São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2006

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A 48h de pleito, Rosales radicaliza discurso

Candidato da oposição na Venezuela diz que romperá com o Irã e que não dará "dinheiro dos venezuelanos" a países como Cuba

Caso vença, oposicionista quer manter programas e reduzir mandato de 6 para 4 anos, com possibilidade para apenas uma reeleição

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

De cabelos precocemente cinza-azulados num corte moderno, com terno de caimento perfeito, o candidato oposicionista Manuel Rosales, 53, marca seu encontro com alguns membros da imprensa estrangeira num restaurante japonês freqüentado pela alta classe venezuelana, num bairro rico de Caracas, ontem.
Chega, senta-se ao centro de uma mesa em que todos têm seus lugares marcados por cartões e começa a falar, para depois responder a algumas perguntas. Em pouco mais de sessenta minutos, deixará claro que, a menos de 48 horas de uma das eleições mais polarizadas da história do país, resolveu radicalizar seu discurso.
Atrás do presidente Hugo Chávez, segundo as pesquisas mais recentes feitas por institutos internacionais, o ex-governador do Estado petrolífero de Zulia dirá que suas próprias pesquisas o colocam na frente.
Que o "candidato do governo" (ele se recusa a chamá-lo pelo nome) quer ser presidente eterno. E que Rosales romperá diversos acordos que "dão dinheiro do venezuelano" a outros países, como Irã e Cuba. Leia trechos de sua entrevista.

 

DEMOCRACIA VENEZUELANA
"A democracia venezuelana está doente. Vem se deteriorando e se desmantelando há alguns anos. Parece uma democracia, mas no funcionamento, nos valores, nos princípios, é uma caricatura. Os poderes estão seqüestrados. O Ministério Público, o Poder Judiciário são apêndices da Presidência e do Executivo."

OPOSIÇÃO
"Foram três meses contra uma candidatura que controla tudo, tem todos os recursos, todos os mecanismos, as possibilidades de todos os pontos de vista para manipular, orientar, definir tudo o que quiser. Depois de sete anos com um presidente sozinho na arena política, podemos dizer que temos uma candidatura empurrada pelo povo."

PESQUISAS
"Queremos anunciar ao mundo que a Venezuela terá um novo presidente a partir de domingo. A maioria das pesquisas de opinião sérias, cientificamente elaboradas, diz que há dois meses vem acontecendo um crescimento importante da minha candidatura e uma queda da outra, que há duas semanas elas se cruzaram e que hoje estamos com uma vantagem entre cinco e dez pontos."

SE VENCER
"As Forças Armadas, depois que se manifeste o povo da Venezuela, terão de me entregar o poder. Terão. Não vamos pedir por favor. Se eles perderem as eleições, como vão, têm de entregar o poder, para iniciar a reconciliação, a reconstrução."

SUPOSTO ATENTADO
"A mim me preocupa [o suposto atentado desbaratado que Chávez anunciou] porque ele não apresentou provas. Ele fala há vários anos de supostos atentados contra ele. E, quando se refere a mim sem apresentar prova, não sei se é uma cortina de fumaça. Se acontecer algo a mim, o primeiro responsável a ser investigado é ele. Porque vivi duas emboscadas durante a campanha eleitoral provocadas por grupos armados que dependem do governo."

FRAUDE
"Deixei claro e vou repetir agora: não vou aceitar que mudem as normas ou as leis nem que inventem regras que não estão na lei. Que ganhe quem tenha o voto. Que o jogo seja limpo e transparente. Que não restem dúvidas do que vai acontecer no dia 3."

APOIO A PAÍSES ESTRANGEIROS
"Esse governo se mete na política interna de outros países, apóia governos, apóia candidaturas, apóia movimentos, apóia tendências ideológicas, deu mais de US$ 36 bilhões a outros países, dinheiro do venezuelano. É abuso do governo e um drama para a Venezuela, porque temos desemprego. Mais de um milhão de venezuelanos ganham US$ 1 por dia e 7 milhões mais de US$ 2 por dia. E como esse governo deu US$ 36 bilhões a outros países? São acordos que eu suspenderia imediatamente. Os 100 mil barris diários que damos a Cuba vão para o governo, porque todos sabemos como vive o povo. Isso não podemos aceitar. Está financiando o comunismo castrista, e quem lhe deu autoridade para fazer isso?"

IRÃ
"Uma das decisões que vou tomar é suspender o tratado comercial, político, ideológico com o Irã, porque é um governo acusado de terrorismo. Além disso, o acordo prejudica o povo venezuelano. E suspenderei parte do acordo com a Rússia. Compraremos armas, sim, de acordo com as necessidades das Forças Armadas, mas equipamento moderno, não um ferro-velho."

REFORMA CONSTITUCIONAL
"Que se reduza o mandato presidencial a quatro anos com direito a uma reeleição, oito anos no total. Os oito anos desse governo estão cumpridos. Agora, vem oito anos de Manuel Rosales. São o suficiente. Sem um presidente eterno como quer o atual, que quer copiar o modelo Fidel."

PROGRAMAS SOCIAIS
"Vamos manter e ampliar. Mas não só com médicos cubanos. Primeiro temos de empregar nossos próprios médicos, depois traremos os de Cuba, México, EUA."


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