São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2011

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Rebeldes resistem ao maior dos contra-ataques do ditador líbio

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A AJDABIYA

Por terra e pelo ar, o ditador Muammar Gaddafi lançou ontem seu maior contra-ataque contra os insurgentes desde que eles tomaram grande parte da Líbia, há cerca de duas semanas.
O alvo principal foi a cidade portuária de Brega (também conhecida como Al Brayqah, dependendo da transliteração do árabe), importante polo petrolífero do leste no país.
Além de um ataque por terra, com centenas de homens fortemente armados, houve também um bombardeio aéreo. Um caça da Força Aérea líbia disparou duas vezes na direção de Brega, aparentemente com a intenção de intimidar os rebeldes, sem deixar vítimas.
Após um dia inteiro de confrontos e em meio a relatos contraditórios, os rebeldes pareciam ter conseguido rechaçar o ataque e manter o controle da cidade. Ao menos 14 pessoas morreram e 25 ficaram feridas, segundo hospitais da região.
Testemunhas contaram à Folha que os homens leais a Gaddafi, vestidos com fardas militares, chegaram a Brega por volta de 7h, em cerca de 70 carros. Munidos de armamentos pesados, imediatamente abriram fogo contra os rebeldes que controlavam a entrada da cidade.
Eram 200 ou 300, contou Ahmed Jama, 19, que trabalha na refinaria de Brega. Depois de tomarem o aeroporto que serve à refinaria, invadiram também a instalação petrolífera, vencendo com facilidade os poucos rebeldes que a protegiam.
Além de soldados líbios, também havia combatentes estrangeiros, que os rebeldes supõem ser mercenários de países como Argélia, Chade, Níger e Sudão, contratados por Gaddafi.
Um médico da cidade vizinha de Ajdabiya, que tratou de feridos a bala nos confrontos, disse que ouviu relatos de que os mercenários haviam capturado civis de Brega e os usavam como escudos humanos durante os confrontos.
Encurralados, muitos foram perseguidos pelos rebeldes no deserto.

ESCOLA DE TIRO
O ataque surpresa pôs a cidade de Ajdabiya, a 70 km de Brega, em estado de guerra. Centenas de rebeldes armados de fuzis AK-47, pistolas e lança-granadas encheram caçambas de camionetes e todo veículo disponível e partiram para Brega.
A maioria era jovem, entre 20 e 30 anos. Mas também havia adolescentes entre os rebeldes, em trajes militares ou à paisana. Além de armas de fogo, levavam garrafas de Pepsi que haviam transformado em coquetéis molotov.
Hamzi Abdelaziz, 16, se apertava com outros 14 jovens na parte de trás de uma camionete Toyota sem saber bem o que o esperava.
"Quando soube que tinham tomado Brega, não pensei duas vezes", disse o estudante, garantindo que sabe atirar. "Aprendi na escola, faz parte do treinamento obrigatório na Líbia".
O mesmo entusiasmo moveu homens de todas as partes da região leste, que nas últimas duas semanas virou território independente dos rebeldes. Apesar do contra-ataque de Gaddafi, até a noite de ontem a demarcação entre os dois lados continuava inalterada.
No hospital de Ajdabiya, que recebeu a maior parte dos feridos, os relatos eram quase todos concentrados no uso de artilharia pesada pelos homens de Gaddafi.
Com os dois pés feridos por balas de 14 mm, Omar Saad, 19, conta que acordou com os tiros. Só teve tempo de pegar o fuzil que estava ao lado de casa e ir para a rua. "Saí com dois vizinhos e fui para o aeroporto, onde já havia um tiroteio", diz. "Logo fui atingido e fiquei caído até ser socorrido."
Desde a noite anterior, forças leais a Gaddafi preparavam um ataque para retomar cidades do leste controladas pelos rebeldes.
De acordo com os moradores de Brega, o ataque de ontem partiu de Sirte, cidade natal do ditador, distante 320 km de Brega.


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