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ESTADO DENTRO DO ESTADO
40% dos impostos vão para militares
De Nova York
De cada dólar pago
em impostos pelos americanos,
40 centavos são destinados a
gastos militares. A educação recebe dez vezes menos. Os dados, do Projeto de Prioridades
Nacionais, dão uma idéia do peso das Forças Armadas no país,
um Estado dentro do Estado
que emprega diretamente quase 3 milhões de pessoas e em
2007 fechou 1,4 milhão de contratos com mais de 76 mil empresas privadas.
Para financiar essa estrutura,
os EUA terão em 2009 o maior
orçamento com a Defesa desde
a Segunda Guerra: US$ 585,4
bilhões só como base.
O governo estima que o total
ultrapasse 20% do Orçamento.
Em cálculos mais pessimistas
de grupos como a Campanha
para o Futuro da América, porém, o percentual chega a 50%,
porque inclui por exemplo benefícios a veteranos.
Dessa verba, mais de US$ 129
bilhões são para pagamentos a
militares na ativa. Só no Exército, há 522 mil soldados ativos,
189 mil na reserva e 325 mil na
Guarda Nacional. A Marinha
tem cerca de 366 mil na ativa, a
Aeronáutica, 360 mil, e há ainda 178 mil fuzileiros navais. Outros 680 mil civis trabalham
para o setor militar.
Em época de desemprego
crescente, a área é atrativa. Militares recebem auxílio-moradia e alimentação. Têm despesas médicas 100% cobertas, ao
custo de US$ 57 bilhões anuais.
Membros ativos têm direito a
US$ 65 mil para a educação superior. E se aposentam com 20
anos de serviço -se conseguirem chegar lá.
"O sistema é quase de bem-estar social", afirmou à Folha
Lawrence Korb, ex-secretário
assistente de Defesa (1981 a
1985) e membro do Centro para o Progresso Americano. "Isso não existe em outros órgãos
ou no setor privado."
Com a economia em crise, o
recrutamento aumenta. Os
quatro braços das Forças Armadas atingiram as metas de
recrutamento em 2008, com
um total de 185 mil recrutas, o
número mais alto desde 2003.
Grupos como o Centro para
o Progresso Americano, porém, afirmam que o investimento não é suficiente e que
"não é à toa que só 29% dos soldados, veteranos e suas famílias acham que o governo lida
bem com suas necessidades".
Mas um debate ainda mais
polêmico diz respeito a pagamentos para fora das Forças
Armadas. Em 2007, contratos
de defesa com terceiros consumiram US$ 315,5 bilhões, um
aumento de 137% em relação a
2000. Seis empresas -Lockheed Martin, Boeing, Northrop Grumman, General Dynamics, ON e Raytheon- receberam um terço do montante.
Críticos afirmam que os EUA
vêm privatizando suas funções
militares, inclusive com mercenários. Para outros analistas,
as empresas privadas preenchem um vácuo. "A dependência de empresas privadas provavelmente foi um pouco longe
demais", afirma o analista do
Instituto Brookings Michael
O'Hanlon. "Mas a maioria dos
contratos é necessária."
"Os contratos privados são
bem vindos quando liberam
militares para funções de combate. O problema é quando cruzam a linha e se envolvem nas
batalhas", diz Korb.
A controvérsia dos contratos
privados se estende ao Congresso, onde legisladores interessados em gerar empregos
disputam apoio a empresas. Os
motivos nem sempre são nobres: segundo a ONG Centro
pela Política Responsável, legisladores que supervisionam
acordos com o Pentágono têm
US$ 196 milhões investidos nas
empresas contratadas.
Em 2005, por exemplo, o ex-deputado republicano Duke
Cunningham se declarou culpado de aceitar suborno de empresas que buscavam contratos
da Defesa.
(ANDREA MURTA)
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