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Centenas de milhares pedem saída do premiê no Líbano
Manifestação convocada pelo Hizbollah põe em risco equilíbrio político em país dividido
Siniora ignora protesto; inquérito da ONU diz que Israel deve indenizar as vítimas libanesas do conflito com o grupo xiita
DA REDAÇÃO
Atendendo a uma convocação do Hizbollah, centenas de
milhares de libaneses lotaram
ontem uma praça diante da sede do governo em Beirute para
pedir a renúncia do premiê
Fuad Siniora, cujo governo vem
perdendo força para o grupo
xiita desde a guerra deste com
Israel, em julho e agosto. Um
levantamento divulgado em
outubro pelo Centro de Pesquisa e Informação de Beirute indicou que, se fossem realizadas
eleições hoje, o Hizbollah e
seus aliados conquistariam
maioria no Parlamento.
Aliado à Síria e ao Irã e listado pelos EUA como terrorista,
o Hizbollah acusa o governo de
Siniora de atuar como um fantoche de Washington. Na semana retrasada, após ver rejeitada sua exigência por poder de
veto no governo, cinco ministros ligados ao grupo renunciaram, deixando o gabinete sem
integrantes xiitas e pondo em
xeque o frágil equilíbrio político do país, forjado em acordos
que distribuem os cargos do governo entre facções religiosas
(veja quadro abaixo).
Os protestos, convocados para demonstrar união entre a
oposição, também contaram
com o líder cristão Michel
Aoun. Popular entre os cristãos
e aliado do grupo xiita, Aoun é
visto por analistas como o elemento de coesão entre as duas
facções -o que pode tornar
ainda mais delicada a situação
de Siniora, muçulmano sunita.
"Eu peço ao premiê e a seus
ministros que renunciem", disse Aoun à multidão, clamando
por um governo de unidade nacional. "Gostaria que o premiê
estivesse entre nós hoje, e não
escondido atrás de arame farpado e carros blindados."
Dentro de seu gabinete, Siniora aparentemente seguiu
com sua agenda. Na véspera, o
premiê havia dito que seu governo não cairia e afirmara que
a "independência do Líbano estava ameaçada e seu sistema
político, sob risco".
Em Nova York, o embaixador
americano na ONU, John Bolton, classificou o protesto como "parte de um golpe de Estado inspirado pelo Irã e pela Síria". Os EUA apóiam o governo
de Siniora.
Nasrallah
A segurança foi reforçada no
centro da capital e nas imediações do gabinete do premiê, e
os protestos, que segundo a polícia reuniram cerca de 800 mil
pessoas, transcorreram de forma pacífica. As ruas ficaram repletas de bandeiras do Líbano
-ao convocar as manifestações, o grupo pediu que seus seguidores trouxessem a bandeira nacional em vez da bandeira
amarela e verde do Hizbollah.
O líder do grupo xiita, xeque
Hassan Nasrallah, não participou da manifestação de ontem.
Mas seus discursos foram
transmitidos por alto-falantes
para a multidão, que entoava os
hinos do Hizbollah.
A multidão, segundo agências de notícias, pareceu superar a reunida na semana passada após o assassinato do político cristão anti-Síria Pierre Gemayel, que acirrou as tensões
no país. O Hizbollah e seus aliados também convocaram seus
simpatizantes para acampar
diante do gabinete de Siniora.
Os governistas acusam a Síria
de estar por trás da campanha
do Hizbollah, numa tentativa
de reconquistar a influência
que perdeu no Líbano nos últimos anos. Já a oposição afirma
que o país caiu sob domínio dos
EUA e que o atual governo lhes
tirou o espaço político.
Indenização de Israel
Um inquérito da ONU divulgado ontem recomenda que o
organismo pressione Israel a
compensar a população libanesa por danos causados durante
os 34 dias de guerra com o Hizbollah. A comissão, liderada pelo brasileiro João Clemente
Baeana Soares, sugere a criação
de um programa internacional
semelhante ao instaurado para
o Kuait após a invasão iraquiana, em 1990.
O relatório, que acusa Israel
de "uso indiscriminado, excessivo e desproporcional de força", será submetido ao Conselho de Direitos Humanos da
ONU. Israel diz que o inquérito
não é representativo e ignora os
4.000 foguetes que a milícia xiita disparou contra seu território durante o conflito.
Com agências internacionais
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