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ANÁLISE
Esquerda praticará capitalismo sério
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A coalizão de esquerda que venceu as eleições presidenciais no
Uruguai "praticará um tipo mais
sério de capitalismo do que o
atual governo", em mãos de um
dos dois partidos tradicionais, o
Colorado. É a opinião de dois economistas que ocuparam altos cargos na ditadura dos anos 70. Alejandro Vegh Viegas foi ministro
da Economia e Juan Protási presidente do Banco Central. Os dois
publicaram artigo na "Portofolio", uma das leituras prediletas
de investidores, e tiveram reprodução na "Weekly Report", editada em Londres com foco em
questões latino-americanas.
Mais surpreendente é a declaração de que "fazem bom sentido as
idéias de José Mujica", uma das
vozes de maior peso nos partidos
e grupos que compõem o Encontro Progressista-Frente Ampla, a
coalizão do presidente eleito, Tabaré Vázquez. De formação médica, um ex-bem-sucedido prefeito de Montevidéu, Tabaré é cria
do Partido Socialista.
Carregou ao longo da vida, em
seu arsenal teórico, o marxismo
como "doutrina orientadora".
Mas, nas eleições de 1999, nas
quais foi o mais votado no primeiro turno, perdendo no segundo,
já falava em "revolução cautelosa,
com regras claras e precisas".
Mujica é líder dos Tupamaros,
com origem nos guerrilheiros que
se opuseram com armas nas mãos
à ditadura a qual serviram Viegas
e Protasi. A jogada de maior alcance nesse tabuleiro cheio de novidades foi o anúncio antecipado
do ministro da Economia de Tabaré. Durante uma viagem aos
Estados Unidos o candidato de
esquerda revelou que a escolha,
depois de cuidadosas avaliações
internas, recaiu no senador Danilo Astori. O ministério-chave ficaria com alguém dos quadros da
coalizão. Astori, no entanto, não
concorda com os que criticam
com dureza a política econômica
do atual governo, considerado da
linhagem neoliberal.
Não concorda, sobretudo, com
os que se opõem aos termos de
reestruturação da dívida. Tabaré
já havia dito na convenção do Encontro Progressista-Frente Ampla que é preciso ter "senso de
realidade" ou que "desejar o impossível é tão irresponsável e reacionário como conformar-se com
o que aí está". Desde a independência, o Uruguai é dominado
por um bipartidarismo que, afinal, parece esgotar-se por completo, o que, por si só, é um acontecimento histórico.
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