São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2008

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Conflito envolve dinâmica de alianças da região e exige diplomacia ativa do Brasil

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Para o argentino Juan Gabriel Tokatlián, diretor de Relações Internacionais da Universidade de San Andrés, a relação entre Bogotá e Caracas, prestes ao rompimento, exige "diplomacia ativa do Brasil" e de vizinhos para impedir que o conflito siga uma perigosa dinâmica de internacionalização. Leia trechos da entrevista, feita por telefone ontem.

 

FOLHA - A escalada entre Venezuela e Colômbia é o momento mais tenso na região desde o conflito Peru-Equador nos anos 90?
JUAN GABRIEL TOKATLIÁN
- A minha comparação é com a situação da América Central nos 80, quando havia os mesmos elementos: tensões, situação interna de convulsão, problemas fronteiriços. A relação Venezuela-Colômbia vem piorando desde o final de 2004, quando o então chanceler das Farc, Rodrigo Granda, foi preso na Venezuela. Desde então, não houve momentos bons, só ruins e piores até chegarmos a esse gesto intempestivo de Chávez, inusualmente desproporcional. Mandar fechar a embaixada sem qualquer ação específica contra a Venezuela? O Equador, sim, tem todo direito de pedir explicações à Colômbia.

FOLHA - O gesto significa o rompimento das relações?
TOKATLIÁN
- Não se usou a expressão rompimento, mas não seria difícil imaginar que isso se siga ao gesto. A Venezuela tem uma tradição de romper relações. O que não se encaixa dessa vez é a argumentação para o rompimento. A sensação que fica é de uma relação muito mais estreita de Chávez com as Farc. Esse gesto atrapalha, confunde e gera muito mais problemas do que soluções.

FOLHA - O que está no horizonte do conflito?
TOKATLIÁN
- Se segue por esse caminho, um incidente menor, uma faísca, pode instalar um problema na fronteira. E aí há que ter em conta quão armados estão Colômbia e Venezuela. O que mantinha a situação controlada era que Chávez e Uribe sempre conversavam quando as águas começavam a subir demais, havia um encontro, um acordo comercial, o gasoduto. Agora, essa possibilidade de conversa desapareceu.

FOLHA - Qual deve ser o papel dos vizinhos, do Brasil especificamente?
TOKATLIÁN
- O Brasil tem de ter uma diplomacia ativa agora. Tanto Brasil como a Argentina têm de atuar para moderar as relações bilaterais entre Colômbia e Venezuela. Algo nos moldes do Grupo de Contadora, que atuou na América Central nos anos 80. Há muitos interesses em jogo no conflito colombiano: os países da fronteira, os EUA, com a guerra às drogas e seus três seqüestrados, a França. Não se pode permitir que o conflito siga se internacionalizando. É preciso levar em conta o jogo de coalizões hoje na região, muito desfavoráveis para a Colômbia. Além de problemas com o Equador, hoje um estreitíssimo aliado da Venezuela, há ainda a Nicarágua, também aliada de Chávez, que tem uma demanda antiga contra Bogotá pela soberania das ilhas de San Andrés e Providencia, no Caribe.


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