São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2006

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COLÔMBIA

Política de segurança é trunfo para reeleição

Paramilitarismo apóia Uribe, afirma ex-presidente Gaviria

FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da posição confortável na corrida à reeleição, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, tem sofrido críticas duras sobre o laço de sua base política com as AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), grupo terrorista de extrema direita envolvido com o narcotráfico e responsável por dezenas de massacres nos últimos anos.
"A maior parte das pessoas que têm nexos ou vinculações com os paramilitares apóia o presidente", disse à Folha o ex-presidente César Gaviria (1990-4), 59, em entrevista gravada durante visita a São Paulo, na semana passada. "E ele não rechaça esse tipo de apoio de uma forma mais clara e expressa."
Atualmente no comando do Partido Liberal, o maior da oposição, Gaviria se envolveu com a negociação com os paramilitares durante o governo Uribe no período em que atuou como secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (1994-2004). Ele criou a Missão de Apoio ao Processo de Paz na Colômbia, para acompanhar a desmobilização das AUC conduzida pelo governo Uribe desde o final de 2002.
"De alguma maneira, o próprio processo de paz tem fortalecido a relação do presidente com eles. Em geral, são forças de apoio ao governo", disse Gaviria. "Sempre me surpreendi com o fato de ele não tomar distância do tema e desses personagens. Não é que esse presidente tenha cumplicidade. Parece, para mim, que ele não toma distância o suficiente."
O processo de desarmamento das AUC vem sendo considerado um sucesso por Uribe, que aposta em sua dura política de segurança -com forte apoio dos EUA- como a principal bandeira para assegurar sua reeleição, cujo primeiro turno será em 28 de maio.
A estratégia tem dado certo. Depois de obter uma expressiva maioria nas eleições legislativas de 12 de março, Uribe aparece com folgados 64,1% das intenções de voto em pesquisa do instituto Invamer Gallup, o que evitaria o segundo turno. O liberal Horacio Serpa, apoiado por Gaviria, está num distante segundo lugar, com 19,6%, seguido do esquerdista Carlos Gaviria, com 9,9%.
"O presidente Uribe encontrou um país com quase 50 mil terroristas, sem Deus nem lei. Hoje, mais de 37 mil estão desarmados, desmobilizados e em processo de reinserção, que inclui estudo, assessoria psicológica, formação para o trabalho e reunificação familiar", respondeu à Folha, por e-mail, José Obdulio Gaviria, assessor presidencial .
"Oitenta e dois por cento da opinião pública, a Igreja (católica), o Congresso, a comunidade internacional apóiam o desarmamento dos paramilitares e dos guerrilheiros", diz o assessor.

Parlamentares eleitos
Uma das principais críticas contra o processo de desmobilização é que, apesar da entrega das armas, a estrutura criminosa e a imensa riqueza ilícita -obtida com o narcotráfico e, muitas vezes, lavada por meio da compra de terras- permanecem intactas.
"A influência do paramilitarismo continua sendo sentida em diversas regiões do país por meio de pressões, ameaças e acordos clandestinos para controlar aspectos políticos, econômicos e sociais locais", diz um relatório do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU publicado em janeiro.
A influência política paramilitar -objetivo declarado publicamente por seus líderes- teve bastante destaque na imprensa colombiana durante a cobertura da campanha legislativa.
Sob pressão doméstica e internacional, dois partidos governistas, o De la U (fundado por Uribe, ex-liberal) e o Câmbio Radical, expurgaram, em janeiro, cinco candidatos de suas listas por supostas ligações com os paramilitares. O próprio Partido Liberal, de Gaviria, afastou um candidato a senador pelo mesmo motivo.
Apesar da medida, quatro dos expulsos se recandidataram por partidos governistas menores. Dois deles, Habib Merheg e Dieb Maloof, conseguiram se eleger.
Para Gaviria, cujo partido foi considerado o grande perdedor da eleição legislativa, é difícil dizer se os paramilitares ganharam mais força na votação do mês passado. "Esse controle é imperceptível. Eles sempre falaram que influenciam 30%, 35% do Congresso. Mas é difícil saber qual peso eles têm sobre os parlamentares e o Congresso, porque é de uma forma clandestina e sub-reptícia."


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