São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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OS ELEITOS

McCain

Republicano mudará nomes de Bush, mas não as idéias

Andrea Murta, de Nova York


Apesar do espaço dos realistas na campanha, são neocons que prevalecem nos discursos

"Eu não sou George W. Bush" foi uma das frases preferidas de John McCain na campanha pela Presidência americana em 2008. Mas, a julgar por seus assessores, conselheiros e ideólogos, uma Casa Branca sob seu comando seria bem menos "maverick" (independente) e bem mais continuísta do que o republicano gostaria de admitir.
Isso é particularmente verdadeiro nas áreas de política externa e economia, onde neoconservadores e diretores empresariais influenciam pesadamente as propostas do candidato -e provavelmente ocupariam o primeiro escalão de um governo seu, como já fazem na gestão Bush.
No campo internacional, McCain afirma que abrigaria no governo tanto neoconservadores quanto pragmáticos. Seus discursos, porém, traem a preferência pela visão de mundo do primeiro time, ao defender a primazia global americana e a necessidade de espalhar a democracia pelo planeta.
O privilégio aos "neocons" é visível na lista de assessores, que inclui uma série de antigos membros do extinto Projeto para um Novo Século Americano (Pnac). Entre eles, Randy Scheunemann, Robert Kagan, William Kristol e Gary Schmitt, nomes cogitados para ocupar postos importantes em um governo McCain.
O Pnac também foi o fornecedor do arsenal teórico "neocon" de Bush. Realistas, na maior parte do tempo, tiveram menos poder. Seguindo a mesma lógica do antecessor, manteriam posição de destaque com McCain ainda os militares.
Douglas Foley, professor de governo da Universidade Wesleyan, afirma que "um governo de John McCain seria similar em política externa à versão pós-2006 de Bush, que é um pouco menos agressiva". Mas, para ele, "McCain seria menos influenciável, pois sua especialidade é justamente a política externa".
No campo econômico, os grandes negócios que conseguiram facilidades de todos os tipos na era Bush seguiriam no foco das políticas sob McCain, segundo analistas. Isso ficou claro quando o candidato foi buscar auxílio nos braços do empresariado -e não de economistas- ao estourar a crise financeira nos EUA.
"McCain passou a defender cortes de impostos de grandes fortunas promovidos por Bush", diz o analista político Matthew Crenson, da Universidade Johns Hopkins. "Isso indica os laços que ele tem hoje com os mais ricos -principalmente grandes corporações."
A área energética também seria afetada pela amizade com grandes empresas. Apesar do discurso de sua candidata a vice, Sarah Palin, de que resistiu aos interesses de grandes empresas no Alasca, um governo McCain aumentaria a exploração de gás e petróleo em território nacional e a expandiria para o alto mar, fortalecendo as corporações do setor.
As semelhanças, contudo, não significam que McCain manteria em seu gabinete os mesmos nomes atuais. O republicano precisaria se afastar de Bush diante da opinião pública -ainda que os substitutos compartilhassem da ideologia dos antecessores.
Uma possível exceção é o atual secretário da Defesa, Robert Gates, que McCain cogita manter no posto.
Outro nome para a Defesa é o senador Joe Lieberman, ex-democrata e atual independente que se tornou próximo do candidato. Ele poderia ainda ocupar a Secretaria de Estado.
Para o Tesouro, os nomes prováveis refletem a preferência pelos grandes negócios, como Meg Whitman, ex-CEO do eBay, o empresário e ex-governador de Massachusetts Mitt Romney e o financista Warren Buffet -este também cogitado por Barack Obama. São citados ainda Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, e Fred Smith, CEO do FedEx.
Outro personagem que não pode ser esquecido é o assessor Mark Salzer, que acompanha McCain há duas décadas e possivelmente ocuparia o lugar que Karl Rove teve sob Bush: sem destaque oficial mas com as rédeas da Casa Branca.
A Justiça e as indicações para possíveis vagas na Suprema Corte devem ser entregues a conservadores sociais. O grupo, influente sob Bush, perderia espaço em uma eventual Presidência McCain, mas não seria totalmente alienado. "Primeiro, tem Sarah Palin a seu lado", diz Crenson. "E continua importante na base republicana."
E o analista aponta um novo grupo ávido para tomar o lugar de destaque dos conservadores sociais: membros da comunidade científica. "Foram ignorados por Bush, mas teriam boas chances com McCain."

AMIGOS COM DINHEIRO CORPORAÇÕES MANTÊM-SE NO TOPO
Ligações de McCain com empresas de peso e grandes fortunas devem nortear sua equipe econômica


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