São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2008

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Sob pressão, Israel segue atacando Gaza

ONU e União Européia vêem uso excessivo e desproporcional de força; palestinos suspendem negociações de paz

Número de palestinos mortos caiu ontem, pois Hamas isolou civis de áreas atacadas; palestino é morto em protesto na Cisjordânia

DA REDAÇÃO

O presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, suspendeu ontem as negociações de paz com Israel, que, ignorando apelos internacionais, continuou atacando a faixa de Gaza. O número de mortos passou de cem desde quarta-feira, e protestos ocorreram em toda a região.
Oito palestinos, incluindo uma menina de 21 meses, morreram ontem. No total, os mortos já somam 106 desde quarta-feira, quando os ataques se intensificaram. Aproximadamente a metade é de civis. Entre os israelenses, morreram dois soldados e um civil.
Ainda assim, os números são bem inferiores aos de sábado, quando 61 palestinos morreram -fazendo o dia mais mortífero desde 2000.
A redução pode ser explicada por uma nova estratégia do Hamas, grupo islâmico que controla Gaza desde junho. Ele mandou seus milicianos usarem passagens cobertas e evitarem andar em grupos, além de ordenar que escolas fechassem: os alunos haviam sido liberados para assistir aos combates. Também houve bloqueios para afastar civis de áreas atacadas.
As normalmente movimentadas ruas da cidade de Gaza esvaziaram ontem. Os versos do livro sagrado muçulmano saindo dos alto-falantes de mesquitas se misturavam com o ronco dos aviões de guerra de Israel.
Apesar da rivalidade com o Hamas, Abbas suspendeu as conversações com Israel, relançadas com muito barulho durante a Cúpula de Annapolis (EUA), em novembro. Não está claro se serão retomadas, mas amanhã a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, deve chegar à região.
Num movimento simbólico, Abbas doou sangue para moradores de Gaza. "Estamos acompanhando a agressão contra nosso povo", acrescentando que apelou à comunidade internacional por ajuda.
A ofensiva israelense puxou um coro de condenação internacional. De um modo geral, Israel foi acusado de uso excessivo de força, mas o primeiro-ministro Ehud Olmert rejeitou as críticas: "Nada nos impedirá de continuar as operações para proteger nossos cidadãos. Ninguém tem o direito moral de pregar contra Israel por dar os passos básicos da auto-defesa". Para ele, atacar o Hamas "reforça a chance de paz".
Para o ministro da Defesa Ehud Barak, uma ação maior em Gaza é possível, com o objetivo de não só destruir mísseis mas também "enfraquecer o Hamas e até derrubá-lo".
Israel regularmente combate os mísseis de Gaza, mas intensificou suas operações na semana passada depois que militantes atacaram Ashkelon, distante apenas 40 km de Tel Aviv.

Protestos
Em Hebron, na Cisjordânia, um menino de 14 anos foi morto com tiros no peito durante um protesto contra Israel. Um porta-voz militar disse que jovens protagonizaram uma "demonstração violenta", jogando bombas contra soldados.Os manifestantes gritavam: "Vingança, vingança".
Duas mil pessoas portavam a bandeira verde do Hamas, movimento que controla a faixa de Gaza, e a amarela do rival Fatah, de Abbas. A polícia respondeu com gás lacrimogêneo.
O Conselho de Segurança da ONU, a pedido de Abbas, deveria se reunir ontem à noite. O segretário-geral da instituição, Ban Ki-moon, definiu como "profundamente alarmante" a escalada de violência. Ainda que tenha admitido o direito de Israel de se defender, Ban condenou o "uso desproporcional e excessivo de força".
A Casa Branca pediu a volta das negociações de paz. "Os EUA lamentam as perdas humanas e pedem o fim de todos os atos de terrorismo contra civis inocentes. A violência precisa acabar", declarou Gordon Johndroe, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.
O papa Bento 16 pediu o fim "unilateral e sem condições" dos combates. "[É preciso] um respeito absoluto pela vida humana, incluindo a do inimigo."
A presidência da União Européia condenou "o uso desproporcional" da força do Exército de Israel e pediu "que as duas partes cessem as hostilidades".
O Egito, que cooperava com Israel no isolamento à Gaza, abriu sua fronteira com o território para entrarem os feridos. Também enviou ambulâncias.
A Organização da Conferência Islâmica anunciou o envio de ajuda humanitária a Gaza e classificou como "crime de guerra" a ofensiva israelense.


Com agências internacionais


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