São Paulo, terça-feira, 03 de maio de 2011

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Al Qaeda, fragilizada, ainda é modelo

Para analista, estrutura da rede terrorista, que causa impacto maior que seu tamanho, continuará a ser copiada

O mais provável é que agora os EUA passem a dar mais importância a ações de inteligência, em vez de ação militar


LUCIANA COELHO
EM BOSTON

Os festejos de ontem nos EUA não deixam dúvida de que a morte de Osama bin Laden é um trunfo. A questão que analistas políticos ainda coçam a cabeça para responder, porém, é como ela afeta a chamada "Guerra ao Terror" -dos dois lados.
"[Bin Laden] continuará a viver como um símbolo poderoso", declarou Lawrence Wright, autor do premiado "O Vulto das Torres" (2007), que radiografa o grupo desde suas origens, à rádio NPR.
"A Al Qaeda, mais dia menos dia, vai acabar. Mas o modelo que a Al Qaeda criou, de um grupo terrorista assimétrico capaz de provocar um impacto muito maior do que seu tamanho, este perdurará. Outros grupos tentarão copiá-lo."
A rede terrorista fundada em 1988 pelo milionário saudita desgarrado e pelo médico egípcio Ayman al Zawahiri, seu provável sucessor, criou um tipo novo de grupo terrorista: aquele que opera em franquias.
Quando os ataques do 11 de Setembro foram bem-sucedidos, a cotação da "marca" Al Qaeda disparou. Mais do que em células, "a rede" -nome da organização em árabe- passou a abrigar grupos distintos sob seu nome.
Analistas já contabilizam o AQAP (Al Qaeda na Península Arábica), o AQIM (Al Qaeda no Magreb) e Al Shabab, grupo na Somália ligado à rede. São esses grupos que passarão a ser o foco maior dos EUA daqui por diante, segundo especialistas ouvidos.
"O que chamamos de Al Qaeda é hoje uma rede muito descentralizada, com afiliados que não estão organicamente ligados, mas são inspirados por uma determinada ideologia", disse Angel Rabal, do grupo de estudos de segurança Rand.

PREJUÍZO
O tamanho do prejuízo para a marca Al Qaeda está por ser visto, mas a morte de seu líder coloca os EUA à frente no jogo, ao menos agora.
O repórter e escritor Jon Lee Anderson, que estava no Afeganistão nos meses da criação da Al Qaeda por Bin Laden, lembra que o saudita era visto como uma espécie de divindade.
"Claro que ele será visto como mártir. Bin Laden é o pai espiritual do terrorismo islâmico moderno, e por isso é muito importante, mesmo com toda essa conversa de redução de sua importância operacional", disse à Folha.
"Mas sua morte já fere a "marca" Al Qaeda, exatamente porque seus seguidores o enxergavam como um deus."
Os EUA, por sua vez, devem consolidar o foco e o investimento em operações de inteligência em detrimento às guerras em campo -afinal, foi a inteligência, atuando dentro do Paquistão, que marcou pontos, e não a operação militar no Afeganistão ou na fronteira.
"O presidente terá mais flexibilidade agora e, talvez, possa avançar com coisas que já estavam planejadas, como a retirada do Afeganistão", disse Matthew Bunn, especialista em segurança internacional em Harvard.


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