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ENTREVISTA
"Um voto de repúdio à direita"
De Nova York
Para o jornalista e analista político americano Thomas Frank, há dois Obamas:
um de esquerda, que ele prefere, e um de centro, que faz discursos que poderiam ter sido
elaborados pelo republicano
Ronald Reagan (1981-1989).
Frank não sabe qual deles
ocupará a Casa Branca em caso
de vitória eleitoral. Mas de uma
coisa tem certeza: "Uma vitória
de Obama significará o repúdio
da filosofia conservadora de governo que domina Washington
hoje". Frank é autor de "Qual o
Problema com o Kansas?"
(Henry Holt, 2004) e "O Grupo
da Destruição - Como Conservadores Governam" (Metropolitan Books, 2008). Leia trechos de sua entrevista.
(AM)
FOLHA - O que significaria uma vitória de Barack Obama?
THOMAS FRANK - Se Obama jogar
direito com as cartas que tem,
sua vitória significará um forte
repúdio da filosofia conservadora de governo que domina
Washington hoje. Mas para isso ele vai ter que reconstruir o
governo a partir do zero. Vai ter
que oferecer um sistema de
saúde real, re-regular o sistema
financeiro, abordar a desigualdade nos EUA. E terá que mostrar inequivocamente que o governo conservador fracassou.
Acredito que há dois Obamas: um esquerdista, como o
que vimos em seu discurso de
aceitação da candidatura na
Convenção Nacional Democrata, e outro bastante de centro.
Não sabemos qual deles ocuparia a Casa Branca. Mas acho que
as circunstâncias o obrigariam
a ser mais favorável a um Estado de bem-estar, como aconteceu na Grande Depressão.
FOLHA - Mas ele conseguiria, sob
forte déficit orçamentário?
FRANK - Sim. Algumas reformas vão demorar. Mas, se ele tiver a seu lado um Congresso
democrata -o que provavelmente terá-, vai conseguir
transformações importantes.
FOLHA - O sr. já disse que um déficit forçou Bill Clinton (1993-2001) a
abandonar seu populismo. Algo similar não aconteceria com Obama?
FRANK - Sim, mas seria temporário. Depois de alguns anos,
Obama poderia contornar isso.
E ele precisa deixar claro ao público por que chegamos nesta
situação. Precisa mostrar que o
governo anterior fritou verbas
em gastos ridículos como a reconstrução do Iraque, que eles
mesmos destruíram.
FOLHA - O quão difícil seria fazer
esse ataque ao conservadorismo, já
que os EUA continuam divididos?
FRANK - É verdade. Metade do
país ainda acha que os conservadores estão certos, e eu não
tenho uma explicação para isso. Obama deveria ter tido uma
campanha mais fácil. Os republicanos apresentaram um
candidato muito bom em 2008.
Em qualquer outro ano, John
McCain venceria. O que o segura é a crise econômica.
FOLHA - O sr. já disse que a esquerda americana estava morta. Ela foi
revitalizada por Obama?
FRANK - Os esquerdistas foram
revitalizados. Mas Obama não é
realmente um esquerdista. Ele
nem mesmo é um liberal [progressista, nos EUA]. Ele diz coisas que poderiam ter saído da
boca de [Ronald] Reagan [1981-1989]. Ele acredita no mercado!
O que está realmente revitalizando a esquerda é assistir à
ideologia conservadora desmoronar. Mas é verdade que as
duas alas do Partido Democrata -a "Wall Street" e a esquerdista- estão muito satisfeitas e
não estão brigando agora.
FOLHA - O que o sr. acha da crítica
de McCain de que Obama quer redistribuir a riqueza?
FRANK - A riqueza é redistribuída o tempo todo nos EUA,
só que de baixo para cima. Toda
política de impostos implica redistribuição. Muda a direção.
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