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Caso dos reféns das Farc se complica mais
Enquanto espera confirmação de identidade de menino, governo colombiano ataca críticas de Chávez
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Em mais um dia de incertezas em torno da libertação dos
três reféns pelas Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da
Colômbia), a principal novidade ontem saiu de um depoimento em Bogotá.
José Gómez, que na semana
passada se identificou como o
pai do menino 3 anos que o governo colombiano aponta como sendo Emmanuel, o filho da
refém Clara Rojas com um
guerrilheiro, teria confessado à
Promotoria que não é seu parente. Ele teria dito que a criança é "das Farc".
Segundo o jornal "El Tiempo", que cita uma fonte da área
de segurança do governo colombiano, Gómez disse que não
é o pai do garoto, como havia se
declarado no Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar
(ICBF), órgão estatal que detém a tutela da criança. Ele
também teria pedido a proteção do Estado.
O depoimento corroboraria a
tese apresentada pelo presidente Álvaro Uribe, segundo a
qual as Farc não entregaram os
reféns porque um deles, Emmanuel, não está mais em seu
poder desde 2005.
A certeza definitiva, porém,
só virá com o resultado do exame de DNA dos familiares de
Rojas, realizado anteontem, em
Caracas, onde eles ainda esperam a libertação da assessora
da ex-candidata presidencial
Ingrid Betancourt. O promotor-geral da Colômbia, Mario
Iguarán, disse anteontem que o
resultado do exame vai demorar pelo menos dez dias.
Aparentemente convencido
de que Emmanuel não está
com a guerrilha, o alto comissário para a Paz do governo colombiano, Luis Carlos Restrepo, disse ontem acreditar "que
as Farc mentiram ao presidente [venezuelano Hugo] Chávez". Restrepo também criticou a reação de Chávez, que
chamou o governo colombiano
de "mentiroso" e "cínico" e avalizou o argumento das Farc segundo o qual a entrega dos reféns não pôde ser feita devido a
operações militares contra a
guerrilha, o que Bogotá nega.
"Lamentamos as declarações
do presidente Chávez dizendo
que ele acredita mais nas Farc
do que no governo colombiano.
Não há ponto de comparação,
não se pode igualar o governo
colombiano com um grupo terrorista como as Farc", disse
Restrepo à rádio RCN.
Já o governo venezuelano
continua trabalhando para
conseguir a liberação dos reféns, prometida pelas Farc no
mês passado como "ato de desagravo" a Chávez por seu trabalho como mediador, encerrado por Uribe em novembro. Os
helicópteros venezuelanos
continuam na cidade colombiana de Villavicencio, e o Palácio Miraflores fala também em
ativar uma "operação clandestina", em coordenação com a
guerrilha.
A chamada Operação Emmanuel, porém, foi praticamente
desmobilizada depois de segunda-feira, quando as Farc
anunciaram a suspensão "por
agora" da devolução. Os observadores internacionais deixaram Villavicencio, e o cineasta
americano Oliver Stone, que
filmaria o resgate, também voltou aos EUA, segundo fontes do
governo venezuelano.
Ânimos
Em tentativa de apaziguar os
ânimos, o secretário-geral da
Organização dos Estados Americanos (OEA), o chileno José
Miguel Insulza, elogiou os dois
presidentes e disse que o culpado de todo o impasse é a guerrilha. Para Insulza, Uribe "faz tudo o que pode para proporcionar a paz em seu país", e Chávez
"fez um grande esforço pessoal" para a libertação". "Os
responsáveis são os seqüestradores, os que detêm essa gente", afirmou o chileno.
A novela pela libertação dos
reféns começou em 18 de dezembro, quando as Farc tornaram pública a intenção de entregar três reféns. Fazem parte
do grupo Clara Rojas, seu filho
Emmanuel e a ex-congressista
Consuelo González.
Na semana passada, Chávez
lançou a Operação Emmanuel,
que chegou a mobilizar até o
ex-presidente argentino Néstor Kirchner e o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, ambos enviados à
Colômbia como observadores.
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