São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2005

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EUROPA

Stoiber, líder conservador, descarta participar de grande coalizão; social-democratas definem seu novo presidente

Crise piora e ameaça futuro governo alemão

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A crise que envolve a provável futura coalizão governamental alemã, que deverá ser composta por conservadores da CDU e da CSU e por social-democratas do SPD, se agravou ontem, quando o governador da abastada Baviera (sul), Edmund Stoiber, anunciou que não participaria do novo governo. Este deverá ser liderado por Angela Merkel, líder da CDU.
A decisão de Stoiber, que é da CSU e em 2002 perdeu a disputa para tornar-se chanceler (premiê) para o social-democrata Gerhard Schröder, foi anunciada um dia após o presidente do SPD, Franz Müntefering, afirmar que não tentaria reeleger-se líder do partido porque seu candidato para o posto de secretário-geral fora rejeitado pela base social-democrata. Müntefering também deixara em dúvida sua participação na grande coalizão. Ontem, todavia, ele dissipou a incerteza ao afirmar, segundo seus assessores, que pretendia assumir o posto de ministro do Trabalho e o de vice-chanceler no governo Merkel.
De acordo com David Klingenberger, professor da Universidade de Colônia, a crise atual reflete a incerteza provocada pelo resultado do pleito legislativo ocorrido em setembro. "Como não houve claro vencedor, a porta está aberta para a próxima grande disputa eleitoral federal", disse à Folha.
"Ou seja, os protagonistas da cena política alemã já calculam o que deverão fazer para obter uma vitória inconteste na próxima eleição legislativa, que, em princípio, só deverá ocorrer em 2009. Contudo pouca gente acredita que, se vier a assumir a Chancelaria, Merkel venha a conseguir cumprir seu mandato até o final", acrescentou Klingenberger.
De fato, ganham força vozes que pedem a realização de nova eleição legislativa. Segundo a mídia alemã, ela poderia ocorrer em 26 de março próximo, quando três Estados terão votações regionais.
Em tese, as negociações entre conservadores e social-democratas terão de ser concluídas até o final da próxima semana, e o Bundestag (Câmara Baixa do Parlamento) deverá eleger Merkel chefe de governo no dia 22 deste mês.
Para Jürgen Falter, da Universidade de Mainz, porém, "o SPD está sem líder real, o que o enfraquece nas negociações com a aliança CDU/CSU e mina a credibilidade de Müntefering como vice-chanceler e porta-voz" do partido. "Assim, é preciso reconhecer que a grande coalizão está em perigo."
Klingenberger frisou que o próprio Stoiber, que seria ministro da Economia e tem bom relacionamento com Müntefering, pois ambos são "relativamente de centro no que tange a políticas sociais", pode ter a "intenção velada de debilitar a posição de Merkel".
"Não é possível descartar a hipótese de certos líderes conservadores já estarem pensando em eleições futuras. Afinal, é notório que Merkel comandará um governo fraco se conseguir chegar ao poder", disse Klingenberger.
Ademais, segundo Falter, Stoiber está descontente com Merkel porque ela não aceitou dar-lhe poderes que, tradicionalmente, pertencem ao Ministério da Educação e ao das Finanças.
No campo social-democrata, a crise também se deteriorou. Andrea Nahles, que deveria ocupar a secretaria geral, disse que poderá abandonar sua intenção de chegar ao posto. O novo presidente do SPD será Matthias Platzeck, governador de Brandemburgo.
Se não puderem fechar acordo com o SPD, os conservadores deverão procurar o apoio dos liberais, formando um governo com minoria parlamentar, e talvez até o dos Verdes. Mas é improvável que estes aceitem participar de uma coalizão de centro-direita.


Com agências internacionais

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