São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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Consultor compara presidente a De Gaulle e diz que ele visa Rússia européia

DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O chamado Ocidente tenta vender uma imagem de Vladimir Putin como um czar totalitário, mas na verdade sua posição de força esconde um homem preocupado em "europeizar" a Rússia, que defende a lei. Para seu povo, Putin será lembrado como um Franklin Delano Roosevelt ou um Charles de Gaulle, e seu domínio do campo político só reflete essa estatura. As opiniões são de um dos poucos homens que o presidente da Rússia ouve fora do Kremlin, o cientista político Sergei Markov, diretor do Instituto para Ciência Política de Moscou. A argumentação, lembrando duas figuras históricas associadas com recuperação nacional e orgulho patriótico, embute a idéia de que o partido Rússia Unida é apenas uma decorrência do poder de Putin. Markov, 49, falou à Folha por celular, durante uma viagem de carro na quarta-feira. (IGOR GIELOW)

 

FOLHA - Vladimir Putin é um candidato a czar?
SERGEI MARKOV -
Você tem de entender melhor Putin pensando em Roosevelt, De Gaulle. Ambos tiraram seus países de graves crises e os colocaram em posições sólidas. Foi isso que Putin fez. Assim, quem vota no Rússia Unida vota em Putin.

FOLHA - A propaganda eleitoral diz isso claramente.
MARKOV -
Sim, porque Putin criou o partido.

FOLHA - Digamos que o Rússia Unida tenha a vitória esmagadora que se prevê. O que virá depois? O que Putin fará para ficar no poder?
MARKOV -
Eu acho que qualquer um que for o novo presidente em março será muito, muito menos popular e forte que ele. De qualquer modo, será eleito por sua indicação. Há um grande desconhecimento da Constituição russa. Falam que ela criou um superpresidencialismo, quando na verdade ela prevê que haja grande força oriunda do Parlamento, dos grupos políticos. O problema é que eles estavam desorganizados.

FOLHA - Mas o próprio presidente da Duma já disse que lá não é um lugar para discussões.
MARKOV -
O que quero dizer é que já houve momentos em que o premiê era mais forte do que o presidente. Por exemplo, durante a crise final de seu governo, Boris Ieltsin era mais fraco que Ievguêni Primakov.

FOLHA - Ok, mas então Putin seria um primeiro-ministro forte? E a sugestão de virar um "líder nacional"?
MARKOV -
Eu não sei qual será o formato.

FOLHA - O sr. concorda com a avaliação, veiculada por apoiadores de Putin, de que a Rússia tem essa tradição de confiança num homem forte, algo czarista?
MARKOV -
Sim, existe essa percepção, e ela é um problema. E Putin acha isso um problema.

FOLHA - Como assim, se ele é o beneficiário?
MARKOV -
Há uma pressão séria do público para que a Constituição seja mudada, para que Putin possa ser reeleito de novo. Ele se nega. Ele negou a pressão, com mais de 50% do público pedindo isso. Porque Putin é assim. Ele quer uma Rússia mais européia, mais institucional. Ele apóia a lei.

FOLHA - Seus críticos dizem o contrário, e que a eleição da Duma é uma farsa visando dar esse aspecto constitucional a manobras futuras.
MARKOV -
Não é verdade. Putin é o homem que tirou esse país da crise, tem apoio da maioria.


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