São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2005

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EUA

Democratas e republicanos preparam-se para disputa no Senado envolvendo o escolhido de Bush para a Suprema Corte

Aprovação de Alito será batalha política

TODD S. PURDUM
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

A indicação do juiz Samuel A. Alito Jr. para a Suprema Corte oferece aos partidários conservadores do presidente Bush e a seus adversários liberais exatamente o tipo de batalha para a qual estavam preparados. E confere a Bush uma luta que ele e a Casa Branca acham que dificilmente perderão, a começar porque ela muda o assunto em pauta em Washington.
Tendo apostado que poderia evitar uma guerra declarada com a indicação de Harriet E. Miers, Bush agora voltou à sua posição de costume, indicando um homem com credenciais acadêmicas totalmente sólidas, longa experiência judicial e características conservadoras inequívocas.
Horas depois do anúncio do nome de Alito pelo presidente, grupos liberais que haviam aguardado um mês ou mais para tomar posição com relação à indicação por Bush do juiz John G. Roberts, no verão passado, lançaram invectivas, opondo-se formalmente à indicação de Alito, que descreveram como ameaça ao direito do aborto, às liberdades civis e ao controle de armas, enquanto grupos conservadores que tinham deixado de apoiar Bush na indicação de Miers se adiantaram para elogiar o novo nome indicado.
A disposição dos conservadores em rechaçar a indicação de Miers sem nem sequer uma audiência no Senado lançou em dúvida sua insistência de longa data de que todos os indicados à Suprema Corte deveriam ser submetidos a um voto no Senado sem a ameaça de obstrução, e alguns democratas sugeriram que um voto de obstrução para impedir a passagem do juiz Alito ainda é uma possibilidade que está aberta.
Resta a ver, porém, até que ponto a disputa será acirrada.
Do mesmo modo que a esquerda acabou encontrando dificuldade em caricaturar o juiz Roberts, os defensores de Alito dizem que seu estilo respeitoso e discreto, sua história pessoal de filho de imigrante e suas qualificações indiscutíveis quase certamente farão dele uma figura aceitável para alguns dos mesmos democratas de Estados predominantemente republicanos que acabaram por apoiar o juiz Roberts.
Além disso, a Casa Branca e seus aliados agora estão inequivocamente unidos, dispostos a retratar os democratas como obstrucionistas se tentarem derrotar a indicação por meios extraordinários.
A retirada forçada de Harriet Miers e o indiciamento de Lewis Libby, o ex-chefe-de-gabinete da Vice-Presidência, deixaram Bush politicamente mais fraco do que estava quando escolheu Miers, um mês atrás, e muito mais fraco do que quando indicou o juiz Roberts, em julho. A pesquisa mais recente, feita no fim de semana, constatou que hoje 55% dos americanos consideram a Presidência de Bush um fracasso.
Mas não está claro até que ponto será ampla a disposição do público em geral, nem mesmo dos democratas no Senado, de lançar-se em guerra declarada num momento marcado por tantos outros problemas prementes. Na segunda-feira, pelo menos alguns democratas no Senado pediram que a retórica fosse abrandada.
Já os conservadores não perderam tempo para observar que o juiz Alito teve confirmada sua indicação para a posição que ocupa hoje com o consentimento unânime do Senado, há 15 anos. Os democratas dizem que a diferença entre 15 anos atrás e hoje são 15 anos de decisões de Alito, além de um clima político em que tudo que concerne a indicações de juízes se polarizou e politizou muito.


Tradução de Clara Allain

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