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A MORTE DO PAPA
Polonês Karol Jozef Wojtyla, que liderou católicos por quase 27 anos, morreu às 16h37 (horário de Brasília) em seu apartamento no Vaticano
João Paulo 2º, 84, está morto
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
A agonia do papa João Paulo 2º,
84, terminou na noite de ontem
no Vaticano. "O santo padre morreu nesta noite, às 21h37 [16h37
em Brasília], em seu quarto privativo", anunciou ontem a Santa Sé,
em nota. Às cerca de 70 mil pessoas que acompanhavam o sofrimento do líder da Igreja Católica,
o arcebispo Leonardo Sandri disse: "Nosso santo padre João Paulo
retornou à casa do Pai".
"O procedimento previsto pela
constituição apostólica no "Universi Dominici gregis", promulgada por João Paulo 2º em 22 de fevereiro de 1996 foi colocado em
vigor", conclui o texto do Vaticano, em referência ao trâmite oficial após a morte do pontífice.
A saúde do papa, já debilitada
desde a última década, vinha se
deteriorando de forma mais intensa e rápida nos últimos meses.
Desde que fora submetido a uma
traqueostomia no mês passado, o
pontífice não mais conseguiu recuperar plenamente suas forças.
Horas antes do anúncio, o cardeal Joseph Ratzinger, chefe da
Congregação para a Doutrina da
Fé e, como tal, uma espécie de xerife dos princípios da Igreja Católica, já deixava claro que a morte
era uma questão de algumas horas: "O pontífice sabe que está
passando para as mãos de Deus".
Pelo relato de seu porta-voz Joaquín Navarro-Valls, o papa ainda
travou um diálogo indireto com
os jovens que formavam a maior
fatia do nutrido grupo de fiéis que
varou a madrugada rezando por
ele na praça de São Pedro.
Os jovens, quase todos "Papa
Boys", como são chamados os
militantes das Jornadas Mundiais
da Juventude, perguntavam, cantando: "Que cosa ha venito a cercare?" (Que coisa veio procurar?).
O coro respondia: "Ho venito a
cercare Cristo" (Vim procurar
Cristo). O papa respondeu ao
cântico que, pronunciado no silêncio da praça na madrugada,
devia chegar ao terceiro andar do
Palácio Episcopal, onde ficam os
seus aposentos.
"Vi ho cercato/Adesso siete venuti da me/e per questo vi ringrazio" (Eu os procurei, agora vocês
vieram a mim e por isso lhes agradeço), disse, de forma entrecortada, com imensa dificuldade, conforme a reconstituição que Navarro-Valls fez pela manhã aos
jornalistas, acrescentando que,
"provavelmente", o papa se referia aos jovens, que ele havia procurado (trazer à igreja), que vieram até ele e aos quais agradecia.
O diálogo indireto prosseguiu: a
partir do momento em que as
emissoras de TV e a internet difundiram a frase do papa na boca
de seu porta-voz, o afluxo de jovens à praça aumentou.
A frase, supostamente sobre os
jovens, talvez tenha sido o último
momento de consciência de João
Paulo 2º. Na véspera, circulara a
informação de que o papa perdera a consciência, o que o Vaticano
desmentiu, sem impedir que o
boato (ou o fato) continuasse.
Ontem cedo, no entanto, Navarro-Valls afirmou que, "no
amanhecer de hoje (sábado), foi
observado um comprometimento inicial do estado de consciência" e que "as condições gerais,
cardiorrespiratórias e metabólicas do papa mantêm-se substancialmente sem variações e, portanto, gravíssimas".
Mas o porta-voz fez questão de
dizer que, "tecnicamente", a perda de consciência não significava
que o papa tivesse entrado em estado em coma. "Ele reage sempre
que alguém se dirige a ele", afirmou Navarro-Valls.
Pouco após as 19h (14h em Brasília), um novo boletim mantinha
as mesmíssimas informações sobre o "gravíssimo" estado do papa, acrescentava que ele estava
com "febre alta". O anúncio final
veio duas horas e meia depois.
Os jornais italianos de ontem,
sem exceção, trataram do tema
papa como se João Paulo 2º já estivesse nas mãos de Deus. Cadernos especiais como o de "La Repubblica" ou as 25 páginas de
"Corriere della Sera" já falavam
dos possíveis sucessores, descreviam com detalhes abundantes
como seria o processo para o
anúncio da morte, para o funeral
e para a escolha do novo papa.
Serão nove dias de cerimônias
fúnebres e entre 15 e 20 dias, a partir da morte, para começar o conclave, a reunião do Colégio de
Cardeais (118 no total) que escolhe o papa.
O tratamento de fato consumado para a morte chegou ao ponto
de Vittorio Messori, no "Corriere
della Sera", antecipar o que considera que deveria ser um dos "primeiros esforços" do novo papa:
"instruir o processo de beatificação de Karol Wojtyla". Para a
massa de jovens que afluía à praça
São Pedro, o processo de beatificação parecia dispensável.
Mesmo antes da morte, Karol
Wojtyla já era tratado com a devoção que os crentes dedicam
apenas a seus santos muito queridos. Talvez por isso, os médicos
que cuidam do papa deixaram vazar, à tarde, que o estado do pontífice continuava "gravíssimo",
mas o coração resistia. Na praça, a
jovem polonesa Edwige contava
que viera da capela dedicada à
Madona Negra de Czestochowa,
na basílica de São João Latrão, e
dava sua explicação para a resistência do coração do papa: "A
Madona com o seu manto materno continuará a protegê-lo".
Leia mais sobre o papa na
http://www.folha.uol.com.br/
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