São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Opositor critica Lula e ameaça deixar Mercosul

DO ENVIADO A CARACAS

No encontro de ontem, Manuel Rosales ironizou a visita que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, fez a Hugo Chávez há duas semanas, ato criticado por um diretor do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). "Lula emitiu alguns critérios como pagamento de tudo o que lhe fez a Venezuela", disse o oposicionista à Folha, quando instado a comentar o incidente.
"Eu peço a ele que o Brasil ajude a meu governo e que as relações sejam mais equilibradas, pois nós precisamos de mais ajuda do Brasil do que o contrário." No dia 13 de novembro, o presidente brasileiro visitou o país para participar da inauguração de uma ponte ao lado de Chávez. Na ocasião, disse que, se os banqueiros e empresários tivessem de fazer uma opção entre Chávez e "um outro lá que seja mais próximo deles, não tenha dúvida de que o preconceito fará com que eles estejam do lado de lá".
Ontem, Rosales respondeu. "Sou um homem positivo, creio que Lula se equivocou, mas para mim é uma passagem esquecida. Quando eu ganhar, ligarei para ele." Depois, diria: "Peço que Lula e seu governo nos ajudem. Temos muita coisa que aprender com o Brasil".
O candidato da oposição também ameaçou retirar a Venezuela do Mercosul. "O acordo será revisado", disse. Indagado sobre como se daria a revisão, elaborou: "Vamos fazer propostas sobre o que significa o Mercosul a partir de nossa visão. E, a partir daí, de algumas condições que nós queremos que se modifique, decidiremos se terminará nossa participação ou não".
Em termos gerais, no entanto, o candidato disse que "o ideal seria que estivéssemos no Mercosul e na CAN (Comunidade Andina de Nações)" ao mesmo tempo. Sob Hugo Chávez, a Venezuela passou a integrar o Mercosul e se retirou da CAN. O último ato foi tomado em protesto contra os acordos bilaterais com os EUA firmados pelo Peru e pela Colômbia, que provocaram crise diplomática na região andina.
Considerado o candidato que agrada a Washington e dizendo-se um "democrata social moderno", Rosales afirmou que um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, nos moldes dos que fizeram recentemente Peru e Colômbia, não é "necessariamente" uma prioridade.
"Nós já temos os EUA como nosso maior parceiro comercial, mas não temos necessariamente de falar desde já da assinatura de um tratado comercial", desconversou. Para ele, "a liquidez que já temos não refrescaria muito com esse tipo de acordo".
Sobre a pressão do governo Bush para a realização de tratados bilaterais com os países da América do Sul, como maneira de pressionar principalmente o Brasil a aceitar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), e sobre o esvaziamento do Mercosul, o ex-governador tentou ser menos polêmico e mais filosófico.
Depois de dizer que não iria entrar em detalhes, afirmou: "Temos nossa visão democrática e social, mas para melhorar, não para destruir um organismo e criar um novo e ser o fundador ou o novo dono ou protagonista desse novo organismo. Se temos de fazer um acordo, não se pode partir da premissa da destruição do organismo anterior".
Para ele, há no continente tratados assinados apenas por pressão política. "São acordos meramente políticos ou que não se cumprem e não vão à solução dos problemas." (SD)


Texto Anterior: Bolivarianas
Próximo Texto: Centenas de milhares pedem saída do premiê no Líbano
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.