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Cardeal lidera luta contra união homossexual
JEAN-JACQUES BOZONNET
DO "MONDE", EM BOLONHA
Em 24 de março de 2006,
quando o promoveu ao cardinalato, o papa Bento 16 disse ao
monsenhor Carlo Caffarra:
"Conto com você". E o novo
cardeal não o decepcionou. Na
batalha que vem sendo travada
há alguns anos pela igreja contra o projeto que autoriza
uniões civis, incluindo as entre
homossexuais, na Itália, defendido pelo governo de centro-esquerda do premiê Romano
Prodi, a voz do arcebispo de Bolonha ganhou peso maior do
que qualquer outra.
Caffarra, 52, criou e dirigiu
por 20 anos o Instituto Pontifício de Altos Estudos sobre Casamento e Família, estabelecido em 1981 por João Paulo 2º.
Em Bolonha, Caffarra enfrenta as realidades pastorais
de uma diocese industrial e
universitária, mais rica e mais
laica do que a média. A Emilia
Romagna é a região da Itália
onde se registram menos casamentos (3,5 matrimônios por
mil habitantes).
Retorno da esquerda
Bolonha, governada durante
54 anos pelo Partido Comunista Italiano (PCI), voltou a ter
um governo de esquerda em
2005, depois de um pequeno
hiato no qual o poder foi exercido pelos democratas cristãos
(1999-2005). A cidade se tornou mais burguesa. "A ideologia marxista se concretizou na
forma de uma visão individualista da vida em sociedade",
analisa o cardeal Caffarra.
De acordo com o cardeal, que
considera o projeto de lei "devastador para a família", o Estado deveria ignorar o assunto.
"É possível proteger os direitos
dos indivíduos sem para isso
criar uma instituição como a
proposta", diz.
Gian Luca Galetti, deputado
centrista pela União Democrata Cristã, considera que, "para
os casais heterossexuais, é possível resolver os problemas que
o projeto pretende enfrentar
com algumas modificações cosméticas no código civil".
Mas o verdadeiro problema
quanto à nova Lei de União Civil proposta na Itália, destaca
Galetti, "é o dos homossexuais". Enquanto dois em cada
três italianos defendem que o
concubinato seja reconhecido,
só um em cada três concorda
com as uniões homossexuais.
Entre os católicos praticantes,
a proporção cai a 7%.
Em Bolonha, o assunto é especialmente sensível, porque a
capital da Emilia Romagna
também é a cidade sede da causa gay. "A igreja age constantemente contra o movimento
gay", diz Maurizio Cecconi, representante da Cassero, a mais
antiga das organizações de homossexuais da Itália, de 1982.
O cardeal Caffarra privilegia
um discurso positivo sobre a família tradicional, em lugar de
ataques contra o novo modelo
de união. Mas, depois da recente crise do governo Prodi, a urgência se reduziu. O texto do
Executivo não é mais o único
em estudo pelo Senado, que debate propostas alternativas.
A Igreja optou por uma guerra de atrito, e o movimento gay
adotou uma estratégia de
lobby. "A lei que será aprovada,
mesmo que dentro de dois
anos, será melhor do que a
atual", avalia o site da Cassero.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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