São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009

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México reduz suspeitas de mortes por vírus

Testes mostram que avanço de gripe no país foi menos feroz do que o suposto, mas governo mantém medidas de contenção

Tema alimenta pressão sobre governo Calderón, acusado pela oposição de usar medo politicamente antes de eleição legislativa


FLAVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

Após testes de laboratório, o México reduziu drasticamente sua estimativa de mortos em decorrência da gripe A(H1N1), que vinha sendo chamada de gripe suína. O país é o mais afetado pela doença até agora.
O governo mexicano anunciara antes que estimava que 176 mortes haviam sido causadas pelo novo vírus, mas o número foi reduzido ontem a 93 casos, ainda sob investigação.
A cifra de mortes pela doença já confirmada pelo México -e corroborada pela OMS (Organização Mundial da Saúde)- é de 16 pessoas. Ao todo, 443 pessoas comprovadamente contraíram o vírus, de acordo com o governo mexicano.
Mas enquanto a Cidade do México caminha para respirar com menos medo por conta das notícias alentadoras, aumenta a pressão política sobre o governo Felipe Calderón, criticado pela confusão de cifras e pela medidas restritivas adotadas.
Ontem o secretário da Saúde, José Córdova, se defendeu. "Não é invenção. Não dissemos à OMS "reúna seu comitê de emergência e declare fases 3, 4, 5". É absurdo pensar que o México está exagerando para ser protagonista ou [criar] um show." Córdova disse que é precipitado dizer que "o mais complicado já passou", mas falou em "estabilização".
As declarações refletem os ataques de empresários e dos oposicionistas do conservador PRI (Partido da Revolução Institucional) e de parte do desagregado esquerdista PRD (Partido da Revolução Democrática) aos supostos exageros do governo Calderón, do PAN (Partido da Ação Nacional).
A principal crítica é a de que o governo nacional, e também o da capital, governada pelo PRD, lançaram um golpe desproporcional sobre a já afetada economia. Se já se previa recuo de ao menos 4 pontos no PIB de 2009 mexicano, o banco central espera que com a gripe a retração seja 0,5 ponto maior.
As restrições ecoaram no exterior. A China -depois de Cuba, Argentina, Equador e Peru- vetou voos vindos do México, o que arrancou críticas do governo mexicano e a recomendação a seus cidadãos de não viajar ao país asiático.

Eleições
Os epidemiologistas locais, porém, ecoam Córdova. "Não havia como prever o padrão e a agressividade do vírus. Então, as medidas que parecem agora excessivas podem não ter sido", diz Malaquías López, da Universidade do México.
O analista do jornal "El Universal" Salvador Soto García, vê falha do governo em divulgar números não confirmados e depois rebaixá-los
"Criou-se uma sensação de medo que espalha um clima depressivo. E o governo sabe disso e lançou uma ofensiva para tentar conter os danos. São vários golpes juntos: a crise econômica, a violência da luta contra o narcotráfico e agora isso, com impactos também na imagem do México no exterior", disse Soto García à Folha.
A crise da gripe acontece às vésperas das eleições legislativas nacionais de julho, quando a Câmara dos Deputados, com 500 membros, vai se renovar.
Segundo o analista, pode-se imaginar que o problema leve a uma maior abstenção, o que beneficiaria, em tese, Calderón -cuja aprovação foi a 65% com o combate ao narcotráfico e que tem maioria frágil na Casa.
As principais pesquisas de opinião previam, antes da gripe, que o PAN, de Calderón, será ameaçado pelo fortalecimento do também conservador PRI, uma azeitada máquina eleitoral que governou o país por 71 anos, até 2000.


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