São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2007

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Cardeal lidera luta contra união homossexual

JEAN-JACQUES BOZONNET
DO "MONDE", EM BOLONHA

Em 24 de março de 2006, quando o promoveu ao cardinalato, o papa Bento 16 disse ao monsenhor Carlo Caffarra: "Conto com você". E o novo cardeal não o decepcionou. Na batalha que vem sendo travada há alguns anos pela igreja contra o projeto que autoriza uniões civis, incluindo as entre homossexuais, na Itália, defendido pelo governo de centro-esquerda do premiê Romano Prodi, a voz do arcebispo de Bolonha ganhou peso maior do que qualquer outra. Caffarra, 52, criou e dirigiu por 20 anos o Instituto Pontifício de Altos Estudos sobre Casamento e Família, estabelecido em 1981 por João Paulo 2º.
Em Bolonha, Caffarra enfrenta as realidades pastorais de uma diocese industrial e universitária, mais rica e mais laica do que a média. A Emilia Romagna é a região da Itália onde se registram menos casamentos (3,5 matrimônios por mil habitantes).
Retorno da esquerda
Bolonha, governada durante 54 anos pelo Partido Comunista Italiano (PCI), voltou a ter um governo de esquerda em 2005, depois de um pequeno hiato no qual o poder foi exercido pelos democratas cristãos (1999-2005). A cidade se tornou mais burguesa. "A ideologia marxista se concretizou na forma de uma visão individualista da vida em sociedade", analisa o cardeal Caffarra.
De acordo com o cardeal, que considera o projeto de lei "devastador para a família", o Estado deveria ignorar o assunto. "É possível proteger os direitos dos indivíduos sem para isso criar uma instituição como a proposta", diz. Gian Luca Galetti, deputado centrista pela União Democrata Cristã, considera que, "para os casais heterossexuais, é possível resolver os problemas que o projeto pretende enfrentar com algumas modificações cosméticas no código civil".
Mas o verdadeiro problema quanto à nova Lei de União Civil proposta na Itália, destaca Galetti, "é o dos homossexuais". Enquanto dois em cada três italianos defendem que o concubinato seja reconhecido, só um em cada três concorda com as uniões homossexuais. Entre os católicos praticantes, a proporção cai a 7%. Em Bolonha, o assunto é especialmente sensível, porque a capital da Emilia Romagna também é a cidade sede da causa gay. "A igreja age constantemente contra o movimento gay", diz Maurizio Cecconi, representante da Cassero, a mais antiga das organizações de homossexuais da Itália, de 1982.
O cardeal Caffarra privilegia um discurso positivo sobre a família tradicional, em lugar de ataques contra o novo modelo de união. Mas, depois da recente crise do governo Prodi, a urgência se reduziu. O texto do Executivo não é mais o único em estudo pelo Senado, que debate propostas alternativas.
A Igreja optou por uma guerra de atrito, e o movimento gay adotou uma estratégia de lobby. "A lei que será aprovada, mesmo que dentro de dois anos, será melhor do que a atual", avalia o site da Cassero.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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