São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2007

Próximo Texto | Índice

Termo "guerra civil" se aplica ao Iraque, diz inteligência

Relatório apresentado a Bush afirma que violência sectária já supera terrorismo

Expressão, diz texto, "não captura de forma adequada a complexidade, mas descreve elementos-chave do conflito iraquiano"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Relatório sobre a situação do Iraque preparado pelo Conselho Nacional de Inteligência dos EUA e apresentado pelo czar da inteligência ao presidente George W. Bush anteontem fala em guerra civil e traça um retrato duro da situação do país. As Estimativas Nacionais de Inteligência dizem que a violência causada pelo sectarismo supera a gerada pela al Qaeda.
É o primeiro documento oficial de Washington a usar o termo "guerra civil", embora com ressalvas. "A comunidade de inteligência julga que o termo não captura de forma adequada a complexidade do conflito no Iraque, que inclui extensa violência entre xiitas e sunitas, ataques da Al Qaeda e de insurgentes sunitas às forças da coalizão e disseminação de violência criminosa", afirma.
Ainda assim, continua, "o termo "guerra civil" descreve elementos-chave do conflito iraquiano, incluindo o fortalecimento das identidades étnicas-sectárias, uma mudança no teor da violência, mobilização étnica-sectária e deslocamentos de população." O texto de 90 páginas foi preparado por especialistas das 16 principais agências de inteligência norte-americana. Parte de seu teor veio a público ontem. A íntegra foi apresentada ao Congresso.

Oposição à guerra
É mais um golpe à maneira como o presidente republicano vem conduzindo a Guerra do Iraque, que já lhe custou o controle do Legislativo, perdido para a oposição democrata nas eleições de novembro, e lhe vale recordes negativos de popularidade.
O levantamento apresenta "um olhar duro sobre o Iraque", admitiu Steve Hadley, conselheiro de Segurança Nacional, mas "não está em conflito" com a nova estratégia do presidente para a guerra. Em plano apresentado no último dia 10, Bush anunciou que pretende enviar 21,5 mil soldados adicionais ao fronte. A escalada vem causando reação bipartidária negativa no Senado.
Sobre o assunto, o relatório avalia que, caso haja retirada rápida dos soldados, como pedem alguns congressistas democratas, haveria muito mais vítimas civis, sectarização do governo, intervenção de países vizinhos e o uso do Iraque como plataforma de ataques pela al Qaeda. Ainda assim, afirma que, se não forem feitos esforços para reverter a situação atual entre 12 e 18 meses, "a situação geral de segurança vai continuar a se deteriorar."
Em sua audiência de confirmação no Senado, J. Michael McConnell disse que se comprometeria a manter relatórios da comunidade de inteligência -como o de ontem- independentes e livres de pressões políticas. A comunidade, disse, aprendeu lições importantes nos últimos anos.
Ontem ainda, um funcionário graduado do governo citado por jornais locais afirmou que Bush pedirá ao Congresso um gasto militar adicional de US$ 100 bilhões para operações no Iraque e no Afeganistão, o que levará a conta dos conflitos em 2007 para US$ 170 bilhões.


Próximo Texto: Confronto interpalestino mata 17
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.