São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2007 |
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Petrolíferas tendem a ficar na Venezuela
Segundo analistas, as empresas que atuam na região do rio Orinoco vão aceitar condições impostas por Hugo Chávez
FABIANO MAISONNAVE DA REPORTAGEM LOCAL As multinacionais petrolíferas que atuam na região do rio Orinoco tendem aceitar as condições impostas anteontem pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, e passar a ser sócias minoritárias da estatal PDVSA até o dia 1º de maio, segundo analistas ouvidos pela Folha. Para que as negociações lhe sejam favoráveis, a grande aposta de Chávez é o fato de as empresas já terem investido cerca de US$ 20 bilhões, o alto preço do barril e o fato de o Orinoco ser a maior reserva de petróleo não-convencional do mundo, com potencial de exploração de 200 anos, segundo o governo venezuelano. Já as empresas detêm como um grande trunfo a complexa e cara tecnologia para refinar o petróleo ultrapesado do Orinoco, que precisa ser processado duas vezes. A estatal venezuelana PDVSA não possui essa capacidade. "É muito parecida com a experiência que a Petrobras teve na Bolívia, onde foi dado um prazo muito curto às multinacionais para mudar as regras do jogo", disse Jorge Piñón, analista da Universidade de Miami e ex-presidente para a América Latina da multinacional americana Amoco Oil. "Me surpreende a forma como Chávez põe a negociação sobre a mesa. Talvez o prêmio seja tão grande que ele aposte que as empresas, de uma forma ou outra, cheguem a um acordo. É a mesma situação na Bolívia, que pôs muita pressão sobre a Petrobras, mas a Petrobras tinha muito poucas opções. Os investimentos que eles fizeram na Bolívia eram tão grandes que tiveram de ficar na mesa", afirmou Piñón. Para o analista, as empresas têm interesse em ficar na Venezuela e na Bolívia também com a perspectiva de que possa haver uma mudança de regime. "As empresas dizem: a situação política pode mudar. O que vai acontecer se Chávez ou [Evo] Morales desaparecerem?" Patrick Esteruelas, da empresa de análise de risco Eurasia Group, também acredita que a maioria das petrolíferas ficará na Venezuela, inclusive porque não é do interesse de Chávez expulsá-las. "Eu espero que a maioria dos operadores no Orinoco vá aceitar o novo contrato, em parte devido ao fato de que os preços [do petróleo] ainda estão muito altos e há grandes campos para serem explorados na Venezuela." "Mesmo que tenha ficado mais fácil para imitar ou adquirir essa tecnologia [de processamento do petróleo ultrapesado] no mercado, é extremamente caro. É também difícil de manter se você não tiver o know-how. É por essa razão que o governo não está nacionalizando totalmente os ativos", disse Esteruelas. "Em vez disso, ele [Chávez] quer fazer novas parcerias, nas quais ele é majoritário, mas em que as empresas instaladas fiquem como minoritárias para que mantenham a tecnologia necessária para fazer o Orinoco atraente e bem-sucedido." A faixa do rio Orinoco, na região amazônica, produz 620 mil barris diários, ou 25% da produção venezuelana. As multinacionais que participam dos quatro projetos ali instalados incluem americanas, britânicas, francesas e norueguesas. Uma delas é a Exxon, que anteontem divulgou lucro recorde de US$ 39,5 bilhões, o maior de uma empresa de capital aberto na história dos EUA. As negociações para que a estatal PDVSA assuma o controle acionário vinham se arrastando desde o ano passado. Anteontem, porém, o presidente Chávez afirmou que os novos contratos têm de ficar prontos até 1º de maio, com a participação mínima de 60% da PDVSA. Texto Anterior: Equador: Presidente demite chefe do Exército por morte de ministra Próximo Texto: Desmobilizada, oposição a Chávez racha Índice |
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