São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2007

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Petrolíferas tendem a ficar na Venezuela

Segundo analistas, as empresas que atuam na região do rio Orinoco vão aceitar condições impostas por Hugo Chávez

Companhias estrangeiras já investiram US$ 20 bilhões na reserva, onde estima-se que petróleo ainda pode ser explorado por 200 anos

Jorge Silva - 01.fev.2007/Reuters
Chávez anunciou, anteontem, que participação estatal na exploração do Orinoco passa a 60%


FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

As multinacionais petrolíferas que atuam na região do rio Orinoco tendem aceitar as condições impostas anteontem pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, e passar a ser sócias minoritárias da estatal PDVSA até o dia 1º de maio, segundo analistas ouvidos pela Folha.
Para que as negociações lhe sejam favoráveis, a grande aposta de Chávez é o fato de as empresas já terem investido cerca de US$ 20 bilhões, o alto preço do barril e o fato de o Orinoco ser a maior reserva de petróleo não-convencional do mundo, com potencial de exploração de 200 anos, segundo o governo venezuelano.
Já as empresas detêm como um grande trunfo a complexa e cara tecnologia para refinar o petróleo ultrapesado do Orinoco, que precisa ser processado duas vezes. A estatal venezuelana PDVSA não possui essa capacidade.
"É muito parecida com a experiência que a Petrobras teve na Bolívia, onde foi dado um prazo muito curto às multinacionais para mudar as regras do jogo", disse Jorge Piñón, analista da Universidade de Miami e ex-presidente para a América Latina da multinacional americana Amoco Oil.
"Me surpreende a forma como Chávez põe a negociação sobre a mesa. Talvez o prêmio seja tão grande que ele aposte que as empresas, de uma forma ou outra, cheguem a um acordo. É a mesma situação na Bolívia, que pôs muita pressão sobre a Petrobras, mas a Petrobras tinha muito poucas opções. Os investimentos que eles fizeram na Bolívia eram tão grandes que tiveram de ficar na mesa", afirmou Piñón.
Para o analista, as empresas têm interesse em ficar na Venezuela e na Bolívia também com a perspectiva de que possa haver uma mudança de regime. "As empresas dizem: a situação política pode mudar. O que vai acontecer se Chávez ou [Evo] Morales desaparecerem?"
Patrick Esteruelas, da empresa de análise de risco Eurasia Group, também acredita que a maioria das petrolíferas ficará na Venezuela, inclusive porque não é do interesse de Chávez expulsá-las. "Eu espero que a maioria dos operadores no Orinoco vá aceitar o novo contrato, em parte devido ao fato de que os preços [do petróleo] ainda estão muito altos e há grandes campos para serem explorados na Venezuela."
"Mesmo que tenha ficado mais fácil para imitar ou adquirir essa tecnologia [de processamento do petróleo ultrapesado] no mercado, é extremamente caro. É também difícil de manter se você não tiver o know-how. É por essa razão que o governo não está nacionalizando totalmente os ativos", disse Esteruelas.
"Em vez disso, ele [Chávez] quer fazer novas parcerias, nas quais ele é majoritário, mas em que as empresas instaladas fiquem como minoritárias para que mantenham a tecnologia necessária para fazer o Orinoco atraente e bem-sucedido."
A faixa do rio Orinoco, na região amazônica, produz 620 mil barris diários, ou 25% da produção venezuelana. As multinacionais que participam dos quatro projetos ali instalados incluem americanas, britânicas, francesas e norueguesas. Uma delas é a Exxon, que anteontem divulgou lucro recorde de US$ 39,5 bilhões, o maior de uma empresa de capital aberto na história dos EUA.
As negociações para que a estatal PDVSA assuma o controle acionário vinham se arrastando desde o ano passado. Anteontem, porém, o presidente Chávez afirmou que os novos contratos têm de ficar prontos até 1º de maio, com a participação mínima de 60% da PDVSA.


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