São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2011

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ONDA DE REVOLTAS

China veta repórteres em manifestação

Decisão, que afeta estrangeiros, sinaliza preocupação de Pequim com contaminação do país por revoltas árabes

Jornalistas recebem visita da polícia, que os adverte de que podem perder visto de trabalho se forem a protestos

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Três dias após agentes de segurança chineses terem detido e agredido correspondentes estrangeiros em Pequim, a polícia informou ontem que está proibido o trabalho jornalístico nas áreas da capital chinesa e de Xangai onde estão marcados protestos pró-democracia.
Ao menos dez jornalistas que estiveram na região de Wangfujing no domingo para cobrir uma fracassada manifestação foram convocados ontem pela polícia.
Na conversa, alguns receberam a advertência de que poderiam até perder o visto de trabalho chinês caso insistam em ir ao local do protesto no próximo domingo.
"A polícia instalou uma câmera e filmou enquanto nos recordava de que precisamos seguir as regras da China para reportagem", escreveu o correspondente da BBC Damian Grammaticas. "Também fomos informados de que precisamos de permissão especial e prévia para gravar entrevistas em vários espaços públicos de Pequim, incluindo Wangfujing."
A exigência de uma permissão prévia para fazer reportagem em Wangfujing era desconhecida antes dos incidentes de domingo. Anteontem, a agência de notícias Associated Press informou ter recebido a permissão, mas ainda assim foi impedida de filmar pela polícia.
Segundo nota do Clube de Correspondentes Estrangeiros da China, "mais de uma dúzia" de jornalistas relataram ter sido "maltratados, empurrados, detidos e retidos por policiais fardados e outros". No caso mais grave, um cinegrafista da Bloomberg foi agredido com chutes e pontapés no rosto e teve a câmera confiscada.
"É absolutamente chocante que, no meio de Pequim, um repórter estrangeiro possa ser chutado e golpeado no rosto e que as autoridades culpem o jornalista, afirmando que ele estava desrespeitando normas", disse o presidente do clube, o australiano Stephen McDonell (TV ABC).
A reportagem da Folha esteve em Wangfujing no domingo e testemunhou vários jornalistas sendo abordados por policiais e agentes à paisana, preocupados principalmente em coibir o uso de câmeras.

AGINDO CORRETAMENTE
No encontro regular com a imprensa na terça-feira, a porta-voz da Chancelaria chinesa Jiang Yu disse que os jornalistas "não tinham motivo" para estar em Wangfujing e que a polícia "agiu corretamente".
O enorme contingente policial usado no domingo e as restrições ao trabalho da imprensa revelam a preocupação de Pequim em não deixar repetir aqui as manifestações do mundo árabe.
A convocação para a "revolução de jasmim" na China foi feita anonimamente num site em mandarim baseado nos EUA. A ideia é realizar protestos em favor de mais abertura em diversas cidades do país todos os domingos às 14h, mas o comparecimento tem sido mínimo até agora.
Na internet, alusões à convocação são rapidamente apagadas pela censura oficial. Palavras como "jasmim", "Egito" e "Cairo" estão com a busca bloqueada em vários sites de discussão.


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