São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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ANÁLISE

Esquerda praticará capitalismo sério

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A coalizão de esquerda que venceu as eleições presidenciais no Uruguai "praticará um tipo mais sério de capitalismo do que o atual governo", em mãos de um dos dois partidos tradicionais, o Colorado. É a opinião de dois economistas que ocuparam altos cargos na ditadura dos anos 70. Alejandro Vegh Viegas foi ministro da Economia e Juan Protási presidente do Banco Central. Os dois publicaram artigo na "Portofolio", uma das leituras prediletas de investidores, e tiveram reprodução na "Weekly Report", editada em Londres com foco em questões latino-americanas.
Mais surpreendente é a declaração de que "fazem bom sentido as idéias de José Mujica", uma das vozes de maior peso nos partidos e grupos que compõem o Encontro Progressista-Frente Ampla, a coalizão do presidente eleito, Tabaré Vázquez. De formação médica, um ex-bem-sucedido prefeito de Montevidéu, Tabaré é cria do Partido Socialista.
Carregou ao longo da vida, em seu arsenal teórico, o marxismo como "doutrina orientadora". Mas, nas eleições de 1999, nas quais foi o mais votado no primeiro turno, perdendo no segundo, já falava em "revolução cautelosa, com regras claras e precisas".
Mujica é líder dos Tupamaros, com origem nos guerrilheiros que se opuseram com armas nas mãos à ditadura a qual serviram Viegas e Protasi. A jogada de maior alcance nesse tabuleiro cheio de novidades foi o anúncio antecipado do ministro da Economia de Tabaré. Durante uma viagem aos Estados Unidos o candidato de esquerda revelou que a escolha, depois de cuidadosas avaliações internas, recaiu no senador Danilo Astori. O ministério-chave ficaria com alguém dos quadros da coalizão. Astori, no entanto, não concorda com os que criticam com dureza a política econômica do atual governo, considerado da linhagem neoliberal.
Não concorda, sobretudo, com os que se opõem aos termos de reestruturação da dívida. Tabaré já havia dito na convenção do Encontro Progressista-Frente Ampla que é preciso ter "senso de realidade" ou que "desejar o impossível é tão irresponsável e reacionário como conformar-se com o que aí está". Desde a independência, o Uruguai é dominado por um bipartidarismo que, afinal, parece esgotar-se por completo, o que, por si só, é um acontecimento histórico.


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