|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lugo afirma que Lula está aberto a rediscutir Itaipu
Presidenciável paraguaio relata em Brasília proposta de "mesa ampla de diálogo"
Governo brasileiro se limita a dizer que "não há agenda proibida", em aceno inédito; candidato quer reajuste de preço pago por energia
FÁBIO VICTOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O líder nas pesquisas para
vencer as eleições presidenciais do próximo dia 20 no Paraguai, Fernando Lugo, visitou
ontem o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e deixou Brasília
festejando o que avaliou como
disposição do governo brasileiro para rediscutir a parceria entre os dois países na hidrelétrica de Itaipu. O Palácio do Planalto minimizou a abertura dada por Lula, mas apontou que
não haverá "agenda proibida"
caso Lugo seja eleito.
O ex-bispo de esquerda tem
na rediscussão do Tratado de
Itaipu, assinado em 1973 pelos
dois sócios na usina, uma bandeira de campanha. Ele admite
ser improvável uma revisão do
tratado, que implica acordo entre as partes, mas defende um
reajuste nos preços que o Brasil
paga pela energia que o Paraguai não utiliza ou a possibilidade, hoje vedada, de que esse
excedente seja vendido a terceiros -hipóteses descartadas
pelo governo brasileiro.
"Ele [Lula] disse que está disposto a formar uma mesa ampla de diálogo com técnicos, engenheiros com números; disse
que não se sentia especialista
nisso, e eu tampouco, e que deixaremos que técnicos discutam
e juristas também", afirmou
Lugo, após uma reunião de uma
hora no Planalto, da qual participaram também o chanceler
brasileiro, Celso Amorim, e o
assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Garcia não negou: "Lula disse
que já foram feitos ajustes e
que, se houver problemas a discutir futuramente, técnicos poderão discuti-los. Isso se ele
[Lugo] for eleito presidente, o
que ainda não ocorreu. Não
existe agenda proibida".
Só que, na versão de Lugo, o
tema foi introduzido por Lula.
Na do Planalto, por Lugo.
Dado que todas as manifestações oficiais do Brasil, seja da
direção de Itaipu ou do Itamaraty, jamais abriram brecha para rediscussão dos termos da
parceria, Lugo teve um aceno
inédito do governo brasileiro.
Horas antes do encontro, o
diretor de Itaipu, Jorge Samek,
descartara a possibilidade de
revisão. "O Paraguai está em
campanha, e um dos temas é
como se o preço da energia elétrica estivesse abaixo da média.
Não corresponde à realidade".
Samek disse ainda que Itaipu
faz um projeto para dotar o Paraguai de linha de transmissão
que vai da usina até Assunção, a
custo de U$ 2 milhões. A construção da linha, segundo ele,
deve sair em U$ 200 milhões.
"Lula insistiu muito que o
Brasil tem que ajudar o Paraguai a se industrializar, e isso
implica numa utilização maior
por parte deles da energia de
Itaipu", afirmou Garcia.
No encontro, Lugo deu a Lula
dois livros sobre Itaipu e uma
camisa típica paraguaia. Após
chegar a Brasília, Lugo foi recebido por dirigentes do PT. O
partido emitiu nota em que
"manifesta sua expressa simpatia pela candidatura Lugo".
Fora da foto
A Presidência não permitiu
que veículos de imprensa fotografassem Lula com Lugo, o
que foi permitido na visita do
general Lino Oviedo, concorrente de Lugo e mais alinhado
aos interesses brasileiros.
Segundo o Planalto, só o fotógrafo oficial registrou o encontro pelo fato de o paraguaio ser
candidato na eleição daquele
país. Questionado sobre o que
explicaria, então, o tratamento
diferente a Oviedo, o governo
se limitou a dizer que esta "não
é a prática". Nos bastidores, subordinados de Lula se referiram à permissão dada na visita
de Oviedo como "equívoco".
Colaboraram ELIANE CANTANHÊDE , colunista
da Folha, e LETÍCIA SANDER
Texto Anterior: Reféns das Farc: Governo francês anuncia que já lançou missão por Ingrid Próximo Texto: Cuba: Em evento oficial, intelectuais pedem reflexão sobre censura Índice
|