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Evento ignora questões
sobre América Latina
DE NOVA YORK
A julgar pelo debate de anteontem entre George W. Bush e John
Kerry, a América Latina não tem
lugar no mundo. Ou o território já
tem "dono" -segundo pesquisa
da Zogby publicada ontem pelo
"Miami Herald", 60% dos latinos
nos EUA devem votar em Kerry, e
32% em Bush.
Em uma hora e meia de confronto verbal sobre a política externa dos EUA, nenhum dos dois
candidatos mencionou a região
uma única vez. O mediador, Jim
Lehrer, tampouco o fez.
Ironicamente, o evento teve lugar na Flórida, Estado americano
que concentra boa parte dos milhões de imigrantes latino-americanos no país e que abriga uma
grande colônia de refugiados cubanos, tema que em outras ocasiões pareceu mais caro a Bush.
O presidente tentou remendar a
falha mais tarde, em evento de
campanha no Estado -que, aliás,
é governado por seu irmão. "A
única coisa que me decepcionou
no debate foi que não houve nenhuma pergunta sobre Cuba",
disse em Miami.
Mas os representantes da região
não deixaram de notar o lapso.
"Que vergonha", dizia a deputada
governista Ileana Ros-Lehtinen
ao "Sun Sentinel", diário que circula no sul da Flórida. "Foi uma
oportunidade perdida não fazer
uma única questão sobre a América Latina numa comunidade tão
internacional."
Na CNN, tão logo o debate terminou, o jornalista Jorge Ramos
reclamava com o apresentador
Larry King da ausência do tema.
"Não se falou em acordo de migração com o México, não se falou
em Cuba, não se falou em acordos
com a América Central", lamentava Ramos, um dos mais célebres
jornalistas latinos dos EUA e âncora da rede de TV Univision, especializada no público hispânico.
King respondeu que era "um debate sobre o Iraque e guerra ao
terror". Ramos o corrigiu: "Não,
era um debate sobre política externa".
A impressão tirada do debate é
que ambos estão certos, e que a
política externa com a qual os
EUA se preocupam se limita ao
terrorismo, à ameaça nuclear, às
armas de destruição em massa.
Fora deste tópico a única questão
mencionada no debate foi o genocídio em Darfur, no Sudão.
Mesmo assim, os candidatos
responderam muito brevemente
à questão levantada por Lehrer
-mandar ou não tropas para o
país africano-, e logo viraram o
assunto de volta para o Iraque.
No dia do debate, o "Miami Herald" publicou uma reportagem
na qual o secretário-assistente de
Estado para o hemisfério Ocidental, Roger Noriega, defendia a posição de seu governo em relação à
América Latina.
"Observadores internacionais
concordam em um ponto: os
EUA não estão fazendo o bastante
pela América Latina, mas eles não
dizem o bastante do que", ironizou Noriega.
(LUCIANA COELHO)
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