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Campanha é por votos da extrema direita
ELAINE SCIOLINO
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS
A campanha presidencial
francesa vem sendo dominada
por um tema que durante muito tempo foi monopólio da extrema direita: qual é a melhor
maneira de ser francês.
O candidato conservador, Nicolas Sarkozy, quer criar o ministério da "imigração e identidade nacional", que exija que os
recém-chegados ao país adotem os valores seculares do Estado republicano. A candidata
socialista, Ségolène Royal, quer
que todo cidadão francês guarde uma bandeira francesa no
armário para ser exibida em
público no Dia da Bastilha.
O candidato de extrema direita Jean-Marie Le Pen, da
Frente Nacional, ri ao dizer que
os rivais roubaram sua mensagem da "França para os franceses" e, com isso, validaram-na.
Faltando 19 dias para o primeiro turno da eleição, a batalha em torno da identidade
francesa já passou à frente da
discussão de questões mais
práticas, como a redução do desemprego. Essa batalha visa em
parte desviar votos de Le Pen,
que chocou a França ao ficar
em segundo lugar no primeiro
turno da eleição de 2002.
É também uma tentativa de
tranqüilizar os eleitores inseguros, dizendo a eles que a
França vai continuar a ser uma
potência importante, no momento em que o país perde destaque numa União Européia
ampliada e que enfrenta a insatisfação de parte da população
de origem árabe e africana.
"Resolver a crise de identidade na França é um problema
sério, mas tanto Sarkozy quanto Ségolène o trivializaram nessa eleição", comentou o cientista político Eric Dupin. "Ambos
jogam com os medos e as emoções baixas das pessoas."
Sarkozy, que foi ministro do
Interior até a semana passada,
vem criticando os imigrantes e
seus descendentes, dizendo
que é inaceitável que eles queiram viver na França sem respeitar e amar o país.
Ségolène Royal descreveu o
plano de criação do ministério
"da imigração e identidade" como "vergonhoso", acrescentando: "Os trabalhadores estrangeiros nunca puseram a identidade francesa em risco".
"Indecente" foi a reação de
Azouz Begag, o ministro da
Igualdade de Oportunidades.
"Esse é um gancho para atrair
as ovelhas desgarradas do rebanho da Frente Nacional."
Sarkozy não se abalou. "Quero a promoção de uma cultura
comum", disse.
Apesar das críticas que Royal
fez a Sarkozy, ela seguiu o
exemplo dele, embrulhando-se
em seu manto próprio de nacionalismo. Num giro pelo sul
da França, que historicamente
vota na direita e na extrema direita, Royal pregou o "resgate
dos símbolos nacionais".
"Ségolène Royal está retomando um terreno freqüentemente abandonado pela esquerda", disse o ex-ministro da
Defesa e do Interior Jean-Pierre Chevènement, que apóia a
candidatura da socialista.
Sarkozy foi mais explícito.
"Desde 1983 temos a extrema
direita mais forte da Europa",
disse ele. "Quero falar com
aqueles que se transferiram para a extrema direita porque estão sofrendo."
Tradução de CLARA ALLAIN
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