São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2007

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Campanha é por votos da extrema direita

ELAINE SCIOLINO
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS

A campanha presidencial francesa vem sendo dominada por um tema que durante muito tempo foi monopólio da extrema direita: qual é a melhor maneira de ser francês. O candidato conservador, Nicolas Sarkozy, quer criar o ministério da "imigração e identidade nacional", que exija que os recém-chegados ao país adotem os valores seculares do Estado republicano. A candidata socialista, Ségolène Royal, quer que todo cidadão francês guarde uma bandeira francesa no armário para ser exibida em público no Dia da Bastilha.
O candidato de extrema direita Jean-Marie Le Pen, da Frente Nacional, ri ao dizer que os rivais roubaram sua mensagem da "França para os franceses" e, com isso, validaram-na. Faltando 19 dias para o primeiro turno da eleição, a batalha em torno da identidade francesa já passou à frente da discussão de questões mais práticas, como a redução do desemprego. Essa batalha visa em parte desviar votos de Le Pen, que chocou a França ao ficar em segundo lugar no primeiro turno da eleição de 2002.
É também uma tentativa de tranqüilizar os eleitores inseguros, dizendo a eles que a França vai continuar a ser uma potência importante, no momento em que o país perde destaque numa União Européia ampliada e que enfrenta a insatisfação de parte da população de origem árabe e africana. "Resolver a crise de identidade na França é um problema sério, mas tanto Sarkozy quanto Ségolène o trivializaram nessa eleição", comentou o cientista político Eric Dupin. "Ambos jogam com os medos e as emoções baixas das pessoas." Sarkozy, que foi ministro do Interior até a semana passada, vem criticando os imigrantes e seus descendentes, dizendo que é inaceitável que eles queiram viver na França sem respeitar e amar o país.
Ségolène Royal descreveu o plano de criação do ministério "da imigração e identidade" como "vergonhoso", acrescentando: "Os trabalhadores estrangeiros nunca puseram a identidade francesa em risco". "Indecente" foi a reação de Azouz Begag, o ministro da Igualdade de Oportunidades. "Esse é um gancho para atrair as ovelhas desgarradas do rebanho da Frente Nacional." Sarkozy não se abalou. "Quero a promoção de uma cultura comum", disse.
Apesar das críticas que Royal fez a Sarkozy, ela seguiu o exemplo dele, embrulhando-se em seu manto próprio de nacionalismo. Num giro pelo sul da França, que historicamente vota na direita e na extrema direita, Royal pregou o "resgate dos símbolos nacionais". "Ségolène Royal está retomando um terreno freqüentemente abandonado pela esquerda", disse o ex-ministro da Defesa e do Interior Jean-Pierre Chevènement, que apóia a candidatura da socialista.
Sarkozy foi mais explícito. "Desde 1983 temos a extrema direita mais forte da Europa", disse ele. "Quero falar com aqueles que se transferiram para a extrema direita porque estão sofrendo."


Tradução de CLARA ALLAIN


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