São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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Mídia foi "superficial", diz analista

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A cobertura da campanha feita pela mídia americana foi, como de costume, "superficial", insistindo em temas menores e negligenciando os importantes, como a Guerra do Iraque e a economia.
A análise é de Thomas Patterson, professor da Kennedy School of Government da Universidade Harvard (EUA) e diretor de seu centro de acompanhamento da mídia. Ele é autor de "Mass Media Election" (eleição na grande imprensa) e de "The Vanishing Voter" (o eleitor evanescente).
 

Folha - Como o sr. analisa o papel da mídia na campanha eleitoral?
Thomas Patterson -
Não vi nenhuma novidade na cobertura, que foi bastante superficial. A grande imprensa tem a tendência de dar uma enorme ênfase a pequenas controvérsias, como o histórico militar de [George W.] Bush ou a passagem de [John] Kerry pela Guerra do Vietnã, mas negligencia os temas relevantes.
Um exemplo foi emblemático: após o terceiro debate, no qual Kerry mencionou a filha homossexual de [Dick] Cheney [vice-presidente] ao defender suas posições sobre o tema, a mídia passou uma semana discutindo a "importância" do comentário.
A grande imprensa não consegue deixar passar questões irrelevantes. Contudo não cobre profundamente assuntos muito sérios, como a Guerra do Iraque ou a situação econômica do país.

Folha - Qual foi a real importância dos debates na TV?
Patterson -
Se os debates não tivessem ocorrido, a disputa não estaria tão equilibrada hoje. Eles serviram para que Kerry, que se mostrou sensato e comedido, apresentasse sua candidatura a milhões de americanos.
Antes deles, Bush tinha uma vantagem razoável nas pesquisas, de dez pontos percentuais. Assim, os embates na TV puseram Kerry na disputa novamente. Bush não pareceu muito "presidencial" ou seguro e confundiu algumas coisas, o que também ajudou Kerry. Ainda é cedo, todavia, para dizer que os debates serão decisivos.

Folha - E quanto à propaganda política na televisão?
Patterson -
Não vimos muitos anúncios aqui em Massachusetts porque a disputa no Estado, que é democrata, já está definida. Porém viajamos bastante pelo país e fizemos pesquisas a esse respeito.
Os ataques feitos por ambas as partes foram realmente duros. Republicanos e democratas dispuseram de muito dinheiro nos últimos meses por conta de furos na legislação sobre financiamento de campanha. Com isso, foi possível concentrar uma quantidade enorme de anúncios nos Estados ainda indefinidos, e o tom foi claramente ofensivo e pessoal.


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