São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2008

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Colômbia investiga mortes de 19 jovens por militares

Corpos achados no norte do país foram considerados de "mortos em combate"

Governo apurará suspeitas de que vítimas não fossem narcotraficantes e tenham sido mortas por soldados em troca de bonificação

Guillermo Legaria - 25.set.08/Efe
Ciudad Bolívar, favela de Bogotá que atrai deslocados por conflito

DA REDAÇÃO

O governo colombiano decidiu abrir uma investigação para apurar as mortes, pelo Exército, dos pelo menos 19 jovens achados na semana passada em um cemitério no norte do país. Suspeita-se que eles tenham sido assassinados por militares em troca de bonificações pelo suposto "sucesso" no combate a grupos narcotraficantes.
No último dia 24, foi noticiado que os corpos de 11 jovens considerados desaparecidos, provenientes de regiões pobres do entorno de Bogotá, haviam sido encontrados em Ocaña, no departamento de Norte Santander, a mais de 500 quilômetros ao norte da capital. Depois, o número aumentou para 19.
A versão do Exército foi de que eles haviam sido mortos em combate, após serem aliciados ou seqüestrados por grupos narcotraficantes que atuam nas regiões próximas à fronteira com a Venezuela. Mas surgiram suspeitas pelo fato de os jovens terem morrido apenas um ou dois dias após as notificações de desaparecimento.
O ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, disse que "há uma situação estranha, que requer explicações. [Pessoas] têm me dito que existem oficiais das nossas forças de segurança que admitem corpos como prova de resultados. Custo a crer nisso". Na segunda-feira, após reunião de emergência, o governo ordenou que a investigação vá "até as últimas conseqüências".
A revista colombiana "Semana", em sua última edição, publicou uma matéria de capa na qual reconstitui o histórico dos "falsos positivos mortais", como são conhecidos, há anos denunciados por entidades de direitos humanos, mas só agora admitidos como possibilidade pelo governo de Álvaro Uribe.
Segundo a revista, o caso dos 19 jovens, todos entre 17 e 32 anos de idade, é o último de uma série que já motivou 750 investigações, 180 acusações a militares e 50 condenações em toda a Colômbia. A prática é também conhecida como "legalização" das mortes, apresentadas então como êxitos por militares em troca de benefícios.
As mortes revelam ainda, diz a "Semana", o problema do recrutamento de colombianos pobres para trabalhar longe de casa, em atividades legais ou ilegais, mas que acabam sendo desviados para a luta armada ou então são mortos. "É uma desaparição com fins de homicídio, e não um recrutamento", disse a secretária de Governo de Bogotá, Clara López.
O diretor para as Américas da ONG Human Rights Watch, José Miguel Vivanco, disse que "a mentalidade da contagem de corpos infelizmente tem sido praticada por várias unidades militares colombianas há algum tempo, mesmo que o presidente Uribe tenha repetidamente negado que essas atrocidades ocorram".


Com agências internacionais


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