São Paulo, quarta-feira, 03 de janeiro de 2007

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Iraque teve recorde de mortes, diz governo

Número oficial é de 1.930 civis mortos em dezembro; para ONU, cifra é maior

Ministério do Interior relata aumento da violência entre grupos religiosos rivais; total de mortes computadas em 2006 chegou a 12.320

DA REDAÇÃO

O Ministério do Interior do Iraque anunciou ontem que 12.320 civis foram mortos no ano passado em confrontos internos. Só em dezembro o número de vítimas civis foi recorde e chegou a 1.930, uma centena a mais que no mês anterior e três vezes e meia os 548 registrados no mês de janeiro.
Segundo o levantamento, em 2006 foram mortos no Iraque 1.231 policiais e 602 militares. Ficaram feridos 15.143 civis e 2.113 militares ou policiais.
Essas cifras, apesar de bastante expressivas, são consideradas bem inferiores à realidade. As Nações Unidas, com base em levantamentos do Ministério da Saúde e do serviço de medicina legal de Bagdá, acreditam que em média 120 civis sejam mortos diariamente.
Só em outubro a ONU calculava em 2.700 as mortes de civis. A estimativa foi considerada "exagerada" pelo governo iraquiano -para aquele mês, ele calculava as mortes civis em 1.289. O governo tem aumentado a periodicidade de divulgação de seus boletins, provavelmente sob a pressão dos grupos xiitas, responsáveis pelos esquadrões da morte que fazem vítimas na comunidade sunita de Bagdá, diz a Reuters.
Em dezembro, morreram ao menos 112 soldados americanos, maior cifra registrada em dois anos num único mês. No total, 3.003 americanos já morreram desde a invasão do país, em 2003. O Reino Unido já perdeu 127 militares.
A organização não-governamental Iraq Body Count estima que, desde o início da guerra, o Iraque tenha perdido entre 4.900 e 6.375 militares, enquanto o número de civis mortos estaria entre 52.139 e 57.707, números que a entidade crê serem subestimados.

Congresso democrata
O novo Congresso americano, com a oposição democrata na maioria das duas Casas, reúne-se amanhã, e as mudanças na política para o Iraque estarão na ordem do dia.
O jornal "Military Times", lido por soldados americanos no Iraque, divulgou enquete segundo a qual apenas 35% de seus leitores aprovavam a política de Bush para o país, enquanto 42% a desaprovavam.
O presidente George W. Bush deve anunciar proximamente o envio de mais 15 mil a 30 mil novos soldados, para tratarem sobretudo da segurança de Bagdá, onde os grupos radicais xiitas são como principal fonte de violência.
Um de seus dirigentes é o clérigo Moqtada al Sadr, um aliado do primeiro-ministro Nuri al Maliki, que se encontra em posição delicada por não responder às pressões americanas para forçar esses milicianos a abandonarem suas operações de extermínio.
Foram partidários de Sadr que aparentemente participaram da execução, no sábado, de Saddam Hussein, agredindo verbalmente o ditador momentos antes de seu enforcamento e por isso alimentando o clima de tensão sectária com a comunidade minoritária sunita.
O vice-primeiro-ministro britânico, John Prescott, qualificou ontem de "deplorável" a divulgação do vídeo de dois minutos que retratam os últimos momentos de Saddam. O premiê Tony Blair, em sua mensagem de Ano Novo, não tocou no assunto. O Reino Unido é o principal aliado de Bush.
O premiê iraquiano reiterou ontem, por meio de assessores, que instalaria uma comissão de inquérito sobre os incidentes registrados no cadafalso. Mas observadores acreditam que ele não colocará em situação delicada seus aliados xiitas.
O Vaticano voltou a se pronunciar sobre o enforcamento, qualificando-o de um "espetáculo" que "violou os direitos humanos e comprometeu os esforços para promover a reconciliação no Iraque".


Com agências internacionais


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