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São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2003

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ARGENTINA

Popularidade do presidente é tanta que 70% dos argentinos disseram que confiariam a ele até o dinheiro do condomínio


Aprovação a Kirchner está perto dos 90%

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

A popularidade do presidente argentino, Néstor Kirchner, está perto dos 90%, seis meses depois da posse, segundo duas pesquisas divulgadas ontem. No mês passado, era de cerca de 70%.
A confiança dos argentinos é tanta que um desses levantamentos, feito pela consultoria Equis entre moradores de Buenos Aires, mostrou que 70% dos entrevistados se disseram à vontade para deixar com Kirchner até o dinheiro do condomínio.
Além disso, mais da metade dos entrevistados afirmou não crer que Kirchner seja capaz de "roubar a mulher de outro homem". A maioria, no entanto, considera que Kirchner tem um pecado grave -a soberba- e, para 54%, ele apresenta traços "autoritários".
A pesquisa, encomendada pelo governo, deu 88,8% de aprovação ao presidente. Apenas 4% o desaprovam. O levantamento ouviu 960 pessoas na região metropolitana de Buenos Aires. Não foi divulgada a margem de erro.
Outra pesquisa, da Research International-Analogías, aponta que a aprovação a Kirchner é de 86%, contra 11,1% que o desaprovam.
Kirchner "está bem preparado para governar" segundo 84,2% dos entrevistados. Outros 82,9% entendem que o presidente "tem idéias e propostas de que o país necessita". Para 83,3%, ele "tem alto respeito pelas instituições".
A pesquisa ouviu 1.200 pessoas em todo o país, entre os dias 24 e 26 de novembro. A margem de erro é de 2,8 pontos percentuais.

Balanço eleitoral
Além de manter altas taxas de popularidade, Kirchner vem também consolidando apoio político.
O fim do calendário eleitoral de 2003 na Argentina deu ao Partido Justicialista -ao qual pertence o presidente- sua maior hegemonia desde 1983 e o maior nível de predomínio na Câmara na história do país. A vitória justicialista (peronista) dá a Kirchner, eleito em maio com 20% dos votos, maioria no Congresso e aliados na maior parte das Províncias.
No balanço final, o peronismo ganhou 134 das 257 cadeiras da Câmara, 40 das 72 vagas no Senado e 16 dos 23 governos de Províncias. "O governo está mais forte porque Kirchner não tinha poder político e agora começa a construir um poder. Hoje tem mais deputados que antes, mais senadores que antes. Existe um processo incipiente de acumulação de poder", avaliou o analista político Hugo Haime.
Os números das eleições, no entanto, devem ser vistos com cuidado, porque o peronismo está dividido. "É certo que, hoje, [o ex-presidente Eduardo] Duhalde é o dirigente peronista com maior poder e que, sem ele, Kirchner não teria condições para governar", disse Julio Burdman, analista político.
Além do apoio dos "duhaldistas" -bloco de cerca de 40 deputados alinhados ao ex-presidente-, Kirchner terá ainda de conquistar o bloco "azul e branco", de deputados ligados a outro ex-presidente peronista, Carlos Menem.
E encontrará dificuldades para se acercar do bloco comandado por Adolfo Rodríguez Saá. Recém-eleito deputado, Saá já sinalizou que vai trabalhar no seu lançamento como candidato nas próximas eleições presidenciais.
Apesar disso, os analistas são otimistas. "Não se pode dizer que o peronismo responde totalmente a Kirchner no longo prazo. Mas, neste momento, sim, está respondendo a ele e muito claramente. Kirchner está aprovando no Congresso tudo o que quer, e com maiorias inéditas na Argentina", disse Burdman.
"Ainda que não se possa garantir que Kirchner tenha uma liderança absoluta sobre o peronismo, ele é o líder político de uma coalizão muito ampla e que compartilha uma agenda político-econômica que aponta claramente a uma direção distinta da dos anos 90", avaliou.


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