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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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DIREITOS HUMANOS

Auditoria do Departamento da Justiça diz que os estrangeiros ficaram detidos tempo demais sem acusação

EUA admitem abuso de suspeitos de terror

DA REUTERS, EM WASHINGTON

Estrangeiros detidos nos EUA como parte da investigação sobre os ataques de 11 de setembro de 2001 foram mantidos detidos por tempo demais sem acusação e sujeitos a condições de detenção "excessivamente duras". A conclusão é de uma auditoria do Departamento da Justiça americano, divulgada ontem.
Realizada pelo inspetor-geral do departamento, a auditoria constatou "problemas significativos" no tratamento dado aos 762 estrangeiros detidos por violação das leis de imigração durante a investigação dos atentados.
"Embora nossa auditoria tenha reconhecido os enormes desafios e as circunstâncias difíceis com as quais o departamento se defrontou ao reagir aos ataques, constatamos problemas significativos", disse o inspetor-geral, Glenn Fine.
O relatório, de 198 páginas, focaliza principalmente os centros de detenção no Brooklyn, em Nova York, e em Paterson, Nova Jersey.
De acordo com o relatório, o FBI não fez grande esforço para distinguir entre estrangeiros alvos de investigação por terrorismo e estrangeiros com os quais os agentes topavam por acaso enquanto rastreavam uma pista.
"O FBI deveria ter tomado mais cuidado para distinguir entre estrangeiros realmente suspeitos de terem algum vínculo com o terrorismo e aqueles que, mesmo que possivelmente fossem culpados de violar as leis federais de imigração, não tinham qualquer conexão com o terrorismo", disse.
O relatório diz que as autoridades de imigração não informaram aos detidos sobre as acusações que lhes eram feitas dentro dos prazos normais, afetando sua capacidade de compreender por que estavam sendo detidos e limitando sua possibilidade de obter advogados.
Além disso, o Departamento da Justiça implementou uma política de manter os detidos sob custódia até que fossem liberados pelo FBI. "A política se baseava na idéia -que acabou revelando ser equivocada- de que o processo de liberação pelo FBI seria rápido", diz o relatório. A liberação acabou levando, em média, 80 dias.
Além disso, os presos foram mantidos trancados em suas celas por pelo menos 23 horas por dia, levados de um lugar a outro apenas algemados e com grilhões nas pernas, só podiam dar um telefonema por semana a seu advogado e um telefonema social por mês.
Na prisão do Brooklyn, as autoridades conservavam duas luzes acesas nas celas dia e noite e submetiam os presos a abusos verbais e físicos.
Entre os que ficaram detidos sem acusação estava o brasileiro Khaled Darwich, 21. Filho de egípcios e vivendo em Memphis (Tennessee), Darwich foi levado para a prisão em 20 de setembro de 2001, suspeito de envolvimento com os terroristas que cometeram os atentados. Permaneceu dez meses preso, mas nada foi provado contra ele. "Sofri tortura psicológica. Deixavam-me só, não davam comida, me faziam passar frio", disse, após ter sido deportado para o Brasil, em julho passado.


Colaborou a Redação


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