São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2006

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Dissidente afirma ter sofrido ameaças de morte durante sessão no Senado

FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

O suplente de senador Andrés Fermín Heredia Guzmán esteve no centro das atenções nesta semana na Bolívia, ao furar o bloqueio imposto pela oposição no Senado para aprovar na terça-feira, junto com a bancada governista, a controvertida lei de terras, que assegura ao Executivo o poder para determinar se uma terra é ou não produtiva.
Heredia Guzmán rompeu com a posição do seu partido, o direitista Podemos (Poder Democrático e Social), junto com o senador Mario Vargas. Mas, no final da sessão, estava sozinho. Fotos na imprensa local o mostram cercado pelas cadeiras vazias da bancada oposicionista.
"Mario Vargas saiu no meio da sessão porque houve a invasão de um deputado do Podemos que nos ameaçou. Arrombou a porta de entrada do Senado, quebrou os vidros. Ele chegou aos nossos ouvidos e disse: "Vocês vão morrer'", disse ontem à Folha Heredia Guzmán, em português impecável, durante entrevista no apartamento de seu irmão, em São Paulo.

Amigos
Sobre a mesa, fotos dele ao lado dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner (Argentina) e Hugo Chávez (Venezuela), além do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
"Ele [o deputado do Podemos] pegava seu celular e nos colocava no ouvido. Ouvi burburinhos e um "vou te matar", uma coisa assim. Não dei corda, ele aparentava estar embriagado", afirmou.
O suplente disse que foi convencido a substituir o senador titular e a votar pelo governo pelo vice-presidente Álvaro García Linera, considerado o grande estrategista político de Evo Morales. "O García Linera, por ter atribuição constitucional e ser o presidente nato do Congresso, me convocou para que pudéssemos ter uma conversa referente à lei. E, lendo juntos, me convenci de que era o melhor para a população boliviana. Por outro lado, estavam vindo a La Paz populações de camponeses indígenas. A gente sentia que rios de sangue iam correr na nossa terra. Não tinha alternativa."
Acusado de ter recebido suborno pelo próprio partido, ele nega. "Se, por ventura, o García Linera tivesse me proposto outra coisa, imediatamente iria sair da sala e estaria ausente do plenário."
Com fortes laços no Brasil -é casado com uma brasileira e foi representante comercial do governo boliviano em São Paulo-, Heredia Guzmán intermediou, em julho, uma visita de García Linera a Lula. A programação da viagem, cancelada na última hora, incluía o empréstimo de um avião da FAB e um jantar com Dirceu. García Linera acabou viajando em agosto ao Brasil, sem o envolvimento do suplente do Podemos.


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