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COLÔMBIA
Política de segurança é trunfo para reeleição
Paramilitarismo apóia Uribe, afirma ex-presidente Gaviria
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar da posição confortável
na corrida à reeleição, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, tem
sofrido críticas duras sobre o laço
de sua base política com as AUC
(Autodefesas Unidas da Colômbia), grupo terrorista de extrema
direita envolvido com o narcotráfico e responsável por dezenas de
massacres nos últimos anos.
"A maior parte das pessoas que
têm nexos ou vinculações com os
paramilitares apóia o presidente",
disse à Folha o ex-presidente César Gaviria (1990-4), 59, em entrevista gravada durante visita a São
Paulo, na semana passada. "E ele
não rechaça esse tipo de apoio de
uma forma mais clara e expressa."
Atualmente no comando do
Partido Liberal, o maior da oposição, Gaviria se envolveu com a negociação com os paramilitares
durante o governo Uribe no período em que atuou como secretário-geral da Organização dos
Estados Americanos (1994-2004).
Ele criou a Missão de Apoio ao
Processo de Paz na Colômbia, para acompanhar a desmobilização
das AUC conduzida pelo governo
Uribe desde o final de 2002.
"De alguma maneira, o próprio
processo de paz tem fortalecido a
relação do presidente com eles.
Em geral, são forças de apoio ao
governo", disse Gaviria. "Sempre
me surpreendi com o fato de ele
não tomar distância do tema e
desses personagens. Não é que esse presidente tenha cumplicidade.
Parece, para mim, que ele não toma distância o suficiente."
O processo de desarmamento
das AUC vem sendo considerado
um sucesso por Uribe, que aposta
em sua dura política de segurança
-com forte apoio dos EUA-
como a principal bandeira para
assegurar sua reeleição, cujo primeiro turno será em 28 de maio.
A estratégia tem dado certo. Depois de obter uma expressiva
maioria nas eleições legislativas
de 12 de março, Uribe aparece
com folgados 64,1% das intenções
de voto em pesquisa do instituto
Invamer Gallup, o que evitaria o
segundo turno. O liberal Horacio
Serpa, apoiado por Gaviria, está
num distante segundo lugar, com
19,6%, seguido do esquerdista
Carlos Gaviria, com 9,9%.
"O presidente Uribe encontrou
um país com quase 50 mil terroristas, sem Deus nem lei. Hoje,
mais de 37 mil estão desarmados,
desmobilizados e em processo de
reinserção, que inclui estudo, assessoria psicológica, formação
para o trabalho e reunificação familiar", respondeu à Folha, por e-mail, José Obdulio Gaviria, assessor presidencial .
"Oitenta e dois por cento da
opinião pública, a Igreja (católica), o Congresso, a comunidade
internacional apóiam o desarmamento dos paramilitares e dos
guerrilheiros", diz o assessor.
Parlamentares eleitos
Uma das principais críticas contra o processo de desmobilização
é que, apesar da entrega das armas, a estrutura criminosa e a
imensa riqueza ilícita -obtida
com o narcotráfico e, muitas vezes, lavada por meio da compra
de terras- permanecem intactas.
"A influência do paramilitarismo continua sendo sentida em diversas regiões do país por meio de
pressões, ameaças e acordos clandestinos para controlar aspectos
políticos, econômicos e sociais locais", diz um relatório do Alto Comissariado de Direitos Humanos
da ONU publicado em janeiro.
A influência política paramilitar
-objetivo declarado publicamente por seus líderes- teve
bastante destaque na imprensa
colombiana durante a cobertura
da campanha legislativa.
Sob pressão doméstica e internacional, dois partidos governistas, o De la U (fundado por Uribe,
ex-liberal) e o Câmbio Radical,
expurgaram, em janeiro, cinco
candidatos de suas listas por supostas ligações com os paramilitares. O próprio Partido Liberal,
de Gaviria, afastou um candidato
a senador pelo mesmo motivo.
Apesar da medida, quatro dos
expulsos se recandidataram por
partidos governistas menores.
Dois deles, Habib Merheg e Dieb
Maloof, conseguiram se eleger.
Para Gaviria, cujo partido foi
considerado o grande perdedor
da eleição legislativa, é difícil dizer
se os paramilitares ganharam
mais força na votação do mês passado. "Esse controle é imperceptível. Eles sempre falaram que influenciam 30%, 35% do Congresso. Mas é difícil saber qual peso
eles têm sobre os parlamentares e
o Congresso, porque é de uma
forma clandestina e sub-reptícia."
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