Bento 16 diz que processo de canonização de seu antecessor progride rápido

Em cerimônia com a presença do presidente da Polônia e de freira que se diz curada pelo papa polonês, Vaticano assumiu trâmite

DA REDAÇÃO

Completou-se ontem, segundo aniversário da morte do papa João Paulo 2º, a primeira fase de seu processo de beatificação, etapa requerida antes de sua canonização.
Em cerimônia realizada na basílica de São João de Latrão, em Roma, dezenas de documentos coletados pela diocese de Roma com estudos sobre a maneira como Karol Wojtyla conduziu o sacerdócio e entrevistas com mais de 120 pessoas acerca de suas ações e condutas foram recebidos pela Santa Sé.
Depositados em quatro baús de couro lacrados com fitas vermelhas e cera, os papéis serão encaminhados à Congregação para a Causa dos Santos, comandada pelo cardeal português José Saraiva Martins.
Como o papa Bento 16, sucessor de João Paulo 2º, dispensou o período de cinco anos que separa a morte do candidato a beato do início do trâmite de beatificação, o processo do papa polonês caminha em velocidade excepcional.
O cardeal Martins, no entanto, afirmou que tocará os procedimentos conforme a praxe, sem apressá-los, a não ser que receba ordens contrárias do papa, diz o site "Catholic News".
Os próximos passos na beatificação de João Paulo 2º são o exame dos documentos pela Congregação para a Causa dos Santos, que emitirá uma opinião sobre a sua dita vida virtuosa, a qual será levada à apreciação do papa Bento 16.
Concomitantemente, uma equipe de cientistas e outros especialistas apontada pela congregação examinará os testemunhos e documentos sobre o suposto milagre atribuído a João Paulo 2º, o caso da freira francesa Marie Simon-Pierre, que afirma ter sido curada de mal de Parkinson após rezar para o papa polonês. "Caberá a eles determinar se é ou não uma cura cientificamente explicável", afirmou o cardeal Martins ao "Catholic News". "Só à luz desse pronunciamento científico uma comissão de cardeais declarará se houve um milagre que se possa atribuir" a João Paulo 2º, completou o sacerdote português.
Depois disso, Bento 16 decidirá se seu antecessor deve ser beatificado. Para a posterior canonização, segundo o direito canônico, mais um milagre tem de ser confirmado.

VIPs
Presentes à cerimônia na basílica estavam não só a freira Simon-Pierre, mas o arcebispo de Cracóvia, cardeal Stanislaw Dziwisz, que foi secretário particular de Karol Wojtyla por cerca de 40 anos e é um grande entusiasta da canonização de seu ex-chefe. "Nós já sabemos que ele é um santo", afirmou o cardeal Dziwisz, que frisou, no entanto, "não ter pressa".
O presidente da Polônia, o conservador Lech Kaczynski, também estava presente. Lech Kaczynski e seu irmão gêmeo, o premiê Jaroslaw Kaczynski, estão à frente de um governo cujas medidas conservadoras têm causado atrito com a União Européia por violarem direitos defendidos pelo bloco. Exemplo é uma lei proposta por seu Ministério da Educação proibindo o ensino da "cultura homossexual" nas escolas.
O processo de beatificação e canonização de João Paulo 2º foi assunto mencionado pelo papa Bento 16 também ontem, pouco após a cerimônia na basílica de São João de Latrão. O papa afirmou, em missa que celebrou na praça São Pedro em memória de seu antecessor, que o processo para torná-lo santo "progride rapidamente".

Santos e beatos
O próprio João Paulo 2º era um entusiasta das canonizações, dado que em seu pontificado 464 pessoas se tornaram santos. Segundo Fernando Altemeyer, teólogo da PUC-SP, dos cerca de 6.700 beatos e santos da Igreja Católica, o papa polonês é responsável pela inclusão de aproximadamente 2.000 nomes. "De longe o papa que mais santos e beatos fez", diz, lembrando que seu pontificado foi longo -28 anos.
Entre os cinco papas que foram canonizados no segundo milênio, o processo de Gregório 7º, papa de 1073 a 1085, levou 499 anos. Já o de Celestino 5º, o mais rápido, durou 17 anos.