São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008

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Lugo afirma que Lula está aberto a rediscutir Itaipu

Presidenciável paraguaio relata em Brasília proposta de "mesa ampla de diálogo"

Governo brasileiro se limita a dizer que "não há agenda proibida", em aceno inédito; candidato quer reajuste de preço pago por energia

FÁBIO VICTOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O líder nas pesquisas para vencer as eleições presidenciais do próximo dia 20 no Paraguai, Fernando Lugo, visitou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deixou Brasília festejando o que avaliou como disposição do governo brasileiro para rediscutir a parceria entre os dois países na hidrelétrica de Itaipu. O Palácio do Planalto minimizou a abertura dada por Lula, mas apontou que não haverá "agenda proibida" caso Lugo seja eleito.
O ex-bispo de esquerda tem na rediscussão do Tratado de Itaipu, assinado em 1973 pelos dois sócios na usina, uma bandeira de campanha. Ele admite ser improvável uma revisão do tratado, que implica acordo entre as partes, mas defende um reajuste nos preços que o Brasil paga pela energia que o Paraguai não utiliza ou a possibilidade, hoje vedada, de que esse excedente seja vendido a terceiros -hipóteses descartadas pelo governo brasileiro.
"Ele [Lula] disse que está disposto a formar uma mesa ampla de diálogo com técnicos, engenheiros com números; disse que não se sentia especialista nisso, e eu tampouco, e que deixaremos que técnicos discutam e juristas também", afirmou Lugo, após uma reunião de uma hora no Planalto, da qual participaram também o chanceler brasileiro, Celso Amorim, e o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Garcia não negou: "Lula disse que já foram feitos ajustes e que, se houver problemas a discutir futuramente, técnicos poderão discuti-los. Isso se ele [Lugo] for eleito presidente, o que ainda não ocorreu. Não existe agenda proibida".
Só que, na versão de Lugo, o tema foi introduzido por Lula. Na do Planalto, por Lugo. Dado que todas as manifestações oficiais do Brasil, seja da direção de Itaipu ou do Itamaraty, jamais abriram brecha para rediscussão dos termos da parceria, Lugo teve um aceno inédito do governo brasileiro.
Horas antes do encontro, o diretor de Itaipu, Jorge Samek, descartara a possibilidade de revisão. "O Paraguai está em campanha, e um dos temas é como se o preço da energia elétrica estivesse abaixo da média.
Não corresponde à realidade". Samek disse ainda que Itaipu faz um projeto para dotar o Paraguai de linha de transmissão que vai da usina até Assunção, a custo de U$ 2 milhões. A construção da linha, segundo ele, deve sair em U$ 200 milhões.
"Lula insistiu muito que o Brasil tem que ajudar o Paraguai a se industrializar, e isso implica numa utilização maior por parte deles da energia de Itaipu", afirmou Garcia.
No encontro, Lugo deu a Lula dois livros sobre Itaipu e uma camisa típica paraguaia. Após chegar a Brasília, Lugo foi recebido por dirigentes do PT. O partido emitiu nota em que "manifesta sua expressa simpatia pela candidatura Lugo".

Fora da foto
A Presidência não permitiu que veículos de imprensa fotografassem Lula com Lugo, o que foi permitido na visita do general Lino Oviedo, concorrente de Lugo e mais alinhado aos interesses brasileiros.
Segundo o Planalto, só o fotógrafo oficial registrou o encontro pelo fato de o paraguaio ser candidato na eleição daquele país. Questionado sobre o que explicaria, então, o tratamento diferente a Oviedo, o governo se limitou a dizer que esta "não é a prática". Nos bastidores, subordinados de Lula se referiram à permissão dada na visita de Oviedo como "equívoco".


Colaboraram ELIANE CANTANHÊDE , colunista da Folha, e LETÍCIA SANDER


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