns deles sirvam apenas como fontes de peças sobressalentes para manter os demais em vôo. Os aviões eram pilotados por tripulações fornecidas pelo serviço secreto paquistanês, que foram advertidas pelos EUA para procurar novos empregos.


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