São Paulo, quinta-feira, 03 de janeiro de 2008

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Caso dos reféns das Farc se complica mais

Enquanto espera confirmação de identidade de menino, governo colombiano ataca críticas de Chávez

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Em mais um dia de incertezas em torno da libertação dos três reféns pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a principal novidade ontem saiu de um depoimento em Bogotá.
José Gómez, que na semana passada se identificou como o pai do menino 3 anos que o governo colombiano aponta como sendo Emmanuel, o filho da refém Clara Rojas com um guerrilheiro, teria confessado à Promotoria que não é seu parente. Ele teria dito que a criança é "das Farc".
Segundo o jornal "El Tiempo", que cita uma fonte da área de segurança do governo colombiano, Gómez disse que não é o pai do garoto, como havia se declarado no Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF), órgão estatal que detém a tutela da criança. Ele também teria pedido a proteção do Estado.
O depoimento corroboraria a tese apresentada pelo presidente Álvaro Uribe, segundo a qual as Farc não entregaram os reféns porque um deles, Emmanuel, não está mais em seu poder desde 2005.
A certeza definitiva, porém, só virá com o resultado do exame de DNA dos familiares de Rojas, realizado anteontem, em Caracas, onde eles ainda esperam a libertação da assessora da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt. O promotor-geral da Colômbia, Mario Iguarán, disse anteontem que o resultado do exame vai demorar pelo menos dez dias.
Aparentemente convencido de que Emmanuel não está com a guerrilha, o alto comissário para a Paz do governo colombiano, Luis Carlos Restrepo, disse ontem acreditar "que as Farc mentiram ao presidente [venezuelano Hugo] Chávez". Restrepo também criticou a reação de Chávez, que chamou o governo colombiano de "mentiroso" e "cínico" e avalizou o argumento das Farc segundo o qual a entrega dos reféns não pôde ser feita devido a operações militares contra a guerrilha, o que Bogotá nega.
"Lamentamos as declarações do presidente Chávez dizendo que ele acredita mais nas Farc do que no governo colombiano. Não há ponto de comparação, não se pode igualar o governo colombiano com um grupo terrorista como as Farc", disse Restrepo à rádio RCN.
Já o governo venezuelano continua trabalhando para conseguir a liberação dos reféns, prometida pelas Farc no mês passado como "ato de desagravo" a Chávez por seu trabalho como mediador, encerrado por Uribe em novembro. Os helicópteros venezuelanos continuam na cidade colombiana de Villavicencio, e o Palácio Miraflores fala também em ativar uma "operação clandestina", em coordenação com a guerrilha.
A chamada Operação Emmanuel, porém, foi praticamente desmobilizada depois de segunda-feira, quando as Farc anunciaram a suspensão "por agora" da devolução. Os observadores internacionais deixaram Villavicencio, e o cineasta americano Oliver Stone, que filmaria o resgate, também voltou aos EUA, segundo fontes do governo venezuelano.

Ânimos
Em tentativa de apaziguar os ânimos, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o chileno José Miguel Insulza, elogiou os dois presidentes e disse que o culpado de todo o impasse é a guerrilha. Para Insulza, Uribe "faz tudo o que pode para proporcionar a paz em seu país", e Chávez "fez um grande esforço pessoal" para a libertação". "Os responsáveis são os seqüestradores, os que detêm essa gente", afirmou o chileno.
A novela pela libertação dos reféns começou em 18 de dezembro, quando as Farc tornaram pública a intenção de entregar três reféns. Fazem parte do grupo Clara Rojas, seu filho Emmanuel e a ex-congressista Consuelo González.
Na semana passada, Chávez lançou a Operação Emmanuel, que chegou a mobilizar até o ex-presidente argentino Néstor Kirchner e o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, ambos enviados à Colômbia como observadores.


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