|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
China começa maior censo da história
Contagem é 7 vezes maior que a brasileira, mas a 20% do custo; governo flexibiliza exigências sobre migrantes
Gigantismo da operação é evidenciado por cifras recorde: 6 milhões de recenseadores e 400 milhões de domicílios
FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM
Residência de 20% da população mundial, a China
iniciou ontem o maior recenseamento da história, com
promessas de confidencialidade e incentivos a migrantes indocumentados e a famílias que desrespeitaram as rígidas normas de controle de
natalidade.
Durante apenas dez dias, 6
milhões de recenseadores
tentarão visitar 400 milhões
de residências, milhares delas na forma de alojamentos
precários de trabalhadores
migrantes nas grandes cidades ou em áreas remotas, como o Tibete.
Com uma população sete
vezes maior do que a brasileira, o custo do recenseamento
chinês é proporcionalmente
bem mais baixo.
No Brasil, que também
realiza o Censo neste ano, cada visita a domicílio custa em
média R$ 24. Na China, sai
por R$ 5, segundo cálculo feito a partir de números oficiais de ambos os países.
Desde 1990, a China faz
um censo por década. O último, de 2000, contou a população em 1,295 bilhão.
Uma das grandes novidades neste ano é que a população migrante, estimada em
230 milhões pelo governo,
será contada a partir de onde
vive, e não pelo endereço
permanente que consta em
seus documentos de identidade.
Esse sistema, conhecido
como "hukou", obriga um
trabalhador rural a pedir autorização do governo para
trabalhar na cidade.
Na prática, a mudança
ocorre sem esse trâmite, mas
o migrante fica barrado de
serviços como saúde e educação, entre outros programas sociais e benefícios.
O hukou tem sido apontado como uma das principais
causas da crescente desigualdade de renda no país.
Num sinal de que o sistema será ao menos flexibilizado em breve, o governo se
comprometeu a dar um tratamento mais brando aos violadores que responderem ao
questionário.
O censo também prometeu
menos rigidez com famílias
que desrespeitaram a Política do Filho Único, implantada há 30 anos, geralmente
punidas com pesadas multas. Desta vez, os infratores
poderão parcelar as multas.
Outra novidade é que haverá a contagem específica
da crescente população de
imigrantes no país. Além disso, Macau e Hong Kong, que
gozam de um regime administrativo diferenciado, também participarão do censo
pela primeira vez.
PRIVACIDADE
O governo, no entanto, admite que a tarefa dos recenseadores está mais difícil,
principalmente por causa da
crescente noção de privacidade no país.
Para tentar reverter a aversão, uma intensa campanha
foi colocada nas ruas durante as últimas semanas, principalmente por meio de faixas incentivando a população a aceitar a entrevista.
Para aumentar a sensação
de privacidade, não há perguntas sobre renda nem sobre religião, este um tema delicado por causa do surgimento de igrejas clandestinas, principalmente cristãs.
Segundo a agência de notícias estatal Xinhua, a campanha começou na meia-noite
de segunda-feira, na cidade
de Jinan (leste), quando um
recenseador bateu na porta
de um apartamento até que o
morador despertasse.
Mais do que uma extravagância, trata-se de uma mensagem aos milhões de trabalhadores migrantes que só
vão a dormitórios para dormir: nos próximos dias, é
provável que recebam uma
inquisidora visita noturna.
Texto Anterior: Campanha opõe presidentes e jornais, mas atrai investidores Próximo Texto: Os números do censo no Brasil Índice | Comunicar Erros
|