São Paulo, domingo, 3 de janeiro de 1999

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DINASTIA PARAGUAIA
Processo contra filho do ex-ditador tramita na Justiça do Rio, enquanto pai é acusado em Assunção
Família Stroessner enfrenta batalha jurídica

Renata Falzoni - 25.out.98/Folha Imagem
Eugenia, na casa de sua família, em Assunção, ao lado de seu advogado no Paraguai, Cristóbal Sánchez


LUÍS EBLAK
enviado especial a Assunção

Depois de 35 anos no poder no Paraguai, mais um caso da família Stroessner vai parar na Justiça. E mais uma vez o envolvido é Gustavo Stroessner, o filho mais velho do ex-ditador.
O caso de Gustavito, como é chamado pelo pai, está na 11ª Vara da Família do Rio de Janeiro. Seu casamento com María Eugenia Heikel terminou há quatro anos, mas os dois ainda não chegaram a um acordo para a divisão de bens.
Segundo Delio Aloisio de Mattos, advogado de María Eugenia no Brasil, o próximo passo é estudar um modo de dividir o patrimônio.
Em 30 de novembro passado, a Justiça carioca determinou que o filho do ex-ditador terá de pagar mensalmente 35 salários mínimos (R$ 4.550) à ex-mulher.
Além disso, os tribunais brasileiros irão decidir também sobre a partilha de bens do casal, que ficou junto por 11 anos. Gustavito era coronel da Aeronáutica no Paraguai e considerado o sucessor do pai, Alfredo Stroessner, que governou o país de 1954 a 1989.
Seu patrimônio é avaliado em US$ 500 milhões, segundo o jornal paraguaio "ABC Color".
Gustavo e seu pai vivem em Brasília desde 1989, quando Stroessner foi derrubado por um golpe de Estado. Eles têm asilo político concedido pelo governo brasileiro. María Eugenia divide residência entre o Rio de Janeiro e Assunção.
"Vamos esperar a decisão sobre a divisão de bens. Mas é difícil avaliar sua fortuna", disse a ex-mulher à Folha, em Assunção.
No Paraguai, o filho de Stroessner é acusado de enriquecimento ilícito e tráfico de influência. Sua extradição foi pedida duas vezes, mas o governo brasileiro negou.
Em 1990, Gustavo ficou preso alguns dias em Brasília a pedido da Justiça paraguaia. Agora, se deixar de pagar a pensão estipulada à ex-mulher, volta para a cadeia novamente.
O pai enfrenta dezenas de ações na Justiça paraguaia, mas nunca teve de comparecer a um tribunal. Ele é acusado de sequestros e crimes contra presos políticos (leia texto nesta página).
² Separação
Gustavo e María Eugenia se separaram em 1994. À época, como seu marido estava em Brasília como asilado, ela teve de deixar a residência, uma casa luxuosa no Lago Sul de Brasília.
No Paraguai, Gustavo e a ex-mulher tinham uma vida social intensa. A mulher de Alfredo Stroessner, Eligia, não tinha participação atuante ao lado do marido. Após o golpe de 1989, ela preferiu ir para Miami, nos EUA.
Na audiência de 30 de novembro passado, Gustavo disse não ter bens e afirmou viver "na miséria", o que teria desagradado ao juiz Ricardo Rodrigues Cardoso.



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