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ARGENTINA
Popularidade do presidente é tanta que 70% dos argentinos disseram que confiariam a ele até o dinheiro do condomínio
Aprovação a Kirchner está perto dos 90%
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
A popularidade do presidente
argentino, Néstor Kirchner, está
perto dos 90%, seis meses depois
da posse, segundo duas pesquisas
divulgadas ontem. No mês passado, era de cerca de 70%.
A confiança dos argentinos é
tanta que um desses levantamentos, feito pela consultoria Equis
entre moradores de Buenos Aires,
mostrou que 70% dos entrevistados se disseram à vontade para
deixar com Kirchner até o dinheiro do condomínio.
Além disso, mais da metade dos
entrevistados afirmou não crer
que Kirchner seja capaz de "roubar a mulher de outro homem". A
maioria, no entanto, considera
que Kirchner tem um pecado grave -a soberba- e, para 54%, ele
apresenta traços "autoritários".
A pesquisa, encomendada pelo
governo, deu 88,8% de aprovação
ao presidente. Apenas 4% o desaprovam. O levantamento ouviu
960 pessoas na região metropolitana de Buenos Aires. Não foi divulgada a margem de erro.
Outra pesquisa, da Research International-Analogías, aponta
que a aprovação a Kirchner é de
86%, contra 11,1% que o desaprovam.
Kirchner "está bem preparado
para governar" segundo 84,2%
dos entrevistados. Outros 82,9%
entendem que o presidente "tem
idéias e propostas de que o país
necessita". Para 83,3%, ele "tem
alto respeito pelas instituições".
A pesquisa ouviu 1.200 pessoas
em todo o país, entre os dias 24 e
26 de novembro. A margem de erro é de 2,8 pontos percentuais.
Balanço eleitoral
Além de manter altas taxas de
popularidade, Kirchner vem também consolidando apoio político.
O fim do calendário eleitoral de
2003 na Argentina deu ao Partido
Justicialista -ao qual pertence o
presidente- sua maior hegemonia desde 1983 e o maior nível de
predomínio na Câmara na história do país. A vitória justicialista
(peronista) dá a Kirchner, eleito
em maio com 20% dos votos,
maioria no Congresso e aliados
na maior parte das Províncias.
No balanço final, o peronismo
ganhou 134 das 257 cadeiras da
Câmara, 40 das 72 vagas no Senado e 16 dos 23 governos de Províncias. "O governo está mais forte porque Kirchner não tinha poder político e agora começa a
construir um poder. Hoje tem
mais deputados que antes, mais
senadores que antes. Existe um
processo incipiente de acumulação de poder", avaliou o analista
político Hugo Haime.
Os números das eleições, no entanto, devem ser vistos com cuidado, porque o peronismo está
dividido. "É certo que, hoje, [o ex-presidente Eduardo] Duhalde é o
dirigente peronista com maior
poder e que, sem ele, Kirchner
não teria condições para governar", disse Julio Burdman, analista político.
Além do apoio dos "duhaldistas" -bloco de cerca de 40 deputados alinhados ao ex-presidente-, Kirchner terá ainda de conquistar o bloco "azul e branco", de
deputados ligados a outro ex-presidente peronista, Carlos Menem.
E encontrará dificuldades para
se acercar do bloco comandado
por Adolfo Rodríguez Saá. Recém-eleito deputado, Saá já sinalizou que vai trabalhar no seu lançamento como candidato nas
próximas eleições presidenciais.
Apesar disso, os analistas são
otimistas. "Não se pode dizer que
o peronismo responde totalmente a Kirchner no longo prazo.
Mas, neste momento, sim, está
respondendo a ele e muito claramente. Kirchner está aprovando
no Congresso tudo o que quer, e
com maiorias inéditas na Argentina", disse Burdman.
"Ainda que não se possa garantir que Kirchner tenha uma liderança absoluta sobre o peronismo, ele é o líder político de uma
coalizão muito ampla e que compartilha uma agenda político-econômica que aponta claramente a
uma direção distinta da dos anos
90", avaliou.
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