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A MORTE DO PAPA
Citado como um dos favoritos pela mídia italiana, arcebispo de São Paulo
comenta a sucessão e diz que momento histórico decidirá novo pontífice
Para d. Cláudio, novo papa será "diferente"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ainda que se recuse a falar em
seu nome para a sucessão de João
Paulo 2º, o arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, reconheceu ontem que a escolha de um
representante da América Latina
seria um incentivo à adesão de
novos fiéis no continente. Na última década, a evasão foi de 10%.
"Com certeza, o povo ficaria muito feliz e estimulado a consolidar
sua fé", disse d. Cláudio.
Ao longo de todo o dia, ele insistiu, no entanto, em que a questão
geográfica é "secundária". Segundo ele, "a grande responsabilidade" será escolher o "homem que
Deus indicou para estar à frente
da igreja neste momento histórico". Para ele, este é um momento
de "ebulição", sendo um dos
maiores desafios da igreja, além
do combate à pobreza, os avanços
biotecnológicos.
"Será um novo tempo para a
Igreja. Todo papa é diferente do
outro. Cada um cumpre uma missão dentro de certo momento histórico. O novo papa será diferente. O mundo já exige essa diferenciação. A humanidade caminha.
O mundo anda. E a igreja não pode dar respostas velhas para perguntas novas", diz D. Cláudio,
que parte amanhã para Roma.
O arcebispo surge em praticamente todas as listas de principais
candidatos a suceder João Paulo
2º publicadas pelos jornais da Itália. É um dos quatro ressaltados
por Marco Politi, talvez o mais famoso vaticanista italiano. No jornal "Corriere della Sera", d. Cláudio entra na lista de sete favoritos.
Politi diz que "contatos e alianças [entre os cardeais] já estão em
curso há muitos anos, e alguns
blocos até já começaram a se formar" para o conclave. Mas ele
próprio adverte: "Tudo muda
quando o jogo se tornar real".
O jogo está começando a se tornar real: muitos dos cardeais que
formarão o colégio eleitoral já estão viajando para a Roma (são 117
já conhecidos e um 118º mantido
em sigilo, como escolha "in pectore" de João Paulo 2º).
Ficarão juntos durante os "novendiali", os nove dias que duram
as cerimônias fúnebres, e mais
seis ou 11 dias até o início do conclave, sem contar a duração do
próprio conclave.
Tempo suficiente, portanto, para que a eleição do novo papa já
esteja praticamente definida
quando os 118 cardeais forem
trancados à chave na capela Sistina, até que elejam o novo papa.
D. Cláudio, franciscano de 70
anos, é descrito pelos vaticanistas
como defensor de uma linha mais
social para a igreja, embora de
forma mais moderada do que os
"teólogos da libertação".
A lista mais restrita de Marco
Politi começa com Dionigi Tettamanzi, arcebispo de Milão, 71, o
nome que mais assiduamente freqüenta a relação de "papabili". É
um admirador da Opus Dei, o
grupo conservador prestigiado
por João Paulo 2º.
Há uma impressão dominante
em Roma de que a eleição será
controlada do túmulo por João
Paulo 2º, uma vez que ele indicou
114 dos 117 cardeais com direito a
voto e também o "in pectore".
"O próximo conclave será determinado pelos nomeados do
atual papa numa proporção nunca vista desde a morte de Leão 13,
em 1903, quando todos os cardeais eram criação sua, salvo o decano de todos, Luigi Oreglia di
Santo Stefano", diz, por exemplo,
John-Peter Pham, da Universidade James Madison (EUA).
Mas um dos "papabili", d. Cláudio, tem uma explicação menos
político-eleitoral para esse predomínio de indicações do atual papa: trata-se simplesmente de uma
conseqüência de um papado tão
longo (26 anos), o que implica necessariamente indicar grande número de cardeais, o que não significa que todos sigam fielmente a
linha de quem os nomeou.
Concorda com d. Cláudio o jornalista John L. Allen, autor de
"Conclave": "A história sugere
que colégios de cardeais apontados por um papa não elegem uma
cópia-carbono como seu sucessor". Completa: "De fato, a corrida [pela sucessão] está bastante
indefinida, e há fortes razões políticas e burocráticas para esperar
que o próximo sucessor de são
Pedro [o primeiro papa, segundo
a tradição] seja um moderado".
Como "moderado" é um rótulo
que acompanha d. Cláudio, seria
mais um involuntário sinal de
suas possibilidades. Mas o próprio arcebispo de São Paulo costuma repetir um ditado romano,
segundo o qual "quem entra papa
no conclave sai cardeal".
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