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México reduz suspeitas de mortes por vírus
Testes mostram que avanço de gripe no país foi menos feroz do que o suposto, mas governo mantém medidas de contenção
Tema alimenta pressão sobre governo Calderón, acusado pela oposição de usar medo politicamente antes de eleição legislativa
FLAVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO
Após testes de laboratório, o
México reduziu drasticamente
sua estimativa de mortos em
decorrência da gripe A(H1N1),
que vinha sendo chamada de
gripe suína. O país é o mais afetado pela doença até agora.
O governo mexicano anunciara antes que estimava que
176 mortes haviam sido causadas pelo novo vírus, mas o número foi reduzido ontem a 93
casos, ainda sob investigação.
A cifra de mortes pela doença
já confirmada pelo México -e
corroborada pela OMS (Organização Mundial da Saúde)- é
de 16 pessoas. Ao todo, 443 pessoas comprovadamente contraíram o vírus, de acordo com
o governo mexicano.
Mas enquanto a Cidade do
México caminha para respirar
com menos medo por conta das
notícias alentadoras, aumenta
a pressão política sobre o governo Felipe Calderón, criticado pela confusão de cifras e pela
medidas restritivas adotadas.
Ontem o secretário da Saúde,
José Córdova, se defendeu.
"Não é invenção. Não dissemos
à OMS "reúna seu comitê de
emergência e declare fases 3, 4,
5". É absurdo pensar que o México está exagerando para ser
protagonista ou [criar] um
show." Córdova disse que é precipitado dizer que "o mais complicado já passou", mas falou
em "estabilização".
As declarações refletem os
ataques de empresários e dos
oposicionistas do conservador
PRI (Partido da Revolução Institucional) e de parte do desagregado esquerdista PRD (Partido da Revolução Democrática) aos supostos exageros do
governo Calderón, do PAN
(Partido da Ação Nacional).
A principal crítica é a de que o
governo nacional, e também o
da capital, governada pelo PRD,
lançaram um golpe desproporcional sobre a já afetada economia. Se já se previa recuo de ao
menos 4 pontos no PIB de
2009 mexicano, o banco central espera que com a gripe a retração seja 0,5 ponto maior.
As restrições ecoaram no exterior. A China -depois de Cuba, Argentina, Equador e Peru- vetou voos vindos do México, o que arrancou críticas do
governo mexicano e a recomendação a seus cidadãos de
não viajar ao país asiático.
Eleições
Os epidemiologistas locais,
porém, ecoam Córdova. "Não
havia como prever o padrão e a
agressividade do vírus. Então,
as medidas que parecem agora
excessivas podem não ter sido",
diz Malaquías López, da Universidade do México.
O analista do jornal "El Universal" Salvador Soto García, vê
falha do governo em divulgar
números não confirmados e
depois rebaixá-los
"Criou-se uma sensação de
medo que espalha um clima depressivo. E o governo sabe disso e lançou uma ofensiva para
tentar conter os danos. São vários golpes juntos: a crise econômica, a violência da luta contra o narcotráfico e agora isso,
com impactos também na imagem do México no exterior",
disse Soto García à Folha.
A crise da gripe acontece às
vésperas das eleições legislativas nacionais de julho, quando
a Câmara dos Deputados, com
500 membros, vai se renovar.
Segundo o analista, pode-se
imaginar que o problema leve a
uma maior abstenção, o que
beneficiaria, em tese, Calderón
-cuja aprovação foi a 65% com
o combate ao narcotráfico e
que tem maioria frágil na Casa.
As principais pesquisas de
opinião previam, antes da gripe, que o PAN, de Calderón, será ameaçado pelo fortalecimento do também conservador PRI, uma azeitada máquina eleitoral que governou o
país por 71 anos, até 2000.
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