São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2006

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ESTRANHOS NO PARAÍSO

Em Nova York, dez mil pessoas pedem mudanças na lei que transforma ilegais em criminosos

Imigração causa impasse e protesto nos EUA

Seth Venig-1º.abr.2006/Reuters
Milhares de manifestantes cruzam a ponte do Brooklyn no sábado de manhã em Nova York


RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Neste fim de semana, passeatas aconteceram em vários pontos dos Estados Unidos exigindo mudanças na lei imigratória que está em debate no Congresso. Em Nova York, mais de 10 mil manifestantes participaram de uma longa passeata no sábado.
Eles saíram do Brooklyn, fizeram uma coluna de quase dois quilômetros de extensão que atravessou a ponte do Brooklyn e se concentraram em uma praça na região sul de Manhattan.
Com cornetas, apitos e tambores, descreveu o "New York Times", o barulhento e colorido grupo levava cartazes onde se lia desde "Nós somos sua economia" e "Se você prejudica os imigrantes, prejudica a América" até "Eu limpei o Ground Zero" (em referência à área de Nova York onde ficavam as torres gêmeas do World Trade Center).
Nas últimas duas semanas, desde que a lei começou a ser debatida pelo Senado, ocorrem protestos por todo o país. A primeira versão da lei, aprovada pela Câmara em dezembro, transforma em criminoso o imigrante sem papéis nos Estados Unidos, algo que atingiria cerca de 12 milhões de indocumentados, em sua maioria latino-americanos.
O maior protesto até agora aconteceu no sábado, 25 de março, em Los Angeles, reunindo entre 500 mil e 1 milhão de pessoas.
Anteontem, em Oklahoma City, 5.000 pessoas, na conta de agências de notícias, protestaram contra a proposta da Assembléia estadual de vetar o acesso de imigrantes ilegais a todos os serviços públicos estaduais, incluídos saúde e educação.
"Apesar de toda a pressão dos imigrantes, não está nada certo que a proposta da Câmara será derrotada. A maior parte dos deputados republicanos, que são maioria, quer medidas mais duras", afirma o analista político Michael Barone, colunista da revista semanal "US News". "O fato de boa parte dos manifestantes levar bandeiras mexicanas nas passeatas reforça a idéia de muitos republicanos de que muitos deles não adotaram de fato a América".
Depois das discussões no Senado, o próximo passo para a aprovação da lei será a convocação do Comitê de Conferência, instância do Congresso americano onde senadores e deputados têm que buscar consenso entre o projeto dos deputados e as emendas propostas pelos senadores.
Há três propostas sobre a mesa dos congressistas: a mais dura, aprovada em dezembro pelos deputados, não só transforma em crime a presença do imigrante ilegal como determina a construção de um muro de 1.100 quilômetros de extensão na fronteira com o México e a criação de uma "muralha virtual" com sensores e radares entre os dois países.
A proposta aprovada há uma semana no comitê do Senado é mais suave: aumenta a patrulha na fronteira, mas cria um sistema que permitirá em alguns anos a legalização dos imigrantes que tenham emprego fixo, paguem impostos e multas e aprendam a falar inglês.
Já o presidente George W. Bush, sabendo que o eleitorado hispânico será decisivo nas próximas eleições, apóia uma terceira proposta cujo foco é um programa de trabalhadores temporários "convidados", que, em alguns anos, poderiam requerer cidadania.


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