São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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Para opositor, mudança traria centralização de poder danosa

DE CARACAS

Para o prefeito opositor Henrique Capriles Radonski (Primeiro Justiça, centro-direita), a reforma constitucional transformará a Venezuela em um capitalismo de Estado e debilitará os governos regionais. Aos 35 anos, desde 2000 ele é prefeito de Baruta (500 mil habitantes), município que compõe Caracas. A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha. (FM)

 

FOLHA - O que acontecerá no país caso o "sim" vença?
HENRIQUE CAPRILES RADONSKI -
Em todos os países onde os governos são poderosos, os cidadãos são débeis. O melhor que pode acontecer à Venezuela e a Chávez é que o "não" vença. Se o "sim" ganhar, ninguém mais vai contrariá-lo, e todos os poderes se concentrarão nas mãos de uma pessoa.
Desde a época de Simón Bolívar nunca fomos defensores do poder em mãos de um governante por muito tempo. Aumentando o mandato para sete anos, será o maior período presidencial da América Latina.

FOLHA - Quais são os pontos mais problemáticos?
CAPRILES -
Eu começaria pela linguagem ambígua, abstrata, falando de socialismo sem dizer o que é. Eu estou de acordo com o socialismo moderno, progressista, e não com a revolução cultural de Mao Tsé-tung, por exemplo, que é o que Chávez propõe. O período presidencial longo, o fortalecimento do poder nacional, a administração pelo presidente das reservas internacionais e do Banco Central para se garantir no poder. A nova geometria do poder, que não é clara.
Nós melhoramos a qualidade de vida dos venezuelanos porque o país deixou de ser um Estado federal. Os eventuais pontos positivos, como a redução da jornada de trabalho, não precisam de uma reforma constitucional. Viveríamos num capitalismo de Estado, com o Estado tentando ser dono de tudo. Não creio nessa visão. O Estado deve se concentrar no básico: segurança, justiça, educação e saúde.

FOLHA - Chávez passaria a nomear o governador de Caracas. O que acontecerá com a capital?
CAPRILES -
Caracas entrará numa dinâmica totalmente incerta, será administrada do [Palácio] Miraflores. Está errado; que as pessoas escolham seu governante. Eu, como governante, tenho de prestar contas ao cidadão. Se Chávez é quem me nomeia, vou prestar contas ao presidente, o meu chefe.
Há um processo de enfraquecimento das prefeituras. O governo fala de fortalecimento do poder popular, de transferir os serviços ao poder popular. A mim parece bom, mas não na medida em que vira uma relação direta com o poder nacional. O Conselho Comunitário trocará lâmpadas nas ruas?


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