São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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Latinos podem decidir prévias democratas

Hillary tem vantagem tradicional entre a minoria que mais cresce nos EUA, mas Obama também investe pesado

Voto do grupo é volúvel e há margem de manobra, diz analista; dos mais de 20 Estados com prévias terça, 8 têm comunidade expressiva

Efe
Hillary faz campanha em San José, Califórnia, com a senadora Dianne Feinstein e o prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa, filho de imigrantes mexicanos

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Terminado o debate democrata da última quinta-feira, a senadora Hillary Clinton colocou seu bloco latino na rua. Em poucos minutos, três congressistas, o prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa, e um assessor para assuntos hispânicos tomaram a sala de imprensa. A mensagem era uníssona: a pré-candidata é o mais próximo que os eleitores terão de um latino na Casa Branca.
No dia seguinte, durante encontro com a imprensa na mesma cidade, Barack Obama prometeu que iria aprender espanhol -apesar de alguns anúncios locais já trazerem o candidato falando "Yo soy Barack Obama". "Sim, nós estamos anunciando fortemente para a comunidade latina", disse ele. Tanto Hillary quanto Obama fizeram a parada obrigatória no programa "Piolín por la Mañana", da rede Univisión.
O cuidado de ambos com essa fatia do eleitorado se explica. Entre os mais de 20 Estados que escolhem seus candidatos na próxima terça-feira, ao menos oito têm populações latinas expressivas: Califórnia, Nova York, Nova Jersey, Arizona, Novo México, Illinois, Massachusetts e Colorado.
"Não é exagero dizer que os hispânicos podem ter nas mãos o resultado das eleições de 2008", escreveu Simon Rosenberg, diretor da ONG latina NDN. A Califórnia tem a maior população hispânica dos EUA (cerca de 36% dos 34 milhões de habitantes), o maior número de eleitores latinos (28% do total do país), o maior peso eleitoral e o maior número de delegados (441 democratas, 173 republicanos).
Na situação, John McCain saiu na frente, ao receber o apoio do governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, e mostrar os números da Flórida, onde teve 51% do voto latino. Na oposição, Hillary conta com o apoio do prefeito da maior cidade do Estado.
Já Nova York é o Estado político de Hillary, que o representa no Senado, assim como Arizona é o de John McCain, Illinois é o de Obama e Massachusetts é do ex-governador Mitt Romney. E Novo México é a terra do ex-candidato democrata Bill Richardson, que foi o único latino na atual corrida.
Na sexta-feira, horas antes das visitas programadas de Hillary e Obama para as cidades de Santa Fé e Albuquerque, Richardson desapareceu. Foi um ato calculado para não ter de declarar seu apoio a nenhum dos dois colegas antes da Superterça. Analistas dizem que o governador trabalha para ser candidato a vice democrata.

Fator X
Os hispânicos são a minoria que mais cresce nos EUA hoje. No dia da eleição presidencial, em 4 de novembro, pelo menos 20% mais eleitores latinos do que em 2004 devem ir às urnas escolher o presidente. O aumento pode ser ainda maior devido à mobilização de organizações latinas, afirma estudo do hispânico Instituto de Política Tomás Rivera, da Universidade do Sul da Califórnia.
Segundo o Pew Hispanic Center, que faz levantamentos e estudos periódicos dessa população, a proporção dos eleitores hispânicos que votam em Hillary é de 6 em cada 10. A campanha da senadora chama esse contingente de sua "parede corta-fogo". Mas Barack Obama começa a crescer.
"Hillary Clinton tem a liderança, mas o "fator X" é a característica volúvel do eleitor latino", disse Harry Pachon, diretor do Instituto Tomás Rivera, ao "Wall Street Journal". "Nós já presenciamos grandes mudanças no passado na maneira como os latinos encaram uma eleição, então acho que ainda há margem de manobra aí."
"Acho que nós vamos nos sair melhor do que as pessoas acreditam", afirmou Obama. Seus assessores o vendem como "gente como vocês", ao lembrar que ele é filho de imigrante (pai queniano, mãe americana).
Ainda assim, há um desconforto levantado por algumas lideranças latinas: de que em geral a comunidade não vota em negros. A história surgiu com declaração de um assessor de Hillary à revista "New Yorker" e seria ecoada por outras lideranças ligadas ao senador. Mas, com a dimensão que o caso tomou, com ambos os lados se acusando de racistas, tanto Hillary quanto Obama tentaram varrer o caso para sob o tapete.


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