São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2006

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Centenas de milhares pedem saída do premiê no Líbano

Manifestação convocada pelo Hizbollah põe em risco equilíbrio político em país dividido

Siniora ignora protesto; inquérito da ONU diz que Israel deve indenizar as vítimas libanesas do conflito com o grupo xiita

DA REDAÇÃO

Atendendo a uma convocação do Hizbollah, centenas de milhares de libaneses lotaram ontem uma praça diante da sede do governo em Beirute para pedir a renúncia do premiê Fuad Siniora, cujo governo vem perdendo força para o grupo xiita desde a guerra deste com Israel, em julho e agosto. Um levantamento divulgado em outubro pelo Centro de Pesquisa e Informação de Beirute indicou que, se fossem realizadas eleições hoje, o Hizbollah e seus aliados conquistariam maioria no Parlamento.
Aliado à Síria e ao Irã e listado pelos EUA como terrorista, o Hizbollah acusa o governo de Siniora de atuar como um fantoche de Washington. Na semana retrasada, após ver rejeitada sua exigência por poder de veto no governo, cinco ministros ligados ao grupo renunciaram, deixando o gabinete sem integrantes xiitas e pondo em xeque o frágil equilíbrio político do país, forjado em acordos que distribuem os cargos do governo entre facções religiosas (veja quadro abaixo).
Os protestos, convocados para demonstrar união entre a oposição, também contaram com o líder cristão Michel Aoun. Popular entre os cristãos e aliado do grupo xiita, Aoun é visto por analistas como o elemento de coesão entre as duas facções -o que pode tornar ainda mais delicada a situação de Siniora, muçulmano sunita.
"Eu peço ao premiê e a seus ministros que renunciem", disse Aoun à multidão, clamando por um governo de unidade nacional. "Gostaria que o premiê estivesse entre nós hoje, e não escondido atrás de arame farpado e carros blindados."
Dentro de seu gabinete, Siniora aparentemente seguiu com sua agenda. Na véspera, o premiê havia dito que seu governo não cairia e afirmara que a "independência do Líbano estava ameaçada e seu sistema político, sob risco".
Em Nova York, o embaixador americano na ONU, John Bolton, classificou o protesto como "parte de um golpe de Estado inspirado pelo Irã e pela Síria". Os EUA apóiam o governo de Siniora.

Nasrallah
A segurança foi reforçada no centro da capital e nas imediações do gabinete do premiê, e os protestos, que segundo a polícia reuniram cerca de 800 mil pessoas, transcorreram de forma pacífica. As ruas ficaram repletas de bandeiras do Líbano -ao convocar as manifestações, o grupo pediu que seus seguidores trouxessem a bandeira nacional em vez da bandeira amarela e verde do Hizbollah.
O líder do grupo xiita, xeque Hassan Nasrallah, não participou da manifestação de ontem. Mas seus discursos foram transmitidos por alto-falantes para a multidão, que entoava os hinos do Hizbollah.
A multidão, segundo agências de notícias, pareceu superar a reunida na semana passada após o assassinato do político cristão anti-Síria Pierre Gemayel, que acirrou as tensões no país. O Hizbollah e seus aliados também convocaram seus simpatizantes para acampar diante do gabinete de Siniora.
Os governistas acusam a Síria de estar por trás da campanha do Hizbollah, numa tentativa de reconquistar a influência que perdeu no Líbano nos últimos anos. Já a oposição afirma que o país caiu sob domínio dos EUA e que o atual governo lhes tirou o espaço político.

Indenização de Israel
Um inquérito da ONU divulgado ontem recomenda que o organismo pressione Israel a compensar a população libanesa por danos causados durante os 34 dias de guerra com o Hizbollah. A comissão, liderada pelo brasileiro João Clemente Baeana Soares, sugere a criação de um programa internacional semelhante ao instaurado para o Kuait após a invasão iraquiana, em 1990.
O relatório, que acusa Israel de "uso indiscriminado, excessivo e desproporcional de força", será submetido ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. Israel diz que o inquérito não é representativo e ignora os 4.000 foguetes que a milícia xiita disparou contra seu território durante o conflito.


Com agências internacionais


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