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A 48h de pleito, Rosales radicaliza discurso
Candidato da oposição na Venezuela diz que romperá com o Irã e que não dará "dinheiro dos venezuelanos" a países como Cuba
Caso vença, oposicionista
quer manter programas e
reduzir mandato de 6 para 4
anos, com possibilidade
para apenas uma reeleição
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
De cabelos precocemente
cinza-azulados num corte moderno, com terno de caimento
perfeito, o candidato oposicionista Manuel Rosales, 53, marca seu encontro com alguns
membros da imprensa estrangeira num restaurante japonês
freqüentado pela alta classe venezuelana, num bairro rico de
Caracas, ontem.
Chega, senta-se ao centro de
uma mesa em que todos têm
seus lugares marcados por cartões e começa a falar, para depois responder a algumas perguntas. Em pouco mais de sessenta minutos, deixará claro
que, a menos de 48 horas de
uma das eleições mais polarizadas da história do país, resolveu
radicalizar seu discurso.
Atrás do presidente Hugo
Chávez, segundo as pesquisas
mais recentes feitas por institutos internacionais, o ex-governador do Estado petrolífero
de Zulia dirá que suas próprias
pesquisas o colocam na frente.
Que o "candidato do governo"
(ele se recusa a chamá-lo pelo
nome) quer ser presidente
eterno. E que Rosales romperá
diversos acordos que "dão dinheiro do venezuelano" a outros países, como Irã e Cuba.
Leia trechos de sua entrevista.
DEMOCRACIA VENEZUELANA
"A democracia venezuelana
está doente. Vem se deteriorando e se desmantelando há
alguns anos. Parece uma democracia, mas no funcionamento,
nos valores, nos princípios, é
uma caricatura. Os poderes estão seqüestrados. O Ministério
Público, o Poder Judiciário são
apêndices da Presidência e do
Executivo."
OPOSIÇÃO
"Foram três meses contra
uma candidatura que controla
tudo, tem todos os recursos, todos os mecanismos, as possibilidades de todos os pontos de
vista para manipular, orientar,
definir tudo o que quiser. Depois de sete anos com um presidente sozinho na arena política, podemos dizer que temos
uma candidatura empurrada
pelo povo."
PESQUISAS
"Queremos anunciar ao
mundo que a Venezuela terá
um novo presidente a partir de
domingo. A maioria das pesquisas de opinião sérias, cientificamente elaboradas, diz que há
dois meses vem acontecendo
um crescimento importante da
minha candidatura e uma queda da outra, que há duas semanas elas se cruzaram e que hoje
estamos com uma vantagem
entre cinco e dez pontos."
SE VENCER
"As Forças Armadas, depois
que se manifeste o povo da Venezuela, terão de me entregar o
poder. Terão. Não vamos pedir
por favor. Se eles perderem as
eleições, como vão, têm de entregar o poder, para iniciar a reconciliação, a reconstrução."
SUPOSTO ATENTADO
"A mim me preocupa [o suposto atentado desbaratado
que Chávez anunciou] porque
ele não apresentou provas. Ele
fala há vários anos de supostos
atentados contra ele. E, quando
se refere a mim sem apresentar
prova, não sei se é uma cortina
de fumaça. Se acontecer algo a
mim, o primeiro responsável a
ser investigado é ele. Porque vivi duas emboscadas durante a
campanha eleitoral provocadas
por grupos armados que dependem do governo."
FRAUDE
"Deixei claro e vou repetir
agora: não vou aceitar que mudem as normas ou as leis nem
que inventem regras que não
estão na lei. Que ganhe quem
tenha o voto. Que o jogo seja
limpo e transparente. Que não
restem dúvidas do que vai
acontecer no dia 3."
APOIO A PAÍSES ESTRANGEIROS
"Esse governo se mete na política interna de outros países,
apóia governos, apóia candidaturas, apóia movimentos, apóia
tendências ideológicas, deu
mais de US$ 36 bilhões a outros
países, dinheiro do venezuelano. É abuso do governo e um
drama para a Venezuela, porque temos desemprego. Mais
de um milhão de venezuelanos
ganham US$ 1 por dia e 7 milhões mais de US$ 2 por dia.
E como esse governo deu
US$ 36 bilhões a outros países?
São acordos que eu suspenderia imediatamente. Os 100 mil
barris diários que damos a Cuba vão para o governo, porque
todos sabemos como vive o povo. Isso não podemos aceitar.
Está financiando o comunismo
castrista, e quem lhe deu autoridade para fazer isso?"
IRÃ
"Uma das decisões que vou
tomar é suspender o tratado
comercial, político, ideológico
com o Irã, porque é um governo
acusado de terrorismo. Além
disso, o acordo prejudica o povo venezuelano. E suspenderei
parte do acordo com a Rússia.
Compraremos armas, sim, de
acordo com as necessidades
das Forças Armadas, mas equipamento moderno, não um ferro-velho."
REFORMA CONSTITUCIONAL
"Que se reduza o mandato
presidencial a quatro anos com
direito a uma reeleição, oito
anos no total. Os oito anos desse governo estão cumpridos.
Agora, vem oito anos de Manuel Rosales. São o suficiente.
Sem um presidente eterno como quer o atual, que quer copiar o modelo Fidel."
PROGRAMAS SOCIAIS
"Vamos manter e ampliar.
Mas não só com médicos cubanos. Primeiro temos de empregar nossos próprios médicos,
depois traremos os de Cuba,
México, EUA."
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