São Paulo, quarta-feira, 03 de janeiro de 2007

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Irã em ascensão desafia vizinhos do Golfo Pérsico

Sunitas buscam estratégia para balanço de poder

ROULA KHALAF
DO "FINANCIAL TIMES"

Em uma recente viagem a Bahrain, Manouchehr Mottaki, ministro do Exterior iraniano, professou ter a resposta para os problemas do Golfo Pérsico. Ele sugeriu que a melhor maneira de obter estabilidade seria remover as forças militares americanas, bem estabelecidas em toda a região, e substituí-las por uma aliança regional de segurança com Teerã.
Esse apelo a um Golfo Pérsico menos dependente de forças externas exerce atração entre os árabes comuns, ressentidos com os EUA e frustrados diante de governos que dependem excessivamente de Washington para sua segurança.
Mas os círculos oficiais consideram a sugestão de Mottaki um reflexo da suposta ambição do Irã de se tornar uma superpotência regional.
Os acontecimentos do ano passado reforçaram a percepção de que os iranianos, xiitas, representam a maior ameaça para os aliados sunitas de Washington na região, que abriga dois terços das reservas mundiais de petróleo.
A estratégia regional de Teerã vem sendo apoiar grupos militantes que mantêm posição de confronto com Israel. A abordagem funcionou de maneira eficiente quando o Hizbollah, grupo apoiado por Teerã no Líbano, conseguiu se defender de uma ofensiva militar israelense que durou um mês.
O que mais alarma os regimes sunitas árabes, porém, é que, caso os EUA fracassem em sufocar a disputa sectária no Iraque, o balanço de poder na região talvez venha a se inclinar ainda mais em favor de Teerã. Os líderes árabes, em sua maioria, apóiam a minoria sunita iraquiana.
A maioria das lideranças também se preocupa quanto a um possível diálogo entre Washington e Teerã, temendo que isso afete seus interesses.
Os países árabes do Golfo anunciaram neste mês que estudariam a possibilidade de desenvolver tecnologia nuclear. O anúncio suscitou preocupações quanto à proliferação atômica na região.
Washington, do seu lado, lançou uma iniciativa cujo objetivo é reforçar seus elos de segurança e defesa com os países árabes do Golfo Pérsico, e reforçou a presença de unidades navais americanas na região.
Mas a ambição última de Washington, criar um sistema de segurança multilateral, foi recebida com frieza. Desconfiados uns dos outros, os países árabes preferem se concentrar no aprofundamento de suas relações bilaterais com os EUA.
Representantes do governo norte-americano reconhecem que alguns dos países menores do Golfo também estão ponderando o valor de suas relações militares com os EUA, diante do risco de irritar Teerã.
O governo Bush se preocupa especialmente com o Catar, que abriga a maior base militar norte-americana na região. Washington quer explicações do governo do Catar quanto a recentes decisões, na ONU e na Liga Árabe, que pareciam mais simpáticas aos interesses regionais do Irã do que aos dos países árabes pró-ocidentais.
Alguns funcionários do governo iraquiano argumentam que a melhor estratégia dos países árabes para conter a influência iraniana é construir vínculos com a maioria xiita do Iraque. "Os xiitas do Iraque são árabes [não persas], e sentem que os árabes os rejeitaram", diz um funcionários iraquiano.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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