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Paquistão investigará com ajuda britânica
Ditador cede a pressões e põe Scotland Yard para apurar atentado a Benazir; país remarca eleições para 18 de fevereiro
"New York Times" diz que inteligência americana não
acredita em versão oficial que envolve o Taleban no
ataque à líder da oposição
DA REDAÇÃO
O ditador do Paquistão, general Pervez Musharraf, anunciou ontem que pediu ajuda ao
governo britânico para investigar o atentado que há uma semana matou a líder da oposição, Benazir Bhutto. O primeiro-ministro britânico, Gordon
Brown, diz a BBC, concordou
em enviar um grupo de especialistas da Scotland Yard.
Eles integram o Comando de
Combate ao Terrorismo da Polícia Metropolitana e deverão
chegar a Islamabad, capital paquistanesa, antes do próximo
final de semana.
Ao mesmo tempo, o governo
anunciou o adiamento para 18
de fevereiro das eleições parlamentares que deveriam ocorrer na próxima terça-feira. Asif
Ali Zardari, viúvo de Benazir e
co-presidente do Partido do
Povo Paquistanês, disse aceitar
a nova data e afirmou que "o
povo poderá pacificamente exprimir seu protesto nas urnas".
Zardari há dias qualificara
um possível adiamento de "inaceitável", e seus partidários
procuravam capitalizar com
uma votação rápida e ainda influenciada pelo clima emocional criado pelo atentado terrorista que vitimou a ex-premiê.
Outro líder da oposição, o ex-premiê Nawaz Sharif, que chefia um partido islâmico, disse
que "de modo algum deixaremos que o espaço eleitoral seja
ocupado pelo partido do rei",
menção irônica a Musharraf.
Prova de fraqueza
O ditador deu prova de fraqueza ao pedir ajuda ao Reino
Unido, ex-potência colonial,
para as investigações.
Seu Ministério do Interior
tentou difundir a versão de que
Benazir não havia sido morta
por tiros de um terrorista e pela
explosão de um homem-bomba, o que caracterizaria negligência do dispositivo de proteção à candidata.
Segundo a versão oficial
-que o PPP contestou-, a ex-premiê teria sucumbido ao
traumatismo craniano, provocado pela maçaneta do teto solar do automóvel que ocupava.
Ross Feinstein, porta-voz do
consórcio das agências americanas de inteligência, declarou-se satisfeito com a decisão do
Paquistão de colocar a Scotland
Yard nas investigações. O viúvo
da ex-premiê assassinada também elogiou a iniciativa, embora voltasse a insistir na criação
de uma comissão da ONU.
Musharraf, na mesma declaração pela TV em que anunciou
a nova data das eleições, voltou
a qualificar a morte de Benazir
de "uma grande tragédia para a
nação" e a responsabilizar vagamente "os terroristas".
Seu governo afirmou categoricamente de início se tratar de
um ato do Taleban, grupo radical islâmico do vizinho Afeganistão, próximo da Al Qaeda.
Dúvidas americanas
Mas o "New York Times" diz
que especialistas americanos
em terrorismo não estão convencidos de que o governo paquistanês tenha razão, diante
da falta de provas ou mesmo indícios que possam determinar
ser essa a autoria.
Informantes do Pentágono
disseram ao jornal que Washington também leva em conta
a possibilidade de envolvimento de muçulmanos paquistaneses ou de grupos próximos do
Taleban, mas que atuam dentro
das fronteiras do Paquistão.
O "NYT" também diz ser até
possível que os paquistaneses
tenham razão ao terem apontado a responsabilidade de Baitullah Mehsud, terrorista abrigado por aldeias da fronteira afegã e que o governo responsabiliza por todos os atentados nos
últimos meses.
Desde o atentado contra Benazir, o FBI, polícia federal
americana, manteve um grupo
de investigadores pronto para
embarcar a qualquer momento
para Islamabad.
Mas Washington ficou satisfeito com o convite à Scotland
Yard, mesmo porque a proximidade de Musharraf com os
Estados Unidos é um tema delicado entre os nacionalistas do
Paquistão.
Com agências internacionais
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