São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2008

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análise

Armas vêm de EUA, Rússia e do Brasil

IGOR GIELOW
EM MOSCOU

Se não for apenas mais uma bravata de Hugo Chávez, a Venezuela pode estar a caminho de cumprir uma profecia auto-realizável de confronto indireto com os EUA. Agora, a questão é entre um Estado-cliente dos EUA, a Colômbia, que recebe dinheiro, armas, logística e, de quebra, tem militares americanos em seu território, e um dos mais voluntaristas regimes anti-Washington do mercado.
Há outra conotação simbólica importante. A Venezuela gastou mais de US$ 4 bilhões no bazar de armamentos russos, como os caças Sukhoi-30MKV. Se a tensão virar conflagração, o embate se encaixaria à perfeição num cenário da Guerra Fria.
Mas a realidade não é tão simples. Chávez ainda não tem suas defesas consolidadas com sistemas antiáereos, por exemplo. Os Sukhoi ainda não formam uma força totalmente capaz -apenas uma meia dúzia dos 24 previstos estão operacionais. De todo modo, poucos em tese são suficientes para impor superioridade aérea.
Sobre os tanques enviados por Chávez à fronteira, a Venezuela possui uma vantagem numérica sobre a Colômbia, possuindo 81 velhos franceses AMX. A Colômbia não possui tanques, mas blindados mais leves, como 126 unidades do Cascavel brasileiro. Mas guerra na selva não se trava com esses equipamentos, o que faz sua presença simbólica.
O Brasil, que deveria estar na linha de frente diplomática da situação, já apareceu também de forma indireta. Foram Supertucanos, o turboélice de ataque da Embraer, que executaram o bombardeio que matou o número 2 das Farc, com bombas de fragmentação americanas.
A Colômbia comprou 25 aviões. A ironia é que os venezuelanos tentaram adquirir o modelo, ideal para uso em selva pela baixa velocidade e capacidade de ataque de precisão, mas a venda fez água: Washington tem um veto de exportação militar a Caracas, e o Supertucano usa componentes americanos.


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