São Paulo, quinta-feira, 03 de janeiro de 2008

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Paquistão investigará com ajuda britânica

Ditador cede a pressões e põe Scotland Yard para apurar atentado a Benazir; país remarca eleições para 18 de fevereiro

"New York Times" diz que inteligência americana não acredita em versão oficial que envolve o Taleban no ataque à líder da oposição

DA REDAÇÃO

O ditador do Paquistão, general Pervez Musharraf, anunciou ontem que pediu ajuda ao governo britânico para investigar o atentado que há uma semana matou a líder da oposição, Benazir Bhutto. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, diz a BBC, concordou em enviar um grupo de especialistas da Scotland Yard.
Eles integram o Comando de Combate ao Terrorismo da Polícia Metropolitana e deverão chegar a Islamabad, capital paquistanesa, antes do próximo final de semana.
Ao mesmo tempo, o governo anunciou o adiamento para 18 de fevereiro das eleições parlamentares que deveriam ocorrer na próxima terça-feira. Asif Ali Zardari, viúvo de Benazir e co-presidente do Partido do Povo Paquistanês, disse aceitar a nova data e afirmou que "o povo poderá pacificamente exprimir seu protesto nas urnas".
Zardari há dias qualificara um possível adiamento de "inaceitável", e seus partidários procuravam capitalizar com uma votação rápida e ainda influenciada pelo clima emocional criado pelo atentado terrorista que vitimou a ex-premiê.
Outro líder da oposição, o ex-premiê Nawaz Sharif, que chefia um partido islâmico, disse que "de modo algum deixaremos que o espaço eleitoral seja ocupado pelo partido do rei", menção irônica a Musharraf.

Prova de fraqueza
O ditador deu prova de fraqueza ao pedir ajuda ao Reino Unido, ex-potência colonial, para as investigações.
Seu Ministério do Interior tentou difundir a versão de que Benazir não havia sido morta por tiros de um terrorista e pela explosão de um homem-bomba, o que caracterizaria negligência do dispositivo de proteção à candidata.
Segundo a versão oficial -que o PPP contestou-, a ex-premiê teria sucumbido ao traumatismo craniano, provocado pela maçaneta do teto solar do automóvel que ocupava.
Ross Feinstein, porta-voz do consórcio das agências americanas de inteligência, declarou-se satisfeito com a decisão do Paquistão de colocar a Scotland Yard nas investigações. O viúvo da ex-premiê assassinada também elogiou a iniciativa, embora voltasse a insistir na criação de uma comissão da ONU.
Musharraf, na mesma declaração pela TV em que anunciou a nova data das eleições, voltou a qualificar a morte de Benazir de "uma grande tragédia para a nação" e a responsabilizar vagamente "os terroristas".
Seu governo afirmou categoricamente de início se tratar de um ato do Taleban, grupo radical islâmico do vizinho Afeganistão, próximo da Al Qaeda.

Dúvidas americanas
Mas o "New York Times" diz que especialistas americanos em terrorismo não estão convencidos de que o governo paquistanês tenha razão, diante da falta de provas ou mesmo indícios que possam determinar ser essa a autoria.
Informantes do Pentágono disseram ao jornal que Washington também leva em conta a possibilidade de envolvimento de muçulmanos paquistaneses ou de grupos próximos do Taleban, mas que atuam dentro das fronteiras do Paquistão.
O "NYT" também diz ser até possível que os paquistaneses tenham razão ao terem apontado a responsabilidade de Baitullah Mehsud, terrorista abrigado por aldeias da fronteira afegã e que o governo responsabiliza por todos os atentados nos últimos meses.
Desde o atentado contra Benazir, o FBI, polícia federal americana, manteve um grupo de investigadores pronto para embarcar a qualquer momento para Islamabad.
Mas Washington ficou satisfeito com o convite à Scotland Yard, mesmo porque a proximidade de Musharraf com os Estados Unidos é um tema delicado entre os nacionalistas do Paquistão.


Com agências internacionais


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