|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Conflito envolve dinâmica de alianças da região e exige diplomacia ativa do Brasil
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Para o argentino Juan Gabriel Tokatlián, diretor de Relações Internacionais da Universidade de San Andrés, a relação
entre Bogotá e Caracas, prestes
ao rompimento, exige "diplomacia ativa do Brasil" e de vizinhos para impedir que o conflito siga uma perigosa dinâmica
de internacionalização.
Leia trechos da entrevista,
feita por telefone ontem.
FOLHA - A escalada entre Venezuela e Colômbia é o momento mais
tenso na região desde o conflito Peru-Equador nos anos 90?
JUAN GABRIEL TOKATLIÁN - A minha comparação é com a situação da América Central nos 80,
quando havia os mesmos elementos: tensões, situação interna de convulsão, problemas
fronteiriços. A relação Venezuela-Colômbia vem piorando
desde o final de 2004, quando o
então chanceler das Farc, Rodrigo Granda, foi preso na Venezuela. Desde então, não houve momentos bons, só ruins e
piores até chegarmos a esse
gesto intempestivo de Chávez,
inusualmente desproporcional. Mandar fechar a embaixada sem qualquer ação específica contra a Venezuela? O Equador, sim, tem todo direito de
pedir explicações à Colômbia.
FOLHA - O gesto significa o rompimento das relações?
TOKATLIÁN - Não se usou a expressão rompimento, mas não
seria difícil imaginar que isso se
siga ao gesto. A Venezuela tem
uma tradição de romper relações. O que não se encaixa dessa vez é a argumentação para o
rompimento. A sensação que
fica é de uma relação muito
mais estreita de Chávez com as
Farc. Esse gesto atrapalha, confunde e gera muito mais problemas do que soluções.
FOLHA - O que está no horizonte
do conflito?
TOKATLIÁN - Se segue por esse
caminho, um incidente menor,
uma faísca, pode instalar um
problema na fronteira. E aí há
que ter em conta quão armados
estão Colômbia e Venezuela. O
que mantinha a situação controlada era que Chávez e Uribe
sempre conversavam quando
as águas começavam a subir demais, havia um encontro, um
acordo comercial, o gasoduto.
Agora, essa possibilidade de
conversa desapareceu.
FOLHA - Qual deve ser o papel dos
vizinhos, do Brasil especificamente?
TOKATLIÁN - O Brasil tem de ter
uma diplomacia ativa agora.
Tanto Brasil como a Argentina
têm de atuar para moderar as
relações bilaterais entre Colômbia e Venezuela. Algo nos
moldes do Grupo de Contadora, que atuou na América Central nos anos 80. Há muitos interesses em jogo no conflito colombiano: os países da fronteira, os EUA, com a guerra às drogas e seus três seqüestrados, a
França. Não se pode permitir
que o conflito siga se internacionalizando. É preciso levar
em conta o jogo de coalizões
hoje na região, muito desfavoráveis para a Colômbia. Além
de problemas com o Equador,
hoje um estreitíssimo aliado da
Venezuela, há ainda a Nicarágua, também aliada de Chávez,
que tem uma demanda antiga
contra Bogotá pela soberania
das ilhas de San Andrés e Providencia, no Caribe.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Análise: Armas vêm de EUA, Rússia e do Brasil Índice
|