São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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Chávez volta a mirar Congresso brasileiro

Marcha a favor do presidente venezuelano reúne dezenas de milhares em Caracas; estatais contribuem para o evento

Em discurso a simpatizantes transmitido em cadeia nacional, Chávez acusa legisladores brasileiros de "arremeter" contra seu país

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem que o Congresso brasileiro e outros parlamentos "arremetem contra a Venezuela" e que o Legislativo em Brasília emitiu um "comunicado grosseiro", em nova alusão ao requerimento do Senado pedindo que ele reconsiderasse o fim da concessão ao canal de oposição RCTV.
"O Congresso dos EUA, uma fração do Congresso da União Européia e até o Congresso do Brasil; os jornais do mundo, as emissoras das grandes cadeias -manipuladas por seus donos, representantes da elite mundial, que pretendem impor aos povos sua vontade imperial-, arremetem contra a Venezuela", disse Chávez, em discurso a simpatizantes transmitido em cadeia nacional de rádio e TV.
Minutos depois, diria: "No Brasil, a comissão do Congresso emite um comunicado grosseiro que me obriga a responder. Não aceitamos de ninguém ingerência nos assuntos internos da Venezuela". E ainda: "Não me importa ser catalogado por esses poderosos meios de comunicação em seus espaços dominados pela elite. Que me chamem de tirano, que me comparem a Hitler, Mussolini (...). O que me importa é a dignidade do povo da Venezuela".
Antes, Chávez chamara o Congresso brasileiro de "papagaio" de seu análogo americano -atitude repudiada pelo governo Lula (leia texto na pág. A23).

Marcha de apoio
Um dia após proibir uma marcha contra o fechamento da RCTV, o governo lançou mão ontem da máquina estatal para promover uma manifestação que reuniu dezenas de milhares de pessoas (não há estimativas confiáveis) em favor do fim da concessão da RCTV, fora do ar desde o último domingo.
A "marcha vermelha" pró-Chávez partiu da zona leste da cidade rumo ao centro. A maioria dos participantes era de funcionários públicos e filiados a programas sociais do governo. Órgãos estatais contribuíram com carros de som e ônibus para os participantes, disseram manifestantes à Folha.
Alguns tinham a identificação oficial, como um caminhão de som do governo metropolitano de Caracas. A reportagem ainda identificou caminhões da Ipostel (correios), do Seniat (fisco), do Instituto Venezuelano de Seguro Social, da PDVSA (petroleira) e da Conatel (reguladora das telecomunicações).
Do carro de som conduzido e seguido por funcionários da TV Telesur, o locutor gritava: "O povo diz e tem razão/agora é a vez da Globovisión", citando a única emissora crítica ao governo. A concessão da Globovisión só vence em 2011, mas o canal é investigado após o governo acusá-lo de incitar o assassinato de Chávez.
Indagado pela reportagem sobre o uso da máquina estatal, o presidente da Telesur, Andrés Izarra, disse que o aluguel do carro fora "rateado entre funcionários". Irritado, disse: "O que você quer dizer? Que isso deslegitima a marcha?".


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