São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2011

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ONDA DE REVOLTAS

Corte internacional vai investigar Gaddafi

Promotor vê indícios suficientes para apurar crime contra a humanidade na repressão de ditador a oposicionistas

EUA mandam navios de guerra ao Mediterrâneo; em discurso, ditador diz que milhares morrerão em intervenção externa

Ahmed Jadallah/Reuters
Gaddafi gesticula antes de discurso no qual apontou ‘conspiração’ contra a Líbia e disse que lutará ‘até o último homem’

DE WASHINGTON
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS


O promotor-chefe do TPI (Tribunal Penal Internacional), o argentino Luis Moreno Ocampo, anunciará hoje que vai abrir investigação sobre os conflitos na Líbia.
Sediado em Haia (Holanda), o TPI investiga e julga acusações de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra. No sábado, na sessão em que aprovou sanções à ditadura de Muammar Gaddafi, o Conselho de Segurança da ONU pediu a ação da corte no caso líbio.
Para Moreno Ocampo, os relatos preliminares sobre ataques das forças pró-Gaddafi aos manifestantes antigovernistas já justificam a abertura de inquérito no âmbito do tribunal. Estima-se que ao menos mil pessoas tenham morrido nos conflitos.
A votação no CS também marcou uma das raras vezes em que os EUA, que não ratificaram a criação do TPI, deram apoio a investigação do tribunal. O país insistiu, porém, que cidadãos americanos não devem ser investigados ou julgados pela corte.

NAVIOS DE GUERRA
Enquanto cresce a pressão internacional por uma zona de proibição de voos sobre a Líbia ("no-fly zone"), mais dois navios de guerra dos EUA entraram no mar Mediterrâneo ontem pelo canal de Suez, em uma mostra de força com o intuito de intimidar Gaddafi e provocar sua saída.
O secretário da Defesa, Robert Gates, alertou que instaurar a zona de exclusão implicaria um ataque inicial para destruir as defesas aéreas líbias. Em tom cauteloso, disse se preocupar com as declarações sobre opções militares contra Gaddafi.
Vários países da Otan (aliança militar ocidental) estão traçando planos para zonas de exclusão similares às instauradas sobre os Bálcãs nos anos 90, para o caso de a comunidade internacional decidir embargar voos líbios. O modelo é a operação da Otan sobre a Bósnia (93-95).
Mas a Otan só agiria sob mandato da ONU, algo improvável, já que a Rússia, com poder de veto, se opõe.
Nos EUA, o debate esquentou com a pressão vinda do Congresso. O Senado aprovou na noite da última terça medida simbólica que pede à comunidade internacional que considere a instauração do embargo a voos líbios.
Assim como Gates, a secretária de Estado, Hillary Clinton, insistiu em que, por ora, as missões dos EUA são de assistência. Mas reiterou: "Não descartamos nada".
Os navios anfíbios USS Kearsarge e USS Ponce, que chegaram ao Mediterrâneo ontem, se unem a três outras embarcações americanas já posicionadas na região, incluindo dois destróieres.

DEDO NO OLHO
Em discurso de três horas transmitido ao vivo pela TV estatal, Gaddafi afirmou que a Líbia entrará em uma "guerra sangrenta". "Milhares e milhares irão morrer se EUA ou Otan interferirem".
O ditador também disse que vai "enfiar os dedos nos olhos dos que duvidam que a Líbia seja governada por qualquer um que não seu povo". Declarou ainda que não tem como renunciar porque não ocupa cargos como os de rei ou presidente e que o país é governado pelas massas.


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