São Paulo, sexta-feira, 03 de fevereiro de 2006

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ORIENTE MÉDIO

Celso Amorim nega que o Itamaraty tenha mantido contatos com o grupo islâmico

Brasil quer que Hamas reconheça Israel

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil espera que o novo governo da Autoridade Nacional Palestina reconheça Israel e não negará apoio ao Hamas, disse ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
"O Brasil está disposto a apoiar qualquer governo na Palestina que, entre outras coisas, apóie a formação e a consolidação do Estado palestino e, ao mesmo tempo, queira contribuir para a paz e reconheça o Estado de Israel", afirmou o chanceler brasileiro.
A seu ver, o fato de o Hamas ter concorrido às eleições demonstra que o grupo islâmico está disposto a cooperar. "Eu acho que, quando se escolhe o caminho eleitoral, já se fez uma opção; naturalmente essa opção terá de ser confirmada na prática", afirmou Amorim.
O Hamas, de acordo com o ministro, não fez nenhum contato com o governo brasileiro. O Itamaraty também não fez contato direto com o Hamas, mas divulgou nota no dia 26, "expressando satisfação pelo clima de tranqüilidade" com que haviam ocorrido as eleições.
Amorim fez referência à necessidade de haver condições econômicas para consolidar o Estado palestino. Segundo ele, o Brasil sempre apoiou a formação de um Estado palestino "íntegro, coeso e economicamente viável".
O ministro não comentou a crise financeira que a ANP (Autoridade Nacional Palestina) atravessa em razão do bloqueio de repasses de impostos por parte do governo de Israel.

Crise financeira
A ANP anunciou ontem que atrasaria em pelo menos duas semanas o pagamento de salários de seus 137 mil servidores públicos. A folha de pagamentos, de US$ 116 milhões, deveria ter sido quitada ontem. Mas a situação financeira da ANP passou a beirar o colapso depois que Israel anunciou, anteontem, a suspensão do repasse de US$ 55 milhões de impostos, em resposta à vitória eleitoral do partido e grupo terrorista Hamas nas eleições legislativas palestinas da semana passada.
Os governos da Arábia Saudita e de Qatar tentam obter do Banco Mundial o envio de US$ 60 milhões que foram congelados no ano passado, em razão de prestações de contas irregulares.
Além disso, A Arábia Saudita deve contribuir diretamente com mais de US$ 20 milhões, e Qatar com mais de US$ 13 milhões. No entanto, de acordo com ministro palestino das Finanças, Jihad al Wazir, os Estados árabes só devem mandar dinheiro a partir de amanhã. Segundo Wazir, os Emirados Árabes Unidos também ajudariam, mas o ministro não especificou com que quantia.
Os EUA e a União Européia não abastecem diretamente o orçamento palestino, mas enviaram no ano passado US$ 900 milhões para o financiamento de programas humanitários e para serem aplicados em infra-estrutura. Essa ajuda pode cessar caso o Hamas não reconheça o Estado de Israel nem se comprometa a abandonar o terrorismo.
Mahmoud Abu Arrub, professor de economia na Universidade de An Najah, na cidade cisjordaniana de Nablus, disse que o não-pagamento de salários desorganizaria de modo crônico a economia palestina e tenderia a provocar agitações em larga escala.

Fronteira
O primeiro-ministro palestino demissionário, Ahmed Korei, pediu ontem que Israel reabrisse o posto de fronteira de Karni, em Gaza, para permitir que frutas e legumes cultivados pelos palestinos possam ter acesso ao mercado israelense. O posto está fechado desde 15 de janeiro, e um relatório das Nações Unidas avalia que os prejuízos palestinos já chegam a US$ 7 milhões.
"Os produtores espalharam morangos e tomates pelas ruas de Gaza", na impossibilidade de exportar aqueles produtos, disse o primeiro-ministro.


Com agências internacionais

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