São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2007

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Confronto interpalestino mata 17

Fatah e Hamas incendeiam universidades e atiram em hospital em Gaza; Egito mediou cessar-fogo

Grupo laico acusa a milícia islâmica de manter arsenal e iranianos em faculdade; Hamas nega; EUA estudam novo auxílio para o Fatah

DA REDAÇÃO

Com o agravamento do conflito armado entre facções palestinas, 17 pessoas, entre elas quatro crianças, foram mortas ontem na faixa de Gaza.
Forças do Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, invadiram e incendiaram uma universidade ligada ao grupo islâmico Hamas, do primeiro-ministro Ismail Haniyeh. Em represália, comandos do Hamas atearam fogo à universidade mantida pelo Fatah. Somadas às vítimas da véspera, já são 24 os palestinos mortos.
Os 245 feridos em dois dias provocaram o colapso dos serviços de atendimento hospitalar, que, diz a Associated Press, esgotaram seus estoques de sangue para transfusão.
Representantes do Fatah e do Hamas concordaram à noite, em princípio, com um cessar-fogo, negociado nas dependências da Embaixada do Egito. Mesmo assim, prosseguiam de modo esporádico rajadas de metralhadora e de tiros com artilharia pesada.
Nizar Rayan, representante do grupo islâmico, disse que o objetivo é cessar as hostilidades. O porta-voz do partido do presidente Abbas, Abdel Hakim Awad, disse que detalhes da trégua seriam discutidos até ontem à noite.
Os incidentes mais graves eclodiram quando milicianos do Fatah invadiram a Universidade Islâmica de Gaza e incendiaram dois prédios. Foi o segundo ataque à instituição em dois dias. Anteontem, o Fatah disse ter capturado vivos sete cidadãos iranianos. Um oitavo, afirmou, suicidou-se.

Reação ao incêndio
O Hamas reagiu, e comandos a ele ligados irromperam horas depois na Universidade Al-Quds, ligada ao Fatah. Militantes mascarados do grupo islâmico metralharam um edifício, o ensoparam em seguida com gasolina e atearam fogo.
Um grupo radical ligado ao Fatah, as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, assumiu participação na ofensiva de ontem e argumentou que o Hamas armazenava armas na universidade. Um dos porta-vozes do grupo, Ismail Radwan, qualificou a acusação de "ridícula".
Em incidente separado, cerca de 50 integrantes da guarda presidencial de Mahmoud Abbas cercaram o Ministério do Interior palestino, trocando tiros com milicianos do Hamas que protegiam as instalações. O incidente teve como saldo cinco mortos. Fora da cidade de Gaza, o Hamas lançou morteiros num campo de treinamento de policiais do Fatah, ferindo cerca de 30 recrutas.
A população, atemorizada, deixou as ruas de Gaza virtualmente vazias. As mesquitas atraíram pouca gente para as orações de sexta-feira.

Ambulâncias e hospital
Os confrontos não pouparam ambulâncias, que recolhiam cadáveres e feridos, e nem mesmo o hospital do Crescente Vermelho em Gaza, que foi metralhado e teve suas janelas e portões estourados por projéteis. A série de incidentes começou na quinta, quando milicianos do Hamas emboscaram um comboio no campo de refugiados de Bureij e capturaram dois caminhões carregados de tendas e medicamentos.
Os enfrentamentos entre o Fatah e o Hamas vêm num crescendo desde que o grupo islâmico venceu as eleições legislativas palestinas, há um ano.
Além do Egito, a Arábia Saudita procura intermediar para pôr fim a esse embrião de guerra civil, pressionando pela formação de um governo de unidade. Na terça-feira, o presidente Abbas reúne-se em território saudita com o líder do Hamas no exílio, Khaled Meshaal.
Países árabes que temem o fortalecimento da militância islâmica conversam com os Estados Unidos sobre formas de fornecer ajuda às milícias ligadas ao presidente Abbas.
A administração Bush pediu que o Congresso o autorizasse a ajudar o Fatah com US$ 86 milhões, mas o dinheiro não seria utilizado em armas. Informantes americanos disseram ontem que países europeus se dispõem a renovar os arsenais do grupo laico palestino.


Com agências internacionais


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