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RELIGIÃO
Desenhos geram conflito entre muçulmanos e europeus; para premiê dinamarquês, questão é de liberdade contra tabu
Revolta islâmica contra charges se espalha
DA REDAÇÃO
A onda de revolta em diversos
países islâmicos ocasionada pela
publicação de charges do profeta
Muhammad, fundador do islamismo, ganhou maiores proporções ontem quando vários jornais
europeus publicaram a peça.
Originalmente levadas a público em setembro de 2005, nas páginas do jornal dinamarquês
"Jyllands-Posten", as charges provocaram protestos contra o país
europeu no Oriente Médio -o islã proíbe imagens do profeta, para
impedir a idolatria. O país chegou
a retirar seu embaixador na Síria,
após o prédio da representação
diplomática em Damasco ter sofrido uma ameaça de bomba.
Anteontem, o jornal francês
"France Soir" publicou novamente as charges, consideradas ofensivas pelos muçulmanos, junto de
um texto em que seu editor defendia a ação. Os ânimos se inflamaram, e ontem, com a publicação
das charges por vários outros jornais europeus, a crise piorou.
Enquanto o "France Soir" demitia seu editor-executivo, chefes
de governo manifestavam-se contra a publicação das charges, segundo eles uma ofensa a Muhammad e ao islã. "Os muçulmanos
deveriam reagir com firmeza a
atos tão ultrajantes", disse o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em conversa telefônica
com o rei Abdullah, da Arábia
Saudita, segundo informou a rede
de TV estatal iraniana.
De fato, na faixa de Gaza, militantes armados do Fatah cercaram temporariamente a sede da
Comissão Européia, exigindo um
pedido de desculpas pela publicação das charges. As manifestações
se estenderam à Cisjordânia, onde mais homens armados cercaram hotéis. Os protestos fizeram
com que diplomatas e jornalistas
estrangeiros começassem a deixar
os territórios palestinos, e um alemão chegou a ser seqüestrado,
mas foi libertado pela polícia.
O presidente do Egito, Hosni
Mubarak, afirmou que a liberdade de imprensa não deveria servir
como desculpa para o insulto a religiões. Já o premiê da Turquia,
Tayyip Erdogan, foi mais longe,
ao afirmar que "a liberdade de
imprensa deveria ter limites".
Protestos foram registrados
também no Paquistão, onde cerca
de 400 estudantes atearam fogo a
bandeiras da França e da Dinamarca. Em Qatar, a filial local da
rede de supermercados Carrefour
afirmou que parou de vender produtos dinamarqueses.
Diversionismo
Mas houve também críticas veiculadas por meio de palavras. "Se
as charges tratassem de um rabino, elas nunca teriam sido publicadas", afirmou o jornalista saudita Hussein Shobokshi, em texto
no jornal "Asharq al Awsat".
Houve até quem achasse que as
manifestações estavam sendo insufladas por líderes políticos com
o intuito de desviar a atenção de
assuntos que julgam mais importantes. "Eles não ousariam liderar
uma campanha contra Israel, então deixe-os atacar a Dinamarca e
a Noruega", afirmou As'ad Abu
Khalil, acadêmico de origem libanesa radicado na Califórnia.
Para o premiê da Dinamarca,
Anders Fogh Rasmussen, a questão extrapolou uma controvérsia
entre Copenhague e o mundo islâmico e se tornou uma contenda
entre a liberdade de expressão
ocidental e tabus muçulmanos.
Ontem o governo de Rasmussen reuniu representantes estrangeiros na Dinamarca para debater
a crise das charges.
Com agências internacionais
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