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China oculta repressão a protestos de muçulmanos
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Protestos da minoria muçulmana uigur, na província de
Xinjiang, foram reprimidos e
abafados pelo governo chinês.
Eles aconteceram nos últimos
dias 23 e 24, mas só foram revelados ontem.
A Rádio Free Asia (Ásia livre), financiada pelo governo
americano, noticiou que 600
pessoas se manifestaram contra a repressão religiosa e a falta
de autonomia na cidade de
Khotan, em Xinjiang. Centenas
teriam sido presas, segundo a
emissora, e a cidade está fortemente vigiada pelo Exército.
Nem a TV estatal chinesa
nem os jornais oficiais tocaram
no assunto na última semana.
Apenas uma nota no site da
Prefeitura de Khotan reconhece os distúrbios.
"Um pequeno número de
elementos tentou incitar separatismo, criando distúrbios em
um mercado e até tentando
criar uma revolta", diz o site.
A manifestação na Província
do Noroeste chinês, a 4.000 km
de Pequim, reuniu, em sua
maioria, mulheres muçulmanas que protestavam contra a
proibição do uso do véu e pediam mais autonomia para a região, rica em petróleo e gás.
Uigures contactados pelo
jornal "The New York Times"
disseram não querer falar sobre
o assunto. Mas cidadãos da etnia han, majoritária na China,
contaram que os protestos reuniram pelo menos 500 pessoas.
A tensão em Xinjiang aconteceu dez dias após os violentos
protestos em Lhasa, capital do
Tibete, depois da prisão de vários monges budistas.
Tibetanos e uigures são as
duas minorias étnicas mais
controladas e com menos autonomia da China -em ambas, a
religião é tratada como um problema pelo regime chinês.
"Celebrar feriados religiosos,
estudar textos religiosos ou demonstrar a religião usando véu
ou outros símbolos são proibidos nas escolas públicas. O governo chinês impõe vetos em
quem pode ser um clérigo, que
versão do Corão pode ser utilizada e onde encontros religiosos podem ser realizados", acusa, em nota, a ONG Human
Rights Watch.
Terrorismo
No mês passado, as autoridades chinesas anunciaram que
conseguiram abortar um atentado organizado por terroristas
uigures contra a Olimpíada de
Pequim. Mas jamais deram
maiores detalhes do caso.
No início dos anos 90, uigures em Xinjiang organizaram
grandes protestos, atacando e
assassinando autoridades chinesas. O governo chinês diz que
162 pessoas foram mortas, em
eventos sucedidos por uma violenta repressão na Província.
O governo chinês já acusou
grupos uigures de ter conexão
com a rede terrorista Al Qaeda.
Há 16 milhões de uigures, etnia muçulmana que fala turco,
metade deles na China. Nas décadas de 30 e 40, foi declarada
ali a República do Turquistão
Oriental, mas desde 1949, a região é dominada pela China.
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